Quase três anos do início da pandemia de Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que o período está próximo do fim. Segundo a entidade, a expectativa é de que o cenário pandêmico termine ainda em 2023, puxado pela queda no número de internações e aumento na cobertura vacinal. Especialistas de Santa Catarina acreditam que o momento é de transição, mas alertam para a subnotificação de casos, que podem passar a falsa sensação de erradicação da doença.
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Em março de 2022, o panorama da doença era bem diferente do que em 2023. Puxados principalmente pela circulação da variante ômicron, em 28 de fevereiro, Santa Catarina acumulava 19.046 casos ativos de Covid-19 — número que chegou a 80.251 no pico das infecções. Um ano depois, a queda é significativa. De acordo com dados do Painel do Coronavírus do NSC Total, em 26 de fevereiro deste ano, eram 1.739, uma queda de 97%, mesmo após o Carnaval.
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Outro dado que também apresentou queda é o de mortes. Entre 1º e 26 de fevereiro de 2022 foram 718 vítimas no Estado. Neste ano, no mesmo período, a quantidade de óbitos caiu para 21, conforme o Painel do Coronavírus.
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Por outro lado, o número de internações segue um patamar de estabilidade em fevereiro, com uma média de 8 hospitalizações diárias.
Casos ativos em SC
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Apesar disso, em janeiro a OMS manteve a Covid-19 como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, considerando que ela constitui um risco para outros países por meio da disseminação global e potencialmente requer uma resposta mundial coordenada. Porém, ao Diário Gaúcho, a entidade informou que a pandemia está em um “ponto de transição”, mas que “precisava ser conduzida com cuidado”.
Ou seja, ainda é preciso vacinar 100% os grupos de maior risco, além de aumentar o acesso a testes e ao uso de antivirais, tomando medidas específicas, e combater a desinformação. Isso, segundo a organização, daria condições para uma melhora ainda mais significativa do cenário.
Ao jornal O Globo, a líder técnica da OMS, Maria Van Kerkhove, afirmou, porém, que é esperado que a emergência global termine ainda este ano.
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— Mas certamente estamos indo na direção certa. Temos ferramentas que podem salvar vidas, como no atendimento clínico com antivirais e outras terapias, e com as vacinas, que são seguras e eficazes para prevenir doença grave e as mortes. Se as pessoas recebem o reforço e doses adicionais, sabemos que esse nível de proteção permanece muito alto por algum tempo. Então, estamos em um estágio diferente, nunca estivemos tão perto de acabar com a emergência — diz.
Especialistas ouvidos pelo NSC Total também concordam que o momento é de transição. De acordo com a infectologista Carolina Ponzi, o que pode ocorrer com a Covid-19 é algo semelhante ao que aconteceu com outras doenças, como a Influenza A/HN1, em 2009, e da AIDS, na década de 1980.
— É um cenário plenamente possível, como já ocorreu com outras pandemias. Significa que se chegou em um patamar em que as mortes e hospitalizações estão no menor nível possível, e que o sistema de saúde é capaz de lidar com os casos de maneira sustentável — pontua.
A epidemiologista e presidente da Comissão de Monitoramento Epidemiológico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandra Boing, também salienta que o comportamento atual do vírus é diferente, porém alerta para a subnotificação.
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— O cenário epidemiológico presente é mais favorável que o observado nos últimos meses, mesmo que esteja marcado pela subnotificação de casos. O vírus circulante é mais transmissível, mas na população com algum grau de proteção, tem sua gravidade diminuída. Isso mostra que as vacinas continuam dando uma boa resposta na proteção de internações e casos graves, associada a uma normalização de sintomas respiratórios e baixa testagem. É importante destacar que ainda há pessoas ficando doentes e morrendo de Covid-19 — diz.
Esta falta de noção do atual cenário, inclusive, é visto com um impedimento para o decreto de um possível fim da pandemia para o infectologista Amaury Mielle. Segundo ele, sem dados concretos de infectados, é difícil definir um critério para a transição.
— O grande problema é que nós temos muita pouca notificação e não temos, na verdade, uma atualização do número de novos casos. Não daria hoje para dizer que a gente está saindo da pandemia, porque todos os países continuam registrando casos. Talvez o que o pessoal quis traduzir é que haveria uma tendência de que os casos se tornariam menos graves e se mesclariam a vírus normais, sazonais, com essas viroses respiratórias — explica.
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Qual a diferença entre endemia e pandemia?
Mas, o que muda na prática se o vírus da Covid-19 deixar de ser pandêmico? Em tese, ele ganha esse termo por se manifestar em locais restritos e pelos órgãos de saúde terem uma maior capacidade de controle da doença, como explica o médico infectologista e professor da Univille, Tarcisio Crocomo.
— A questão de ser pandemia é a denominação da doença infecciosa ocorrendo em praticamente todas as regiões geográficas. E a epidêmica seriam locais mais restritos com a ocorrência de casos. Isso é importante, em ambas as situações, para medidas de controle geral de doenças, deslocamentos, comercialização de insumos e alimentos, por exemplo. Ou seja um local considerado em estado de epidemia tem a doença em atividade, porém regionalizada. São conceitos importantes para rastreamento e dados epidemiológicos para ações de controle — explica.
A epidemiologista Alexandra Boing complementa, ainda, que a situação de pandemia também facilita a aquisição de recursos por parte dos países para enfrentamento da doença, uma questão que deve ser analisada ao fim do período.
— Na prática muda o suporte aos países, como importar vacinas a preços mais baratos, receber doações de vacinas, de medicamentos e de outros insumos para o enfrentamento da doença. O que é extremamente importante em países que são mais pobres e que, inclusive, ainda continuam tendo suas populações com dificuldade no acesso ao imunizante contra a Covid-19. Entretanto, a OMS junto com outras instituições internacionais, com o decreto em vigor, deverão usar outras estratégias para conseguir dar suporte para estes países — salienta.
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Covid longa também deve ser analisada
Apesar da melhora no cenário de infecções, especialistas alertam para outro ponto que pode trazer complicações futuras, inclusive nos sistemas de saúde: a Covid longa. A estimativa, segundo o infectologista Amaury Miele, é de que mais de 600 milhões de pessoas possam estar vivendo com o pós-Covid.
— Ela pode ser desde casos leves até uma doença debilitante, como falta de memória. O pós-covid, este sim acaba se tornando um problema de saúde pública, o que faz as pessoas procurarem mais médicos e afeta a qualidade de vida — explica.
Por conta disso, a residente da Comissão de Monitoramento Epidemiológico da UFSC, Alexandra Boing, reforça a importância de monitorar a situação da doença.
— No Brasil não se conhece a magnitude exata da Covid Longa, mas se sabe que ela pode afetar diversos órgãos e impactar negativamente a qualidade de vida dos sobreviventes. Importante destacar que nesta doença precisamos continuar monitorando, informando a população, aumentando acesso a testagem, disponibilizando antivirais e combatendo a desinformação — pontua.
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A medida que continua sendo fundamental para o controle das infecções é a vacinação. Nesta segunda-feira (27), Santa Catarina iniciou a aplicação das doses da vacina bivalente nos grupos prioritários. O objetivo do imunizante é oferecer uma proteção extra contra a variane Ômicron.
— A vacina bivalente inclui, além das primeiras variantes do vírus, a Ômicron que vem predominando nos casos atuais. Ou seja uma vacina com uma proteção maior. A vacinação mesmo sem a inclusão da Õmicron foi muito importante no combate a doença, e a inclusão dessa variante aumenta essa capacidade de proteger ainda mais a população em geral — explica o infectologista Tarcisio Crocomo.
A campanha vai até abril e ocorrerá em etapas, conforme o calendário:
- Fase 2: pessoas de 60 a 69 anos de idade (previsão de início 06/03/2023);
- Fase 3: gestantes e puérperas (previsão de início 20/03/2023);
- Fase 4: trabalhadores da saúde (previsão de início 17/04/2023);
- Fase 5: pessoas com deficiência permanente com 12 anos ou mais, população privada de liberdade, adolescentes cumprindo medida socioeducativa e funcionários do sistema de privação de liberdade (previsão de início 17/04/2023).
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