— Me concentro antes e na hora do jogo respiro fundo e penso na minha estratégia.
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A frase, que parece de gente grande, foi dita minutos antes de Pedro Sardá, 10 anos, disputar a primeira partida no 3º Floripa Chess Open, campeonato brasileiro que segue até quinta-feira em Florianópolis. A participação das crianças e adolescentes no evento é significativa – a organização estima que cerca de 25% dos 410 competidores têm até 18 anos – e é reflexo do incentivo de escolas e pais que enxergam no tabuleiro uma forma de desenvolver habilidades nos pequenos. Além de melhorias na concentração e cálculo, o jogo também auxilia na tomada de decisões, defendem treinadores.
Foi graças a esses benefícios que o pai de Pedro, Acacio, matriculou os dois filhos nas aulas de xadrez no contraturno da escola. Dois anos depois do início das aulas, Acacio, que nunca jogou xadrez, sabe tudo sobre o esporte e elenca orgulhoso os avanços dos pequenos. O mais velho teve melhora significativa nas notas da escola, já o caçula, João, de 8 anos, está mais concentrado e aprendeu a lidar com pressão. Outro ponto positivo é que os jogos eletrônicos e televisão perderam espaço para as peças no tabuleiro:
— Hoje estão mais ocupados com jogo para exercitar o cérebro — diz.

O presidente da Federação Catarinense de Xadrez, Guilherme Deola Borges, 31 anos, conhece de perto esses benefícios. O mestre nacional, um dos títulos concedidos a jogadores de xadrez de alto nível, começou a jogar aos quatro anos e acredita que o xadrez, além de desenvolver o intelecto, por conta dos cálculos durante a partida e estudos, também desenvolve a parte psicológica das crianças:
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— Tem que lidar com as vitórias, com as derrotas, com a expectativa, tensão da tomada de decisão, é uma boa ferramenta social. Além disso, o ambiente do xadrez é bastante propício e amigável para interações sociais — cita Borges, que também dá aulas de xadrez pela internet.
Habilidade no jogo refletem em notas
Foi em busca dessas interações que Márcia Maria Santana matriculou a única filha, Maria Eduarda, nas aulas de xadrez na escola em Palhoça. A pequena começou a jogar com seis anos e hoje, aos 11, acumula títulos como o de vice-campeã no Campeonato Sul Brasileiro Escolar. A mãe conta que sempre a estimulou com jogos como dominó, jogo da memória, mas foi no xadrez que a menina se encontrou:
— Ela troca televisão, brinquedo, tudo pelo xadrez, virou prioridade para ela. O xadrez é a vida em miniatura — define.

Maria Eduarda chegou a ensinar o jogo para o pai para poder praticar mais em casa. Tanto empenho lhe rendeu o convite para treinar no Clube de Xadrez de Florianópolis. O diretor técnico do clube, Marcelo Pomar, aponta uma dado significativo que exemplifica os benefícios do jogo para os pequenos. Ele conta que todas as cerca de 200 crianças que treinaram no clube – que seleciona os melhores alunos do circuito escolar – mais tarde, foram aprovadas em universidades públicas.
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— O ato de jogar xadrez te força a tomar decisões, capacidade de raciocinar, além de ser uma ferramenta importante para o desenvolvimento cognitivo, uma ferramenta pedagógica que ensina a aprender, a enxergar as outras possibilidades da vida — reforça.
Concórdia incluiu jogo na grade curricular há quase duas décadas
Apesar de treinadores perceberem um incremento na oferta de aulas de xadrez nas escolas, ainda há alguns desafios para a disseminação do esporte em Santa Catarina. Para o diretor técnico do Clube de Xadrez de Florianópolis, Marcelo Pomar, que treina as seleções de xadrez da Capital há 10 anos, ainda faltam políticas públicas para incentivar a atividade:
— Se a gente conseguisse incluir isso nas grades curriculares teríamos reflexos positivos. Hoje, infelizmente, a maioria das instituições que participam do circuito escolar são privadas, o que acaba fazendo um recorte mais elitista.
Porém, ele cita um bom exemplo que vem do Oeste de SC. Desde os finais da década de 1990, as escolas municipais de Concórdia oferecem aulas semanais de xadrez. A disciplina foi incorporada pela secretaria municipal na grade curricular e atende alunos da educação infantil até o ensino fundamental.
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— Eles gostam muito. É bom que cada etapa é um aprendizado. Há uma melhora no raciocínio e vários benefícios — conta a professora de educação física da rede municipal do município, Franciele Cristina Santana Rheinheimer, que também dá aulas de xadrez.
Na rede estadual, as escolas podem oferecer xadrez nas aulas de educação física, porém não é conteúdo obrigatório. O Instituto Estadual de Educação, em Florianópolis, é uma das unidades que oferecem as aulas.
Serviço:
3º Floripa Chess Open
Onde: Lira Tênis Clube, Rua Felipe Schmidt, 636, no Centro de Florianópolis
Quando: até quinta-feira (dia 26)
Horário: 10h rodada final e 16h premiação
Para praticar
Aplicativo Play Magnus permite que você jogue com o atual campeão mundial Magnus Carlsen em diversas idades, desde os cinco anos até os dias atuais. Disponível para Android e iOS, o aplicativo é grátis, mas conta com alguns recursos disponíveis somente na versão paga.
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