Pais de crianças matriculadas na rede pública municipal de ensino têm relatado uma situação (no mínimo) desconfortável, que vem se arrastando há cerca de duas semanas. Na Creche Almirante Lucas Alexandre Boiteux, por exemplo, que fica na Avenida Mauro Ramos, no Centro de Florianópolis, alunos foram orientados a pedir para os pais materiais básicos de higiene, como papel higiênico e sabonete, e uma contribuição em dinheiro para a compra de água potável.
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– Minha filha chegou em casa pedindo papel higiênico para levar à escola, porque lá não tinha. Também estão pedindo, todo mês, R$ 5 por criança para a compra de água. Isso é uma palhaçada. Temos prefeito na cidade para quê? – questiona David Ivacenico, 45 anos, um dos 13,3 milhões de brasileiros desempregados (segundo divulgou o IBGE, em agosto).
Outro pai, que preferiu não se identificar, afirmou que seu filho estuda na mesma escola e também recebeu a orientação de pedir materiais como “desinfetante, sabão e até papel higiênico”. O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem), entidade que representa, entre outros profissionais, os professores da rede municipal, fez uma vistoria em diversas escolas e confirmou a situação.
– Recebemos várias denúncias, é uma situação generalizada nas creches municipais. Realmente, é inviável trabalhar sem material de higiene. Os pais pagam os impostos, muitas vezes contribuem para a compra de água potável – o que já é um absurdo -, e ainda têm que contribuir com os materiais de higiene? Isso é ainda mais absurdo – afirma a diretora de relações institucionais do Sintrasem, Suzete Garcez.
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O que diz a prefeitura?
Em conversa com a Hora, o secretário municipal de Educação, Maurício Fernandes Pereira, afirma que a situação aconteceu por “problemas no processo licitatório para a compra desses produtos”, mas que “já está tudo regularizado”. De acordo com Pereira, os materiais começaram a ser entregues nas escolas nesta semana – a Creche Almirante Lucas Alexandre Boiteux não é um caso isolado.
– Enfrentamos essa dificuldade, mas já está tudo certo. Algumas unidades já receberam (os materiais), outras ainda vão receber. Quando a gente assumiu a prefeitura, não tínhamos processos licitatórios prontos para o abastecimento, mas hoje temos uma série deles abertos para vários tipos de produtos, para que isso não venha mais a ocorrer – justifica.
Sobre a “vaquinha” para a compra de água potável, o secretário de Educação afirma que algumas unidades têm problemas nos bebedouros e que é normal esse tipo de ajuda dos pais. Disse, ainda, que já foi aberto um processo licitatório para a compra de novos bebedouros.
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– Pode existir a solicitação para os pais contribuírem, mas não a exigência, até porque volta e meia as unidades fazem encontros, gincanas, rifas ou pedem colaboração espontânea, buscando que as famílias se organizem e ajudem.
O que diz a direção da escola?
No dia 3 de outubro, na semana seguinte à publicação desta notícia, a diretora da Creche Almirante Lucas Boiteux, Ana Cristina dos Santos Silva, se posicionou sobre a situação da falta de água potável. Em nota, afirmou que “em reunião com os referidos pais, ficou acordado uma contribuição espontânea da comunidade escolar”. Ainda segundo Ana Cristina, cada sala “possui seu bebedouro elétrico, sendo que os mesmos foram adquiridos através de contribuição das famílias e funcionários de forma espontânea de ambas as partes”, e todas as crianças “usufruem deste benefício igualmente, mesmo aquelas que os pais não puderam contribuir”.
Sobre a falta de papel higiênico, a diretora da creche disse que “algumas famílias, percebendo que não havia o material de higiene nos banheiros, cobraram esclarecimento junto à direção. Foi explicada a situação do atraso no processo licitatório” e, então, “alguns pais e funcionários se mobilizaram para que houvesse contribuições espontâneas, para garantir assim, o bom funcionamento da Unidade Educativa”. Ana Cristina também ressalta que a situação já foi resolvida.
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