Um autor de história em quadrinhos desabafou nas redes sociais neste domingo (11), após presenciar um pai “arrancar” livro de sua autoria das mãos do filho, quando soube que os protagonistas da obra eram LGBTQIA+. O episódio aconteceu no sábado (10), quando Adriano Andrade, conhecido como Adri A., estava expondo seus livros de HQ na Cômic Con Floripa. O evento emitiu uma nota de repúdio.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Florianópolis e região pelo WhatsApp
O CCFloripa é um evento de cultura nerd e aconteceu neste fim de semana na Capital. No Twitter, Adri contou que pai e filho, que devia ter entre oito e 10 anos de idade, se aproximaram da mesa onde estavam seus HQs. Segundo o escritor, o menino parecia bastante interessado nos quadrinhos, quando o pai teria começado a fazer uma série de perguntas ao autor, entre elas se o livro era adequado para o filho.
— Eu respondi que era uma obra mais apropriada pra quem tinha a partir de 13 anos — contou Adri.
Diante de uma nova pergunta sobre o que haveria no conteúdo que não seria adequado, o escritor respondeu que a obra tinha trechos de violência e palavrões. Conforme Adri, a informação não pareceu preocupar o pai do menino, que fez um novo questionamento: queria saber se os quadrinhos tinham algum conteúdo de “sexualidade”. Do autor, ele ouviu que as histórias não possuíam trechos de sexo explícito.
Continua depois da publicidade
— O pai insistiu na pergunta “se não tinha coisa de sexualidade”. Aí eu respondi que a obra tinha protagonismo LGBTQIA+ — lembra o autor.
De acordo com Adri, “imediatamente”, o homem teria “arrancado” o livro das mão da criança e teria feito uma cara de repulsa e, em seguida, colocado o HQ na mesa. Depois, teria balançado negativamente a cabeça, pegado a criança pelos ombros e saído.
Reportagem especial Vozes do Orgulho LGBTQIA+
A cena chateou o autor que veio de Osório, no Rio Grande do Sul, para expor os trabalhos, e foi embora de Florianópolis um dia mais cedo. Ele começou o desabafo nas redes sociais afirmando que existem lugares que não são locais para trabalhos como os dele.
— O pai pode e deve decidir o que o filho pode ver? Pode. Mas tem um problema nisso quando o que não pode ser visto é da diversidade, algo do mundo. E ele se incomodou quando soube que os protagonistas eram LGBTQIA+. Palavrão e violência tava tudo bem — pontuou Adri.
Continua depois da publicidade
Em nota, a Comic Con Floripa disse que repudiou o que chamou de “claro ato de homofobia”. A organização disse estar triste com o ocorrido e pediu desculpas “em nome de todos catarinenses ao artista e a comunidade LGBTQIA+, pois quem fez isto, não nos representa”, disse o comunicado.
O autor disse que não pretende registrar boletim de ocorrência e levar o caso a outras instâncias. Tanto ele quanto a organização ainda não conseguiram identificar o homem que praticou o ato.
— Realmente espero que pessoas como esssa pudessem repensar e ter uma postura bem mais acolhedora quanto à diversidade. Mas acho tão improvável disso acontecer — disse o autor.
SC registrou mais de 60 casos de violência física e sexual contra LGBTQIA+ em 2021
Adri vê na resistência e na continuidade do próprio trabalho o caminho para mudar as coisas:
— O que eu posso fazer é seguir em frente e seguir com o meu trabalho, me posicionando através deste como tenho feito há muito tempo.
Continua depois da publicidade
Nas redes sociais, o recado do autor foi claro:
“Agora eu to chateado, ressentido e com raiva. E com mais vontade de fazer o meu trabalho mais BICHA ainda”.
Leia o comunicado na íntegra
“A CCFLORIPA repudia todo e qualquer ato de homofobia. Um de nossos artistas selecionados, neste sábado, foi vítima deste odioso crime. Um participante cometeu claro ato de homofobia contra o artista que vendia quadrinhos de temática LGBTQI+. Isto não é admissível, sobretudo em um encontro que congratula as artes e a diversidade. Estamos tristes com o ocorrido e pedimos desculpas, em nome de todos catarinenses ao artista e a comunidade LGBTQI+, pois quem fez isto, não nos representa.
[atualizaçao] infelizmente não sabemos a identidade de quem cometeu o crime, apenas da vítima. Se descobrimos iremos relatar para a polícia.”
Vídeo explica o que significa cada letra da sigla LGBTQIA+
Leia também
SC é um dos últimos estados brasileiros sem órgão para discutir políticas LGBTQIA+
“Semana do Cinema” tem ingressos a R$ 10 em Florianópolis e desconto na pipoca
Em 131 anos, Rosa Weber é a terceira mulher a assumir a presidência do STF