Na camiseta, uma motocicleta estampada demonstra a paixão de Hiago Garcia Lizidati, 14 anos, pelo motocross. A roupa, escolhida pela família para o velório, prestava uma homenagem ao esporte que o garroto se dedicava, há cerca de três anos. No último domingo (3), o adolescente colocou o traje de segurança para a prática do esporte e partiu – na companhia do pai – para a última volta sobre duas rodas.
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Durante o treino, em uma pista na zona Oeste de Joinville, uma falha mecânica fez com que o garoto perdesse a direção do veículo e se chocasse contra uma árvore. O pai ainda tentou reanimar o menino, mas ele não resistiu à gravidade dos ferimentos e morreu no local.
— O Odelcio (pai do adolescente) não queria ir para a pista ontem (no domingo), mas o Hiago estava pedindo, já que tinha passado direto de ano na escola e estava de férias. Então, eles resolveram ir. Nunca ninguém ia imaginar que isso poderia acontecer — lamenta o amigo da família, Jose Valdori de Paula, 45 anos.
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Junto à obstinação do filho, o tempo ensolarado deste domingo também motivou o pai a colocar a motocicleta na carroceria do carro e se dirigir para pista do Brema, no bairro Vila Nova. O circuito fica às margens da rodovia do Arroz e era um local conhecido do adolescente, que treinava na pista com frequência. Hiago demonstrava interesse pela adrenalina – e pela poeira das pistas de terra – desde garotinho. Ainda criança, começou a praticar o BMX – uma espécie de corrida de bicicleta em circuito de barro.
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— Ele começou a andar de moto há uns dois ou três anos. Ele pilotava muito nessas pistas, já era acostumado e só saía de casa se estivesse com os todos equipamentos de segurança necessários — conta José.
José conheceu Hiago quando ele tinha dois anos. Assim como o adolescente, também andava de motocross, mas parou após se acidentar e machucar o joelho. O garoto herdou a paixão pelo combo poeira e duas rodas do pai, que também se aventurava nas pistas quando era mais novo. Apesar de gostar do esporte radical, Hiago era visto como um rapaz de personalidade tranquila e serena.
Bom aluno, tirava ótimas notas na escola e ajudava o pai no negócio da família. Nas horas vagas, conciliava o motocross com a rotina e a cada dia levava mais a sério a carreira.
— Eu nunca vi aquele menino levantar a voz para ninguém. Você olha outros garotos da idade dele, às vezes respondem pra você meio atravessado. Ele não, era obediente e um ótimo menino — diz José.
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Comoção durante o velório
Familiares e amigos compareceram à Capela II da Borba Gato para prestar as últimas homenagens. Os pais do menino permaneceram ao lado do caixão durante quase todo velório, na tentativa ficar um pouco na companhia do filho.
Hiago era o caçula e representava um ‘xodó para a família’. Como as duas irmãs já são adultas, o adolescente possuía uma relação estreita com o pai. Os dois eram companheiros em várias atividades, segundo o amigo da família, desde a pista de cross até viagens de trabalho. Recentemente, a dupla retornou de São Paulo – local onde moram os outros familiares do menino.
— Pai e filho eram muito próximos, tanto que o Odelcio estava lá quando o Hiago se acidentou. Ele me ligou avisando o que tinha acontecido. Estava em choque, desesperado e não conseguia acreditar no que tinha acontecido — relata José.
A família nunca iria imaginar que a paixão do menino resultaria em tragédia. Após algumas voltas no circuito, tudo transcorria tranquilamente. Até que, por volta das 14 horas, os aros da roda traseira começaram a se quebrar. Hiago tentou manter a direção da moto, mas derrapou algumas vezes e perdeu o controle, se chocando contra uma árvore.
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— Foi um baque para todo mundo acontecer isso com um menino de ouro. Realmente não tem explicação — completou.