Na derrota de sábado na Ressacada para o Brusque, no primeiro jogo da temporada 2020, um fato ficou marcado ainda mais do que a decepção do resultado. Ao final da partida, o presidente do clube bateu boca com um torcedor avaiano que o cobrou, e o vídeo circulou rapidamente nas redes sociais. Neste, o presidente afirmou que este torcedor não paga “um terço do salário dos jogadores”, e dizendo para que deixasse de ser sócio.
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Muito mais grave do que o fato do confronto em si – que já é um absurdo – foi o conteúdo, que atingiu não somente o seu interlocutor, mas todos os sócios e torcedores. O recado foi claro: o torcedor comum, que paga o seu ingresso ou sua mensalidade, é absolutamente dispensável. Na verdade, mais parece ser um fardo que os dirigentes precisam suportar do que algo digno de admiração.
Torcedor é paixão, emoção, passionalidade. Depois de um ano desastroso, com a segunda pior campanha da história da Série A do Brasileiro, venda do mando de campo, entre outras tantas humilhações, bastaram algumas contratações para o excelente público de 8 mil pessoas em um sábado início de janeiro na Ressacada, para um torneio quase irrelevante, atendendo ao apelo dos próprios dirigentes, e promovendo uma linda festa. O que era para ser um passo de reconciliação tornou-se atestado de que o sentimento do clube para com sua própria torcida é de desprezo.
Frisa-se que quem deu peso decisivo à partida de sábado foi o próprio Avaí, não só utilizando força máxima como convocando o torcedor, lançando novo uniforme, fazendo promoções de ingressos, enfim. O próprio clube aumentou os efeitos do resultado de sábado, certamente acreditando que iniciar a temporada levantando taça seria uma forma de quebrar o pesadelo de 2019.
No entanto, tinha que calcular também os efeitos de possível derrota, e é óbvio que perder uma decisão pela primeira vez na história dentro da Ressacada, depois de tudo que ocorreu ano passado, deixaria o torcedor irritado.
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Analisando friamente o orçamento, talvez a maior arrecadação direta não seja com mensalidade ou venda de ingressos. Porém, o torcedor é a alma, a razão existencial de um clube. Sem ele, não há arrecadação alguma. Não há patrocínio, não há cota de televisão, não há nada. Não é o seleto grupo de “notáveis” que dá a dimensão gigante que o Avaí possui. É, sim, a imensa massa avaiana, que paga sua mensalidade, seu ingresso, ou eleva o nome do Avaí para o resto do estado, país ou universo. É preciso amar a torcida, respeitar seu sofrimento, sua irritação, e não criar guerras, divisões, conflitos.
A derrota em campo não se compara a verdadeira derrota institucional sofrida no sábado fruto da postura lamentável de seu mandatário.