O escritor cubano Leonardo Padura não gosta de falar do falecido Fidel Castro. “Não importa o que eu diga, sempre cai mal”.
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Mas com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não tem papas na língua.
Em uma entrevista à AFP, o autor de “O homem que amava os cachorros” questiona a falta de resposta “coerente” frente a Trump por parte da Europa e da América Latina. Por causa disso, acrescenta, as pessoas estão encontrando mais respostas na literatura do que na política.
A seguir, trechos de suas respostas.
AFP: Com a eleição de Trump, sua fé ou ceticismo na democracia aumentaram?
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LP: Nem uma coisa, nem outra. Acredito que fiquei alarmado com algo que pensamos que às vezes pode ter limites e depois comprovamos que não tem limites, que é a estupidez humana. Acredito que o fato de Trump ter se tornado presidente dos Estados Unidos é um ato de estupidez e de soberba.
Fico muito preocupado, sobretudo, pelo fato de que está lançando ao vento sementes que são muito perigosas e que cairão em terreno fértil, porque há um setor importante da sociedade americana que tem medo do outro, que pensa que o inimigo está lá fora, que vive aterrorizado pelo que é diferente, e todo este discurso de Trump soa bem nos ouvidos.
Há, felizmente, uma parte da população americana que atualmente está nas ruas, uma boa parte dela tentando evitar o desastre. Não sei se (a eleição de Trump) é um defeito da democracia, se é preciso ser um pouco cético a partir de agora, o que acredito é que todos temos que ser um pouco mais responsáveis, e especificamente penso que a América Latina não deu uma resposta coerente ao que está acontecendo, sinto que falta esta resposta.
AFP: Por que depois da chegada de Trump ao poder se multiplicaram as vendas do livro “1984”, de George Orwell?
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LP: Acredito que é porque não são encontradas respostas na política. Acho que os políticos e este sentimento que citei anteriormente podem apoiar isso, porque inclusive nem na Europa, nem nos Estados Unidos, houve uma resposta coerente, e as pessoas buscam respostas. Há algumas pessoas que vão à igreja e rezam, encontram ali a resposta; outras leem literatura e as encontram. Acredito que em “1984”, e certamente, em algum momento, em “Complô contra a América” (de Philip Roth), vão encontrar ali reflexos de que coisas pode acontecer em uma sociedade que perde o controle ou que entra em outro controle e se torna uma sociedade doente.
AFP: O que vai acontecer com Cuba na era Trump?
LP: Acredito que estamos à espera de ver o que acontece porque sobretudo foi agressivo com o México. Com outros países ainda não foi de maneira direta, não foi inclusive com Cuba, que esperava isso. (…) Donald Trump havia dito que quando assumisse a presidência revisaria as relações de Estados Unidos e Cuba, e estamos esperando para ver se as revisa e como as revisa. Todos estão esperando para ver o que Trump vai fazer.
* AFP