Os sumiços foram os primeiros indícios de que Lizandra estava mudada, mas a ingenuidade da avó, por não ter tido contato com dependentes químicos antes, a impediu enxergar os sinais logo no início. Foi quando a adolescente passou a noite no quintal de casa e dormiu por um dia e meio que dona Maria se assustou.
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– Ela chegou aqui branca que parecia um pano, eu falava com ela e ela só respondia “am?”, mas eu não entendia direito o que poderia ser – explica.
Pedagoga especializada no trabalho com adolescentes, Renata Corrêa diz que os pais precisam estar atentos porque o adolescente dá sinais de que pode estar tendo problemas com drogas. Mudanças bruscas de temperamento, falta de apetite, sono excessivo e desleixo com a aparência são alguns.
Lizandra deu os primeiros sinais de que as coisas não iam bem há cerca de seis meses. Começou a sair muito de casa – o que não fazia antes – e a ter amizades com meninas mais velhas. Logo começou a se reunir também com garotos. Depois disso, furtou R$ 800 do avô e distribuiu entre os colegas. A família chegou a pregar as janelas da casa com medo de que algo mais fosse levado.
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Falta explicação para os números
O fato de mais garotas estarem sendo internadas para tratamento em Camboriú pegou a especialista em adolescentes Renata Corrêa de surpresa. Ela diz que a psicologia explica que as meninas são pelo menos dois anos mais maduras que os meninos. Isso acaba fazendo com que reflitam melhor sobre as escolhas e por isso o número de meninos envolvidos com drogas vinha sendo maior até então.
Assim como os pais, a Polícia Militar acredita na influência que elas sofrem de outros jovens. Por isso os trabalhos de repressão na cidade têm sido humanizados, com atuações que visam resolver a raiz do problema.
Ano passado uma assistente social do município acompanhou a polícia em abordagens. Isso fez que casos como o de adolescentes fora da escola, por exemplo, tivessem o encaminhamento devido.
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Para este ano a PM já planeja colocar em prática um levantamento com os adolescentes. Um questionário, que passará a ser aplicado com o início do ano letivo, vai ajudar a polícia a traçar um diagnóstico sobre esses jovens, de acordo com o capitão Pablo Pereira.
Prostituição sustenta vício
Em Itajaí, o Conselho Tutelar não tem estatísticas sobre o número de casos encaminhados aos Centros de Assistência Psicossocial (Caps) ou para internação. Mesmo assim, a conselheira Anadir Schneider adverte que vêm crescendo o número de meninas usuárias de drogas e o meio encontrado por elas para sustentar o vício é a prostituição.
Conforme a conselheira há alguns anos era muito maior o número de famílias que procuravam o conselho em busca de ajuda para meninos. Hoje, a situação é praticamente igual entre os sexos masculino e o feminino.
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– É grande o número de meninas de classe média usando LSD e ecstasy. Elas começam a usar em festas – diz.
Anadir explica que a diferença nítida entre os sexos é que as garotas não chegam ao crime tão facilmente. Usar de roubos e furtos para comprar drogas é a última instância para elas, enquanto os garotos são mais suscetíveis. Segundo a conselheira, quando as meninas não conseguem sustentar o vício, elas se prostituem.