Sessenta e quatro anos de espera para voltar a sediar uma Copa do Mundo e chegou a tão sonhada hora. O palco do retorno do Mundial ao país do futebol está prontinho, “engalanado” como se diria na década de 50? Infelizmente, a resposta é não. Felizmente, dá para esclarecer uma grande dúvida que houve até poucos dias: vai ter Copa. Mas…

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São Paulo, a capital econômica do país, não está pintada, enfeitada, com a população na grande maioria empolgada. Há timidez nas ruas, nos prédios, na forma como o povo paulista vai abrir os braços para o abre-alas do filé-mignon do futebol.

Para quem não conhece São Paulo, o Itaquerão é periferia. O trajeto para se chegar lá não é belo. Não saltam belezas aos olhos do visitante que se dirigir ao estádio. Pelo contrário, há um cinturão de favelas, que expõe muito bem a realidade do Brasil.

No jogo de estreia do estádio paulista, em maio, torcedores enfrentaram tumulto para descolar ingressos e assistir partida entre Corinthians e Figueirense. Foto: Mauro Horita/Estadão Conteúdo.

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O próprio entorno do estádio que vai abrir a Copa, por incrível que pareça, não está pronto. Uma das principais avenidas de acesso está em obras e não vai ficar aberta para ajudar na infraestrutura viária. O próprio estádio não foi testado devidamente.

Um exemplo simples é a zona de imprensa, que recebe milhares de homens de mídia. A equipe do Diário Catarinense ficou presa no elevador que levava à coletiva do Felipão. O funcionário disse que os elevadores apresentavam problemas técnicos frequentes. O wireless disponível para a imprensa caiu frequentemente. E o sistema de telefonia 4G funcionava somente num raio bem restrito. Imagina quando o mundo estiver tentando falar deste pedacinho de Brasil para emplacar no planeta? Pode dar problema.

Manifestações de torcedores estão contidas

Taxistas falam que temem levar passageiros ao Itaquerão. Bom, se a presidente do país, Dilma Rousseff, cogitou não estar presente e disse que se for ao estádio será “em segredo”, se pode ter ideia do que ocorre por São Paulo.

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A situação é a seguinte: nas redes sociais, nas rádios paulistas e na mídia taxistas com medo de manifestações só estarão disponíveis se ao longo do dia sentirem a cidade tranquila; metroviários ameaçam parar o metrô novamente; a polícia com um efetivo de 4 mil homens, mais pelotões do Exército, está de prontidão; as ruas estão sem decoração e bares também – pelo mesmo medo que têm os taxistas. E a Gaviões da Fiel avisa: “Se tentarem chegar no estádio do Curintia, o pau vai comer (sic)”.

Este quadro está tão longe do ideal quanto os 64 anos de espera. A preparação do país não foi a esperada, o comportamento dos organizadores também não, a realidade está aí…

Manifestações contra Copa do Mundo transformaram área do Itaqueirão em campo de guerra em diversos momentos no último mês.

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Mas os visitantes, os estrangeiros e a própria Seleção serão muito bem tratados, garantem os próprios paulistas. Então, aquele pacto não escrito de que o brasileiro será gentleman, mas não será ufanista, parece ser o lema paulista. Se vai se espraiar pelo resto do país não parece ser algo certo, mas São Paulo vai tentar ditar este padrão.

O fantasma de 1950, da Copa perdida, quer comprar ingresso. Se vê que o país ama o futebol, mas seu povo não mergulhou nesta Copa de corpo e alma. Passeata com 50 mil protestando? Confrontos com a polícia? Podem ocorrer, mas não chegarão perto do estádio. Há muito planejamento para evitar algo assim. Mas…

Mas no Itaquerão, no cheio de improvisos Itaquerão, tirando vaias à presidente (dado como certo em São Paulo), para Felipão, Neymar e companhia haverá apoio incondicional.

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Paralisações e confusão nas cidades-sede ameaçam tranquilidade durante a Copa. Na semana passada, passageiros entraram em confronto com grevistas do metrô de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo

Opinião:

“Ainda vejo pouca empolgação nas ruas”

Ivo Müller, ator e colunista do DC

Chegou o dia em que grande parte do mundo vai estar de olho no que acontece na Pauliceia. Sampa, essa terrinha maluca, selva de pedra que já foi cantada por Caetano, Demônios da Garoa, Paulo Vanzolini, Criolo, Emicida e tantos outros, hoje terá imagens enviadas ao vivo para todo mundo, a todos que acompanham o nosso esporte favorito.

Ainda vejo pouca empolgação nas ruas, poucas bandeiras nos carros, menos ainda nas janelas dos prédios. Vamos esperar, por maior que seja a indignação com tudo o que não ficou pronto, metrô que pouco caminhou, transporte público precário e políticos que vão passar a Copa fazendo campanha, é difícil não torcer, mesmo dizendo que não se está nem aí para a Seleção.

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O que esperar? Que ninguém chame o Itaquerão de Arena, não combina. Vitória do time de Felipão, mas com retranca. Uruguai indo muito bem, movido pela história, Argentina se sentindo em casa, torcida pela Alemanha em Santa Catarina, torcida portuguesa e italiana em São Paulo e a vontade de estar na mesa do tal bar italiano que servirá chope grátis a cada gol de Balotelli.

Opinião:

“Estou impressionado com a recepção”

Alisson Francisco, repórter da RBSTV cedido ao SporTV/Globo

Mais uma vez o Brasil deu “um jeitinho” para receber a Copa. Não ficou tudo pronto? Não, não ficou. Mas o povo abraçou o Mundial. Não só a Seleção nacional, todas as equipes. Estou impressionado com a recepção e o carinho da torcida. É muito legal ver pessoas de nações diferentes falando uma língua universal, o dialeto da bola.

Aos poucos a vergonha pelos atrasos é substituída pelo orgulho de ser brasileiro. A nossa Copa não será a mais organizada, mas com certeza vai ser a mais alegre.

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