Que atire a primeira pedra quem não fez pelo menos alguma mudança em casa neste período de pandemia. Quem não trocou algum móvel de lugar, comprou algo novo ou sentiu a necessidade de fazer do lar um lugar mais aconchegante. Tudo isso tem, claro, uma grande explicação: nunca passamos tanto tempo em casa tendo que conviver da forma mais íntima e muitas vezes até solitária com nosso “home sweet home”. E é aí que entram as plantinhas e as hortas.

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No mês de maio de 2020 os termos “horta em casa” atingiram picos de pesquisa no Google, chegando a ficar em quarto lugar entre os assuntos mais procurados. Ou seja, dois meses depois do início da pandemia era grande o número de pessoas buscando ajuda para começar ou intensificar a presença de plantas, flores e hortas em casa. O interesse não se restringiu ao início do período de isolamento. Em Santa Catarina, as pesquisas na internet seguiram em alta, com picos entre os termos mais buscados em outubro e novembro.

A arquiteta paisagista Poliana Ribeiro Gudiel percebeu o crescente interesse, principalmente por plantas ornamentais para espaços com pouca luminosidade tipo as samambaias, as suculentas. E também pelos temperinhos verdes e aromáticos para hortas como alecrim, manjericão, tomilho, salsinha e hortelã, tomate cereja.

– Com o isolamento social as pessoas passaram a ter mais tempo dentro de casa e acabaram se conectando mais com os espaços, buscando melhorar a qualidade do ambiente por meio de decoração e de plantas. As plantas dentro de casa criam uma atmosfera mais viva e agradável para se estar, além de ser interessante poder acompanhar o crescimento e desenvolvimento delas – diz Poliana.

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A arquiteta paisagista Poliana Ribeiro Gudiel e as plantas em casa, no bairro Campeche, no Sul da Ilha, em Florianópolis (Foto: Diorgenes Pandini)

Mas manter as plantas saudáveis e bonitas exige mais que pesquisas na internet, é preciso cuidado e dedicação! Poliana sugere a criação de uma rotina:

– Crie uma rotina de regas ou cuidados para as plantas duas ou três vezes na semana, tire pelo menos meia hora para jardinagem. Observe sempre se a planta precisa de regas mais ou menos frequentes, se o local escolhido este muito ensolarado ou pouco iluminado – diz.

Para quem está começando, a dica da profissional é escolher aquelas plantas que exijam menos manutenção, como os filodendros, as samambaias, as peperômias e as Zamioculcas. 

“Foi uma forma de controlar minha ansiedade na pandemia”, diz professora

Desde março, a professora de português da rede municipal de Florianópolis, Luiza Hypólito, teve que se desdobrar e se reinventar pra atender os alunos do ensino fundamental de forma remota, com aulas virtuais. Em meio a isso, a distância da família que mora no Rio Grande do Sul e a apreensão em meio a uma pandemia foram gatilhos pra despertar a ansiedade e estresse na jovem de 30 anos.

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Ela diz que sempre gostou de plantas e até tinha algumas. Mas foi nos meses de reclusão que sentiu mais necessidade de ampliar a espaço verde na casa onde mora no bairro Rio Tavares, no Sul da ilha, em Florianópolis. E aí vieram, samambaiais, suculentas, cactos, folhagens, joboias, as flores e muita felicidade! 

– Estando em casa pude acompanhar os processos, de brotagem, floração das plantas. A cada dia tinha uma mudança. Fora da pandemia eu não conseguia acompanhar esses processos, essa conexão não era tão próxima. Estar em contato com as plantas, com as necessidades me acalma, me ajuda a controlar a ansiedade, o estresse, e ainda faz com que eu entre em reconexão com a natureza. Acho que hoje estamos muito distantes dela – conta Luiza.

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Luiza Hypólito e as plantas do jardim que ela ampliou durante a reclusão por conta da pandemia (Foto: Arquivo Pessoal)

E ela vem tendo sucesso duplo, com as plantas e no controle da ansiedade e do estresse. Ao acompanhar o desenvolvimento de cada planta consegue perceber o que cada uma mais gosta, e respeitar os ciclos, como por exemplo a floração.

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– Cada planta tem seu funcionamento, cada uma prefere um lugar da casa, com mais ou menos sol, nem sempre é fácil entender essas nuances, mas é preciso estar sempre observando – explica Luiza. 

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Mudança de hábito que reflete nas vendas

O crescimento do interesse pelas plantas veio em ótima hora para quem trabalha no mercado de floriculturas e comércio de folhagens. Muitas empresas que tiveram que demitir funcionários no início da pandemia conseguiram retomar o faturamento e as vendas em até 35%.

Na Grande Florianópolis, um loja especializada no ramo viu as vendas que quase zeraram em março voltaram a subir a partir de maio, e superaram a meta de vendas em agosto, setembro e outubro. É o que conta o o diretor administrativo do estabelecimento, Valdecir Junkes.

Com o aumento na procura, a loja fechou o ano desafiador com novas contratações e boas perspectivas para 2021.

– O consumidor mudou na pandemia, começamos a receber mais aquelas pessoas que não sabiam nada de plantas, que estavam começando do zero e ao mesmo tempo queriam saber tudo sobre como manter suas plantas, como plantar, que vasos utilizar, quantas vezes por semana regar. O comércio de plantas, folhagens, vasos, adubos teve esse crescimento. Mas ao mesmo tempo, nas flores para arranjos e decoração de eventos o problema continua, sem os aniversários, eventos e confraternizações – pondera Junkes.

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