Jaraguá do Sul teve, em média, até agosto deste ano, nove acidentes por dia. O número de casos que envolvem embriaguez está em terceiro lugar em relação às causas das colisões, perdendo para falta de atenção e desobediência à sinalização. Neste ano, o número de ocorrências, até o dia 8 de setembro, quase alcançou o total do ano passado.
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De janeiro deste ano a 8 de setembro, foram registrados 79 casos de acidentes com vítimas causados por motoristas que dirigem embriagados. Em 2013, foram 88 casos durante todo o ano. Atitudes que preocupam o 14º Batalhão de Polícia Militar e que modificam diariamente a vida de vítimas de acidentes.
Hoje começa a Semana Nacional do Trânsito e, até o dia 25, o tema será discutido em todo o País. Segundo o subcomandante do 14º BPM, major Gildo Martins de Andrade Filho, hoje o trânsito de Jaraguá do Sul é considerado agressivo, pois muitas vezes a população não tem educação ao dirigir.
– Hoje, só há fiscalização porque faltam educação e consciência das pessoas. Na correria do dia a dia, falta a gentileza de dar a vez, de parar na faixa e também a consciência dos atos, como dirigir embriagado ou em alta velocidade – explica.
Segundo o major Andrade, aos poucos a população tem compreendido que a punição imposta pela Lei Seca é muito severa para quem bebeu apenas um copo de cerveja. Os gastos com fiança, nova carteira de habilitação e advogados podem custar, no mínimo, R$ 10 mil.
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– O valor que a pessoa pagaria no táxi compensa todo o transtorno e o dinheiro que gastaria com tudo isso. Só a multa é quase R$ 2 mil. Os motoristas pegos embriagados não são apenas os que frequentam festa, mas também aqueles que bebem em casa, no futebol e em diversas situações do cotidiano – ressalta o major Andrade.
Para educar os futuros e atuais motorista, a Polícia Militar realiza palestras em empresas e o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), para crianças. O major Andrade enfatiza que, por causa dos acidentes diários, é necessário deslocar efetivos para essas ocorrências. Assim, o serviço preventivo fica em segundo plano.
– Tudo é questão de educação. Sem ela, prejudica todos os setores. Como é o caso da segurança pública.
Álcool transforma o comportamento
Desde 2013, com o endurecimento da Lei Seca, o Código de Trânsito considera crime “dirigir sob a influência de álcool”. Mas diariamente motoristas bebem e assumem o volante, envolvendo-se em acidentes.
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A explicação, para o neurocirurgião Mauro Cesar Grudtner, está, também, no efeito prazeroso que o álcool gera no corpo. Ele explica que, no início da ação, o indivíduo tem uma redução na inibição de certos comportamentos socialmente aceitos, o que pode levar o motorista a agir com menos prudência e considerar-se mais autoconfiante. Na medida em que a concentração de álcool vai aumentando, a pessoa tem redução na capacidade de percepção, atenção e autorreflexos e coordenação motora. No terceiro estágio, quando acaba o período de excitação e confusão, vem a fase do sono.
– O tempo que leva para o efeito do álcool se dissipar sobre o organismo irá depender de fatores relacionados à tolerância desenvolvida pelo indivíduo e à quantidade ingerida. Na curva da alcoolemia, há, num primeiro momento, uma curva ascendente de cerca de uma hora. A partir de 1h30, começa a ocorrer o processo de desintoxicação.
Uma família em luto desde 2013
Um luto que completou um ano em 6 de setembro de 2013. Essa é a história da família Tavares, que mora perto da SC-110. Duas filhas de Paulo foram atropeladas por um motorista embriagado.
O pai conta que os três filhos estavam de bicicleta em um ponto de ônibus ao lado da rodovia, às 20 horas. O motorista se perdeu na pista e bateu nas duas meninas. Gislane, de 16 anos, teve fratura exposta na perna esquerda e na clavícula. Pamela, com 13 anos, foi arrastada por 60 metros e morreu no local.
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– Dois segundos que mudaram totalmente minha vida. Tenho que ser forte porque minha família precisa de mim. Passamos o último ano mais no hospital do que em casa, faz dois meses que a Gislane voltou a andar.
O que a família espera? Justiça.
– Não desejo mal para o motorista, mas ele deve ser preso para servir de exemplo para os demais motoristas. Dirigir embriagado é pior que uma arma, uma bomba relógio prestes a explodir.
Segundo Paulo, a juventude tem de compreender que existem outras formas de se divertir sem colocar a vida de inocentes em risco. No próximo sábado, a família Tavares realiza uma caminhada em homenagem a Pamela. A saída será às 14 horas, em frente à casa de Paulo.
O difícil recomeço
Até há pouco tempo, a vida de Carlos Magno de Miranda era agitada. Durante a semana, trabalhava como motoboy de uma empresa de autopeças. Nos finais de semana, entregava pizzas para completar a renda familiar.
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Em 19 de julho deste ano, tudo mudou. Miranda sofreu um acidente de trânsito. Um motorista embriagado furou a preferência na rua Antônio Carlos Ferreira, paralela com a José Emmendoerfer, em Jaraguá do Sul.
– Eu estava voltando da primeira entrega e ele, de uma festa open bar, que você paga para beber o quanto aguentar. Quem me viu jogado na pista achava que eu estava morto, porque quebrei o braço direito, tive um corte profundo na perna e quebrei o maxilar.
O motorista de 25 anos ficou preso por oito dias, além de ter perdido a carteira de habilitação. A moto de Miranda teve perda total. Segundo a vítima, o motorista o visita constantemente e se propôs a ajudar com os gastos, na medida do possível.
– Hoje, estou afastado pelo INSS, voltei a andar faz uns 20 dias e faço fisioterapia três vezes por semana. Acredito que estarei recuperado no fim do ano, mas o médico vai decidir se me aposenta ou não por invalidez, porque o osso do meu braço moeu completamente.
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