Líderes africanos reunidos neste domingo em Abuja para aprovar um plano de reconquista militar do norte do Mali, ocupado por guerrilhas islâmicas armadas, votaram a favor do envio de uma força de “3.300 soldados”, “por um período de um ano”, segundo o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara.
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“Prevemos 3.300 soldados para um período de um ano”, disse Ouattara a jornalistas, após a cúpula extraordinária que contou com a presença dos líderes dos 15 países membros da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e alguns de outros países africanos, na capital nigeriana.
O presidente nigeriano Goodluck Jonathan defendeu na abertura da cúpula a opção militar. “Esta intervenção será baseada em uma resolução da ONU (…) para caçar rebeldes e anarquistas que transformaram grandes partes do norte em uma zona de ilegalidade. Temos que fazer isso para evitar consequências prejudiciais, não só para o Mali, mas para toda a África”, declarou.
O projeto deve ser apresentado antes do final de novembro ao Conselho de Segurança da ONU, através da União Africana.
O plano prevê a implantação de soldados dos países membros da Cedeao e também de outros países africanos.
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O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, presidente em exercício da Cedeao, convidou a “acelerar a resolução da crise no Mali e no Sahel”.
“O caminho em direção a uma solução política negociada nos permitirá conduzir uma intervenção militar pacífica e identificar melhor os alvos e os terroristas a serem combatidos”, acrescentou Ouattara.
A cúpula, que foi interrompida às 15h GMT (12h no horário de Brasília) para o almoço, continuou a analisar e aprovação do comunicado final antes da cerimônia de encerramento e uma coletiva de imprensa.
A Argélia, importante ator regional e tradicionalmente hostil a qualquer intervenção, é representado nesta reunião por Abdelkader Messahel, ministro delegado para Assuntos do Magrebe e africanos.
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A Mauritânia, também vizinha do Mali que até então se recusando a participar de uma intervenção, enviou seu ministro das Relações Exteriores, Hamady Ould Hamady, como o Marrocos, representado por Youssef El Amrani.
A Líbia também está representada, de acordo com um porta-voz da Cedeao.
“Temos de manter a pressão com o plano de intervenção militar. Todo mundo quer que a intervenção tenha como alvo apenas os terroristas (…) a nossa opção preferencial ainda é o diálogo”, disse à AFP o representante especial da ONU para a África Ocidental, Said Djinit.
Os europeus apoiam as iniciativas regionais africanas, mas até agora não indicaram um possível envio de tropas para combater no Mali. Em geral, consideram que a opção militar deve ser a última alternativa, mas que estavam dispostos a um apoio logístico e orientação.
O presidente francês, François Hollande, reiterou neste domingo que a França não iria intervir diretamente no Mali, mas que tinha o “dever” de estar ao lado dos africanos se eles escolheram uma operação militar.
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Os ministros da Defesa e das Relações Exteriores de cinco países europeus – França, Alemanha, Itália, Polônia e Espanha – vão se reunir em Paris na quinta-feira para discutir a criação de uma missão europeia de treinamento que contará com ao menos 200 soldados.
Os grupos armados aliados à Al-Qaeda aproveitaram o golpe militar que derrubou o regime de Amadou Toumani Touré para gradualmente assumir o controle de todo o norte do Mali. Eles derrubaram seus antigos aliados da rebelião tuaregue, que havia lançado uma ofensiva em janeiro.
Os islamitas querem estabelecer a aplicação da sharia (lei islâmica) com rigor – o apedrejamento de casais não casados, amputações de ladrões, chicoteamento de quem bebe álcool e de fumantes – e cometem numerosos abusos.