O padre Julio Lancellotti, referência nacional no debate envolvendo o atendimento a pessoas em situação de rua, utilizou as redes sociais para criticar um comentário envolvendo uma campanha Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Joinville, que pede à população para não dar esmolas para quem pede.
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Procurando pela reportagem do AN, padre Julio diz que se posiciona contra, em destaque, a um termo utilizado para referenciar a campanha: “andarilhos indesejáveis”. Para ele, se trata de uma colocação pejorativa, discriminatória e preconceituosa. A expressão foi utilizada em um comentário que não foi promovido pela CDL. O autor, porém, utilizou a iniciativa da entidade para isso.
— Existem andarilhos desejáveis? Eu não acredito que isso seja a índole e ideia geral da cidade. Isso justifica o preconceito e até a violência física contra essas pessoas — argumenta.
Lancellotti diz que, em vez disso, a sociedade deveria pensar em outras ações para vencer esta situação.
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— É preciso que a prefeitura, órgãos municipais e igrejas acolham essas pessoas. Ouvir o que está acontecendo, porque estão nesta condição. Ajudar a voltar ao lugar de origem ou serem reintegrados à sociedade na mesma cidade — explica.
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Ele ainda questiona o papel dos religiosos nesta ocasião.
— Como cristão, digo que esses ‘andarilhos indesejáveis’ podem ser Jesus testando a fé dos fiéis — finaliza.
CDL destaca serviços sociais em Joinville
Em nota enviada ao AN, a CDL Joinville destacou que a campanha existe desde 2019, e que Joinville é uma cidade que “conta com excelente serviço de assistência social. Há lugar para acolhimento e serviço de refeições gratuitos e de boa qualidade”.
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A entidade ressalta também que, especificamente ao termo “andarilhos indesejáveis”, a expressão nunca foi usada pela entidade na campanha, e que a imagem compartilhada nas redes sociais é uma publicação que não reflete a opinião da CDL.
Confira na íntegra o que diz a entidade:
A campanha “Não de Esmola! Ajude de verdade” é permanente. Foi lançada em 2019 em parceria da CDL Joinville e a Secretaria de Assistência Social da Prefeitura. Joinville é uma cidade que conta com excelente serviço de assistência social. Há lugar para acolhimento e serviço de refeições gratuitos e de boa qualidade. Nestes lugares as pessoas são atendidas e orientadas.
A comunidade em geral e a empresarial sempre trabalharam em parceria com o poder público na busca de melhores condições para os mais necessitados e faz isso de forma organizada por meio de instituições sérias e fiscalizadas.
Dar esmolas no meio da rua não contribui para retirar estas pessoas da condição em que se encontram, ao contrário, as mantém lá cada vez mais dependentes da esmola o que não lhes dá qualquer perspectiva de melhora e superação da situação degradante a que chegaram.
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No final de semana circulou nas redes sociais uma postagem vinculando as placas instaladas em 2019 da campanha “Não dê Esmolas! Ajude de Verdade” com a informação de que as pessoas que vivem em situação de rua são indesejáveis. Tal afirmação jamais foi feita pela CDL Joinville, tratando-se de um recorte do Jornal da Cidade que expressa a opinião do colunista daquele órgão.
A CDL Joinville trabalha de forma séria e responsável de diversas formas, participando de conselhos da cidade que discutem estas questões, também doando alimentos e recursos para ações concretas em favor dos desvalidos.
O presidente da CDL Joinville, José Manoel Ramos, informa que a entidade continua preocupada com esta população e que sempre buscou soluções junto aos órgãos municipais para elas serem atendidas.
“Dar esmola faz com que estas pessoas continuem nas ruas, muitas vezes sendo aliciadas para o crime. Ajudar de verdade consiste em oferecer saúde, educação, trabalho e alimentação. Isso Joinville desenvolve de forma assertiva”, completa o presidente.
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Sobre a manifestação nas redes sociais:
O Padre Júlio é um religioso que merece todo o nosso respeito pelo trabalho social que realiza na grande cidade de São Paulo e certamente ficaria impressionado positivamente se viesse a Joinville conhecer a nossa realidade.
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