Depois de sete dias de reuniões, as delegações que representam os 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) chegaram a um acordo sobre o documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
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O texto apresentado na madrugada desta terça-feira pelo Brasil foi aprovado sem alterações na reunião plenária iniciada às 10h30min e que durou quase três horas. O chefe de Comunicação das Nações Unidas na Rio+20, Nikhil Chandavarkar, disse que o texto foi aprovado sem alterações, apesar de alguns países terem demonstrado descontentamento com alguns pontos.
– Os chefes de Estado têm direito de mudar o texto, mas os países já deram suas posições (com os negociadores), por isso acho difícil que haja mudanças.
Entidades de proteção do meio ambiente, como o Greenpeace, demonstraram descontentamento com a decisão. Por outro lado, porta-vozes da ONU identificaram o relatório como “um caminho para o desenvolvimento sustentável”.
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Ao deixar a sala de conferências, o ministro alemão do meio ambiente Peter Altmaier comemorou o que foi acordado.
– É um compromisso muito aceitável para a sustentabilidade.
Entre os pontos de divergência do documento estavam a questão do fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), já que alguns países defendiam a sua elevação ao status de agência, o que não foi acertado.
O secretário-geral da Rio+20, Sha Zukan, avaliou que o texto finalizado é “o melhor que se poderia conseguir”. O documento que foi aprovado na íntegra será submetido aos chefes de Estado e de Governo que se reúnem a partir de quarta-feira, no Riocentro.
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No texto amplo, os aspectos sociais são destacados, ressaltando o esforço conjunto para a erradicação da pobreza, a melhoria na qualidade de vida e o ser humano no centro das preocupações. O documento tem 49 páginas, uma a menos que o texto anterior concluído no sábado. Inicialmente, o material chegou a ter 200 páginas, depois foi reduzido a 80, em seguida para 50 e agora para 49.
O documento está dividido em seis capítulos e 283 itens (o anterior tinha quatro a mais). Os capítulos mais relevantes são os que tratam de financiamentos e meios de implementação (relacionados às metas e compromissos que devem ser cumpridos). A última versão do texto foi negociada até as 2h20min desta manhã.
De um total de 193 delegações, apenas os representantes dos países desenvolvidos, liderados pelos Estados Unidos e pela União Europeia, resistiam a fechar o rascunho em nível técnico. Os europeus insistiam em levar a discussão para os ministros de Estado.
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Financiamentos e Tecnologia
Exatamente como queriam os países ricos, foram excluídos os detalhes sobre repasses financeiros, a imposição de cifras, a criação do fundo para o desenvolvimento sustentável, especificações sobre economia verde e transferência de tecnologia limpa. O Brasil e vários países em desenvolvimento defendiam a criação do fundo anual de US$ 30 bilhões, a partir de 2013, e que alcançaria US$ 100 bilhões, em 2018.
Mas os países desenvolvidos rejeitaram a proposta. A proposta do fundo foi substituída por vários parágrafos, nos quais são estabelecidos compromissos conjuntos, como a criação de um fórum para apreciar o tema a partir de nomeações da Assembleia-Geral e da parceria com as agências da Organização das Nações Unidas (ONU).
No texto há, ainda, seis itens com recomendações para os países fortalecerem as parcerias para a transferência de tecnologia limpa. Mas sem impor normas, pois a questão divide os países desenvolvidos e os em desenvolvimento.
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Em situações de impasse, o documento sugere que os ricos colaborem para o desenvolvimento sustentável, ação que vale também para as questões relativas à capacitação e ao comércio.
Preocupação Social
Em praticamente todo o texto, há uma preocupação clara e explícita com as questões sociais o que, para os negociadores brasileiros, indica um avanço. Ao longo do documento, há a recomendação pelo esforço de erradicar a pobreza e garantir o desenvolvimento sustentável com inclusão social. No primeiro capítulo a ordem é explícita.
“Reafirmamos também a necessidade de se alcançar o desenvolvimento sustentável: a promoção sustentada, inclusiva e justa do crescimento econômico, criando maiores oportunidades para todos, reduzindo as desigualdades, elevar os padrões básicos de vida, promoção do desenvolvimento social equitativo e inclusão, e promover a gestão integrada e sustentável dos recursos naturais recursos e dos ecossistemas que suportam nomeadamente econômico, desenvolvimento social e humano, facilitando a conservação do ecossistema, regeneração e recuperação e resistência em face de novos desafios e emergentes”, diz o texto.
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Exatamente como no rascunho anterior, concluído no fim de semana, o texto dá atenção privilegiada à África. A recomendação é que todos se unam na tentativa de ajudar os países africanos, embora ressalte que isso já ocorre.
“Notamos que a ajuda à África tem aumentado nos últimos anos. No entanto, ela ainda está aquém em compromissos que foram feitos anteriormente. Ressaltamos a prioridade fundamental para a comunidade internacional de apoiar os esforços sustentáveis de desenvolvimento de África”, diz o documento.
Economia Verde
Um dos itens mais polêmicos debatidos ao longo dos últimos dias foi o conceito de economia verde. Há divergências de interpretação e compreensão entre países desenvolvidos e os em desenvolvimento. No caso dos países ricos, a preocupação está relacionada com as questões relativas à produção, ao consumo e à comercialização de mercadorias. Para evitar controvérsias, foram colocadas recomendações gerais.
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“Afirmamos que existem diferentes abordagens, visões, modelos e ferramentas disponíveis para cada país, de acordo com suas circunstâncias e prioridades nacionais, para alcançar o desenvolvimento sustentável nas suas três dimensões que é o nosso objetivo primordial”, diz o texto.
Em seguida, há 16 recomendações (antes eram 15) sobre como inserir o conceito de economia verde nos esforços pelo desenvolvimento sustentável e pela inclusão social, respeitando a soberania nacional.
Há menções para os esforços conjuntos para transformar o mundo em uma sociedade equitativa e com oportunidades para todos, assim como aumentar o “bem-estar dos povos indígenas em suas comunidades”, assim como para mulheres, crianças, jovens e pessoas com deficiência.
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No capítulo sobre temas específicos, são mencionados erradicação da pobreza; segurança alimentar e nutricional e agricultura sustentável; energia; turismo sustentável; transporte sustentável; cidades sustentáveis e assentamentos humanos; saúde e população; promoção de emprego pleno e produtivo e do trabalho digno para todos com garantias de proteções sociais e oceanos, além de estados insulares.
Na parte final do documento, há recomendações sobre os esforços para reduzir os riscos de desastres que se refere à medidas que devem ser adotadas para alertar sobre perdas de vidas e os danos econômicos e sociais causados por essas situações. No ano passado, o Japão viveu um dos piores terremotos da sua história, enquanto Haiti e Chile ainda tentam se recuperar dos tremores de terra recentes.
No capítulo sobre mudança climática, a preocupação é evidente, mas não há recomendações pontuais sobre o mínimo e o máximo, por exemplo, permitidos de emissão de gases de efeito estufa.
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“Estamos profundamente preocupados que todos os países, particularmente os países em desenvolvimento, que são vulneráveis aos impactos adversos das alterações climáticas e estão experimentando os impactos aumento incluindo a seca persistente e eventos climáticos extremos, elevação do nível do mar, erosão costeira e acidificação dos oceanos, ameaçando ainda mais a segurança alimentar e os esforços para erradicar a pobreza e alcançar o desenvolvimento sustentável”, diz o documento.