O ambiente escuro se acende com o toque do interruptor. A luz, para muitos, é apenas um recurso para iluminar um espaço. Mas para algumas crianças pode ser um objeto de distração. Elas podem passar horas olhando fixamente para a lâmpada e a cada segundo emitir caretas para a luz fluorescente. Tudo isso sem manter qualquer contato visual ou verbal com as pessoas ao seu redor. Concentração em objetos, movimentos repetitivos e falta de interação com as pessoas ao redor podem indicar um transtorno global de desenvolvimento, o autismo, que pode se manifestar em diferentes graus de comprometimento.

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No último dia 2 foi Dia Internacional do Autismo. Uma estimativa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, feita em 2007, aponta a existência de 1 milhão de casos no Brasil. Apesar do alto número, ainda não há consenso com relação às causas do problema, que passou a ser mais estudado a partir da década de 1940. Em geral, aponta-se para um transtorno neurológico, ligado a questões genéticas, possivelmente desencadeado por fatores ambientais como contato com algum medicamento ou alguma bactéria. No entanto, a psicanálise não acredita na existência de pessoas autistas, mas com traços autísticos, resultados de uma falha no processo de constituição do ser humano em seus primeiros anos de vida.

– A psicanálise sustenta que o autismo é decorrente de desencontros na relação entre mãe e bebê e propõe que é possível recuperar esse laço – explica a psiquiatra e psicóloga Michele Kamers, professora do departamento de Psicologia da Furb e coordenadora do projeto Clínica Infantil da universidade.

Apesar das diferentes concepções, as linhas de pesquisa concordam que quanto antes for iniciado o tratamento, maiores as chances de os traços de autismo serem reduzidos ou até desaparecerem – como acredita a psicanálise. De acordo com a psicóloga Juliana Alves Santiago, aos 18 meses de idade já são perceptíveis as diferenças entre crianças com e sem o transtorno. No entanto, na maioria dos casos, pais e responsáveis costumam buscar o tratamento por volta dos três anos.

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