Onde qualquer pessoa enxerga uma frota de bicicletas, Paulo Lima vê uma série de histórias. São conjuntos de rodas, pedais e engrenagens acumulados na pequena garagem, com peso inversamente proporcional à leveza e à serenidade do dono coleção.
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O advogado de 62 anos, nascido em Rio Grande, mora em Canoas desde 1984.
A coleção atingiu 237 unidades até a última contagem. A primeira foi uma Caloi Ceci comprada para a filha. Mas não era essa a magrela que o seduzia. Lima é um homem das clássicas, de rodas grandes, aro 28. Como a que viu nas mãos do pai, ainda na década de 1940: uma Raleigh preta, inesquecível.
– Acho que duas coisas me fizeram ter essa coleção: a vontade de preservar a história e por que não tive uma bicicleta quando criança. Só fui ter a minha depois de marmanjão – relata o colecionador.
Nessa questão, Lima antecipa: não é um acumulador de qualquer bicicleta. Tem predileção pelas tradicionais, com largo trapézio no eixo, como as britânicas Humber. Em festivais no Brasil ou mesmo no Exterior, prefere comprar modelos de países dos quais ainda não tem nenhum exemplar.
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Lima não precisa verificar a legenda para descobrir a procedência e marca:
– Fico sabendo se a roda é alemã ou inglesa só de olhar. Se vejo uma finlandesa, tenho aquele imenso ímpeto de comprar. Como dizia um antigo leiloeiro, “se arrependa com ela em casa”.
Lima não tem um limite para concluir sua coleção. Faltam ainda muitos modelos, porém tem exemplares importantes. É um dos poucos no mundo dono de uma Mitsubishi japonesa feita com peças de avião usado na II Guerra Mundial. A xodó é uma senhora de quase 130 anos: Columbia, arrematada pelo irmão em leilão.
– Há bicicleta que tirei de cima de caminhão do ferro-velho, outras que comprei por quilo. Se não tivesse feito isso, teriam virado prego – conta.
Diretor financeiro do Sindicato dos Conferentes de Carga, em Porto Alegre, Lima usa o seu tempo livre para participar de grupos que defendem o uso da bicicleta como meio de transporte. O Pedala Canoas, uma das iniciativas das quais faz parte, foi criado com esse intuito. Sonha com o tempo em que não haverá divisões entre os espaços utilizados pelos pedestres, ciclistas, motociclistas ou motoristas de veículos:
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– A bicicleta, no Brasil, sempre foi do pobre, usada para trabalho. Hoje, chegou à elite. O problema é que quem consegue ganhar um pouquinho mais já compra uma moto.