Jibril Rajoub foi uma das autoridades palestinas que visitaram o escritório diplomático brasileiro em Ramallah para assinar o livro de condolências aberto pela morte de Pelé. Ministro dos Esportes e da Juventude, Rajoub adorava o mítico jogador, morto em 29 de dezembro.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
Foi ali que se aproximou do embaixador Alessandro Candeas, que lidera a delegação brasileira na Cisjordânia, e levantou a bola: queria homenagear o craque dando o nome dele a um campo de futebol.
O plano se materializa neste dia 14 com a inauguração do Estádio Internacional Pelé. Fica nas imediações de Belém -onde Jesus nasceu, segundo a narrativa bíblica.
O estádio já existe, com o nome de al-Khader — que é o nome da região onde ele fica. Foi inaugurado em 2007 com capacidade para abrigar cerca de 6 mil pessoas. Agora, vai ser rebatizado como Pelé.
Os times olímpicos de futebol da Palestina e da Jordânia vão disputar uma partida amistosa durante o evento. O escritório diplomático do Brasil deve organizar uma caravana de brasileiros para assistir ao jogo.
Continua depois da publicidade
Da promessa para o pai à realeza: Pelé marcou a história do futebol
Está prevista a presença de Gianni Infantino, presidente da Fifa, que recentemente disse que todo país deveria ter um estádio com o nome de Pelé. Lugares como Cabo Verde já seguiram essa sugestão.
— Pelé foi um ícone, uma lenda — diz Rajoub.
O ministro afirma ter se encontrado com o jogador diversas vezes, incluindo em 2014, durante a Copa do Mundo no Brasil.
— Fiquei impressionado com sua simpatia pela nossa causa — diz, referindo-se aos esforços palestinos para criar seu Estado.
A Cisjordânia está hoje sob ocupação israelense.
O batismo do estádio em Belém faz parte de um processo mais amplo de estreitamento das relações entre as autoridades brasileiras e as palestinas. Para o embaixador Candeas, o futebol pode ser um de seus principais eixos diplomáticos.
Continua depois da publicidade
Brasileiros e palestinos negociam há quase dois anos um memorando de cooperação técnica na área do futebol. O acordo não foi adiante durante o governo de Jair Bolsonaro, que se aproximou dos israelenses e se afastou dos palestinos. A expectativa é de que, agora, na gestão de Lula, o texto possa ser assinado em breve.
— Queremos fazer um intercâmbio de atletas, de treinadores e até de dirigentes para estruturar uma liga e um campeonato palestinos — diz Candeas.
— Um dos meus sonhos, aqui, é que o Brasil possa ajudar os palestinos a ter seleções competitivas de futebol, tanto masculina quanto feminina — afirma. Ele está no posto desde o fim de 2020.
O memorando a que o embaixador se refere pode se desdobrar em apoio concreto, como a construção de quadras e aquisição de material. Mas a ênfase, por ora, é essa transferência de experiência.
Continua depois da publicidade
— O pessoal adora o Brasil aqui — diz Candeas.
Ele conta que, durante a última Copa, o escritório diplomático até ajudou a montar uma torcida organizada — hoje, há cerca de 6.000 brasileiros morando nos territórios palestinos. O embaixador chegou a viajar ao sul da faixa de Gaza para acompanhar um dos jogos da Seleção.
A inauguração do Estádio Pelé ocorre na véspera do aniversário de 75 anos da Nakba, o nome dado pelos árabes à criação do Estado de Israel em 1948, que resultou na expulsão e fuga de 700 mil palestinos. A palavra significa “desastre”. É nesse sentido uma perspectiva inversa à de Israel, que celebra o que considera uma data-chave de sua autodeterminação.
— Acredito que, por meio do esporte, podemos expor o sofrimento do nosso povo e os nossos valores — diz Rajoub, sobre o fato de batizar o estádio bem nestes dias.
O convite para a inauguração do campo, encaminhado à reportagem, inclui uma citação atribuída a Pelé: “Quanto mais difícil é a vitória, maior é a felicidade de ganhar”.
Continua depois da publicidade
Como no restante do mundo, o jogador tem fama de lenda no Oriente Médio. Ele chegou, inclusive, a visitar o Líbano em 1975, jogando um amistoso com o time Nejmeh, em Beirute.
A partida aconteceu dias antes do início da Guerra Civil Libanesa, travada até 1990. Existe inclusive um rumor -nunca confirmado, mas não por isso esquecido-de que a presença do jogador brasileiro fez com que milícias largassem as armas por alguns dias e se unissem em uma celebração uníssona do craque Pelé.
*Reportagem por Diogo Bercito