“Luta, solidariedade, justiça social e irmandade”. Estas foram algumas das palavras proferidas pelo padre Vilson Groh, que comemorou aniversário de 63 nesta segunda-feira, durante a celebração de sua passagem de ano juntamente com dezenas de moradores em situação de rua no meio da Praça XV de Novembro, no coração de Florianópolis.

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Conhecido por seu trabalho junto aos moradores em situação de vulnerabilidade social, Vilson Groh partilhou com os convidados cachorros-quentes, bolos, doces, sucos e refrigerantes na tentativa de não apenas matar a fome de quem está nas ruas, mas também de mostrar ao poder público que essas pessoas têm direito a trabalho, moradia e assistência por parte da prefeitura e do governo do Estado.

Para tanto, ressaltou, é preciso romper com as indiferenças diárias da sociedade e dar visibilidade ao povo que representa a naturalização da injustiça social nas ruas da Capital. Após voluntários do Instituto que leva o nome do padre sexagenário fatiarem o maior dos bolos, de um metro de comprimento por um metro de largura, o padre Vilson levava pessoalmente os nacos do doce para pessoas com dificuldade de locomoção ou algum tipo de enfermidade. Antes disso, um dos presentes recitou um poema ao sacerdote e outros três apagaram as velas do bolo de chocolate que matou a fome de muitos no centro da cidade.

— É preciso derrubar os muros dessa cidade e torná-la realmente um lugar de todos, porque hoje o tecido social de Florianópolis está macerado, pisado. Precisamos inverter essa realidade e fazer predominar em ações a ótica do bem comum, que garanta a todos bem estar comum e direitos básicos, como trabalho e moradia — disse Groh, em volta de alguns das cerca de 250 pessoas que vivem em situação de rua no centro, número contabilizado em contagens sempre feitas aos domingos pela equipe do Instituto Padre Vilson Groh.

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Além dos bolos, 300 cachorros-quentes foram distribuídos à população em situação de rua da Capital. Um deles, Celso Luiz Pereira, 36 anos e há 18 deles nas ruas, expõe que se o trabalho do padre fosse replicado por órgãos como a prefeitura ou o Estado, o povo que dorme debaixo de marquises teria mais chances de encontrar as saídas para uma vida melhor.

— Se o poder público fizesse pela gente um pouquinho do que o padre faz, nossa situação poderia ser outra, talvez com banheiros públicos e um restaurante popular no centro — diz o homem que mora no Largo da Alfândega.

(Foto: Marco Favero / Agencia RBS)

Morador de rua que era jornalista recitou poema de improviso para o padre

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A exatamente um mês de completar 65 anos, com mais da metade da vida nas ruas, Paulo Roberto Lerina, o Paulo Poeta, que trabalhou como jornalista no Rio Grande do Sul e em São Paulo, recitou um poema que emocionou a todos no aniversário de Vilson Groh. Dizia o texto, em um trecho, que “às vezes, carregando a minha cruz, tua figura (padre) me lembra um cara chamado Jesus”.

Após o parabéns pra você, com Paulo Poeta saindo de mansinho da praça, padre Vilson o abordou e convidou o homem de longa barba branca a dormir na casa do religioso no Mont Serrat, comunidade do Maciço do Morro da Cruz. Ao aceitar o convite, Paulo se limitou a dizer “hoje eu durmo numa cama”.

Debilitado por sair de uma internação de quatro dias no Hospital Celso Ramos na tarde desta segunda-feira, Paulo, que sofre de neuropatia, doença que afeta o movimento de suas pernas e é causada pelo consumo excessivo de álcool, caminhava com dificuldades. O poema por ele recitado foi feito de improviso, pouco antes da celebração do aniversário, por volta de 19h desta segunda.

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— Conheço o padre Vilson há 20 anos. Ele sempre me ajudou. É de pessoas como ele que o mundo precisa — destaca Paulo, que conta “ter começado a beber pesado” depois de um acidente de carro há mais de 30 anos no interior de São Paulo, quando ele quebrou a clavícula e a esposa morreu na hora.

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