Uma escola com quatro quadras para jogar vôlei, futebol, basquete. Um modelo pedagógico “que era exemplo”. Um projeto arquitetônico arrojado, com um “telhado diferente”, muros baixinhos e um jardim com flores. Um colégio que abrigava cerca de 1 mil crianças e adolescentes. É assim que a ex-aluna, a auxiliar de saúde bucal Cláudia Conceição Machado, lembra da Escola de Educação Básica Daysi Werner Salles, do bairro Capoeiras, em Florianópolis, onde estudou na década de 1980.
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— A Daysi foi construída para ser um exemplo para as demais escolas — relembra Claudia.
O colégio foi fundado em fevereiro de 1974 e, inicialmente, chamava-se Escola Modelo, segundo documentos guardados pela Comissão de Pais da unidade. O objetivo era priorizar o ensino técnico, que ia além das disciplinas comuns como matemática e língua portuguesa.
O também ex-aluno, Rogério Silveira dos Santos, que estudou na Daysi no início da década de 1990, lembra com carinho do período. Ele chegou a ter aulas como marcenaria e técnicas rurais.
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— Foram nestas aulas que os primeiros alunos da escola plantaram as árvores de Pinus que podemos ver agora somente por cima do muro — conta.
600 dias fechada
Hoje, ao passar em frente ao colégio, o que se vê pelas frestas do muro, que agora é alto, e dos portões quebrados, são canteiros com muito mato; quadras descobertas sem condições de uso; uma estrutura de prédio deteriorada, com telhas e janelas quebradas. A escola foi interditada em 2014 por conta do mau estado de conservação. Os estudantes foram transferidos para a Escola Estadual Presidente Roosevelt, em Coqueiros, “do outro lado da Via Expressa”, como salientou a ex-aluna Cláudia, que hoje é também mãe de dois alunos da unidade.
— É uma tristeza ver a decadência da Daysi. Meus filhos, infelizmente, já pegaram esta época. Quando conto para eles como a escola era bonita, eles nem acreditam — lamenta a mãe.
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Tanto Rogério como Claudia fazem parte da comissão de pais e ex-alunos que pedem melhorias para a escola. Dois cartazes no muro do colégio indicam a demora: a Daysi completou 600 dias fechada e sem um panorama de que algo vá acontecer — ao menos aos pais e ex-alunos.
— Estamos fazendo este movimento porque cansamos. Deixaram a escola chegar a este estado, mudaram os alunos de lugar, dificultaram sua chegada na escola, dificultaram a estrutura aos professores. Os pais acabaram procurando uma opção melhor aos filhos. Aos poucos, a escola vai acabando — observa Rogério.
De 1 mil para 60 alunos
Atualmente, contou o ex-aluno Rogério Silveira, a Daysi tem 61 alunos que estudam dentro da Escola Presidente Roosevelt. Na época, os pais concordaram que os estudantes fossem transferidos de ônibus até Coqueiros, porque a ideia era de que a escola fosse reformada durante o ano. O transporte é oferecido de forma gratuita pelo Governo do Estado.
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Nas salas da Roosevelt, a Daysi mantém apenas cinco turmas: 2º, 3º, 7º e 9º anos pela manhã; e o 4º ano durante a tarde. As salas tem no máximo 15 estudantes cada.
— Meu filho, de 16, foi obrigado a se matricular na Roosevelt para o Ensino Médio. Mas minha filha, de nove, chegou a ter aulas na mesma sala com crianças da outra escola, com dois professores diferentes. Bem complicado — falou Cláudia.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação na Rede Pública de Ensino no Estado (Sinte/SC), interferiu e conseguiu que as aulas fossem separadas ainda no ano passado.
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— Estava difícil de lecionar. Alunos chegaram a ter aulas de Português e Matemática no mesmo lugar, sendo que o quadro era dividido entre os professores — contou a coordenadora regional do Sinte em Florianópolis, Vanessa Fernandes de Souza Cunha.
Edital sem data
Em janeiro de 2015, o Ministério Público obteve liminar que determinava a reforma da escola, mas o pedido não foi acatado na época pela Secretaria de Estado de Educação. O órgão informou ao MP na oportunidade que a escola estava inserida no Programa Pacto pela Educação, e a previsão era demolir o prédio atual e construir uma nova unidade no local.
Em janeiro deste ano, o MP realizou uma vistoria e uma audiência com a comunidade. O objetivo era garantir que o terreno fosse preservado até que uma nova escola fosse construída.
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— Chegaram a colocar vigia durante o dia. Mas de madrugada apareciam vândalos que carregavam janelas de alumínio, fios elétricos, e até motores de eletrodomésticos — relatou Rogério, o ex-aluno.
Ainda neste ano, a Secretaria informou ao MP que lançaria em fevereiro o edital de licitação para a construção da nova escola. A obra teria prazo de conclusão de 18 meses.
O edital foi de fato lançado em 22 de fevereiro, mas o Tribunal de Contas do Estado (TCE) pediu a suspensão da licitação porque o orçamento da obra foi elaborado com preços de agosto de 2011. A área construída também não teria sido indicada no documento, segundo o TCE. O edital foi revogado em 18 de agosto pelo secretário de Estado de Educação, Eduardo Deschamps.
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À Hora, a Secretaria de Educação informou que: as alterações no processo licitatório, conforme pedidas pelo Tribunal, estão em ¿fase final de aprovação para lançamento de um novo edital; será construída uma nova escola a partir da conclusão de todo o processo de licitação e contratação da empresa licitada; o prazo vai depender do início da obra; em média 18 meses a partir da contratação; o valor estimado para a obra será R$ 5,8 milhões, com recursos do Pacto por Santa Catarina”. A Secretaria ainda informou que as alterações no edital estão no TCE para aprovação, e somente depois da resposta que será definida uma data de lançamento do edital.
Lembranças ruins
Nos últimos anos, notícias tristes relacionadas à escola ganharam páginas de jornais, como o uso de uma arma de choque em um aluno que estava alterado em sala de aula – o episódio ocorreu em 2013; e de um estudante de 13 anos que era suspeito de ameaçar meninas da escola com uma faca e as levar para uma região de mato, onde supostamente elas foram abusadas. O caso é de 2009.
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