Há um ano Alexandre Mannes (34) e Ilene Mannes (29) convivem diariamente com a dor e lutam silenciosamente por justiça. Os pais do pequeno Marlon Mannes não conseguem segurar as lágrimas quando falam do único filho, que em 31 de outubro de 2012 teve a vida interrompida aos 5 anos, após ser atropelado pelo ônibus escolar que utilizava todos os dias na pequena cidade de Antônio Carlos.
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A cama ainda está arrumada, com os bichos de pelúcia favoritos em cima. No armário permanecem as roupinhas, e na prateleira a foto com o símbolo do Figueirense, time do coração de Marlon. A bicicleta foi guardada no galpão, como se a qualquer momento o menino pudesse chegar. O pai conta que ainda não tiveram coragem de mexer nas coisas do filho:
– É um pedaço da gente que se foi. Às vezes pego a Ilene chorando deitada na cama do Marlon – diz Alexandre.
O menino descrito por todos como uma criança alegre e cheia de energia, frequentava a pré escola no Centro de Educação Infantil Coração de Jesus. Diariamente a mãe esperava a criança na estrada geral da localidade Guiomar de Fora, a cinco quilômetros do Centro, para acompanhá-lo no trecho terra batida que dava acesso à casa da família. Naquela quarta-feira, viu o filho ser atingido na cabeça pela roda traseira do coletivo que dava a ré na rua. Ele não resistiu e morreu na hora.
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Luta por justiça
Mesmo sabendo que a dor que sentem nunca vai passar, o casal quer justiça. Logo após o acidente, receberam da prefeitura a promessa que teria monitores nos ônibus escolares. Um ano se passou, a cidade trocou de gestão e as crianças permanecem sendo transportadas somente com o motorista nos dez veículos que fazem o transporte escolar em Antônio Carlos.
O motorista do ônibus, José dos Reis Muller, 69 anos, ficou afastado do serviço, e no início de 2013 foi transferido para a Secretaria de Saúde. Em janeiro deve se aposentar, mas a família não se conforma, e está processando o homem e o munícipio.
– Um ano passou e não aconteceu nada. Queremos que ele não dirija mais. É muito dolorido ficar vendo ele por aí, eu até evito de ir no posto de saúde para não cruzar com ele – diz Ilene.
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Na época do acidente, o delegado Murilo Genésio Coelho ouviu todas as testemunhas e também pediu perícia no local e no ônibus, que não apontaram falha mecânica:
– A responsabilidade caiu no motorista e encaminhei o inquérito para o Ministério Público – explicou.
Julgamento só ano que vem
Segundo o advogado do casal, Leonardo Pereima, o Ministério Público já ofereceu denúncia contra José, que será julgado no dia 29 de setembro de 2014 por homicídio culposo – quando não há intenção de matar. No processo contra a Prefeitura, ainda não há data marcada.
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Para o advogado do motorista, Flávio Munich, o que aconteceu foi uma fatalidade:
– Até hoje o José tem traumas e toma remédios. Ele nunca tentou falar com a família porque foi muito atacado na época, mas ele não teve culpa.
A Prefeitura de Antônio Carlos também não assume a responsabilidade, mas vai contratar monitores para os ônibus. O Secretário de Educação, Altamiro Antônio Kretzer, explica que não existia o cargo no quadro funcional do munícipio, mas no mês de novembro o edital será lançado, e os aprovados começam a trabalhar em 2014.
Na defesa realizada pelo procurador da cidade, Remo Borhezan, ele afirma que causa do acidente foi desconhecida, e a culpa não pode recair sobre o condutor ou o munícipio.
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Enquanto aguardam a lentidão da Justiça, o casal trabalha horas por dia, e tenta seguir a vida. Estão planejando ter outro filho, mas até agora nenhum sinal.
– Queremos justiça. É só o que podemos fazer por ele – fala Ilene.