Desde muito jovens nos deparamos com alguns questionamentos, uma pressão exacerbada de qual caminho seguir. Médico, advogado, engenheiro, administrador, jogador de futebol. As possibilidades são inúmeras, muitas vezes as escolhas são incomuns, mas o fato é que algumas delas são acompanhadas da vocação ou até mesmo por um chamado.
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Chamado que o pequeno João Bachmann recebeu em meio às plantações de arroz da família, aos sete anos de idade, no interior de Guaramirim, no Norte do Estado. Ele conta que a vocação se manifestou em forma de brincadeira de infância. O jovem costumava rezar missas para os irmãos mais novos em casa e na roça. O improviso era a marca das celebrações do futuro jovem padre.
– Montei uma igrejinha com mato, a hóstia era feita de rodelas de banana que nós plantávamos e o vinho era de suco de uva de pacotinho – diz, sorridente, ao lembrar da infância.
O padre recorda que na escola, quando o questionavam sobre o que queria ser na vida, a resposta sempre foi a mesma: “eu quero ser padre na minha vida vocacional e profissional”.
Formação
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A vocação tirou o jovem muito cedo de casa e da família de nove irmãos. Aos 14 anos, ele já estava no seminário em Joinville para trilhar um caminho que ele nunca teve dúvida de seguir.
A fé sempre esteve presente na casa e na família Bachmann. O padre recorda que nos anos de seminário a família sempre esteve presente nas visitas, assim como nas férias, que o futuro padre aproveitava na casa em Guaramirim. Para ele, a comunhão nunca foi rompida pelo processo de formação.
O início em Blumenau
O garoto cresceu e com 25 anos recebeu a ordenação. Foram dois anos em Joinville antes de vir para Blumenau. Uma mudança que no começou trouxe sofrimento ao padre.
– Sofri muito, pois comecei o seminário em Joinville e depois fui transferido para uma realidade totalmente diferente com apenas 27 anos – conta, sobre sua ida para a Paróquia Santuário Nossa Senhora de Aparecida, no bairro Itoupava Norte, onde ficou por dois anos e sete meses.
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Bachmann foi novamente transferido, desta vez para a Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, no Vila Nova, onde ficou por cinco anos. Depois retornou para a paróquia na Itoupava Norte, antes de assumir como pároco da Catedral São Paulo Apóstolo, no Centro de Blumenau, função que ocupa há 11 anos.
Ao todo o padre João Bachmann está há 24 anos na cidade, dia a dia renovando a fé dos blumenauenses e participando ativamente da comunidade, por meio de trabalhos sociais, como o Albergue Bom Pastor e a Cozinha Comunitária, que servem mais de cem almoços diários aos necessitados. Um trabalho que vai continuar mesmo após a saída do padre para Indaial. O projeto, segundo o padre, só foi possível graças a solidariedade do povo da região.
Outro projeto acontece no Salão Porta Aberta da Catedral, onde são distribuídas gratuitamente para mais de 60 famílias de baixa renda fraldas geriátricas. Missão que vai ficar a cargo do sucessor em dar continuidade.
Vídeo: Padre João Bachmann deixa mensagem para os fiéis
A tragédia
Um dos momentos mais difíceis e marcantes da história de Blumenau é a tragédia de 2008, que neste mês completa 10 anos. Famílias perderam suas casas, pertences e vidas de entes queridos. Padre João Bachmann recorda que este período foi um dos mais difíceis dele em sua vida de sacerdócio.
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– O maior sentimento de dor já vivido foi nesta tragédia. O Salão Porta Aberta recebeu muitas famílias de Blumenau e região. Naquele momento compartilhamos com eles a dor, o grito, as lágrimas e o sentimento. Isso mexeu muito com as minhas emoções.
Bachmman diz que foi um grande momento de solidariedade e de compartilhamento do sofrimento, onde parecia que tudo era um fim.
– As pessoas gritavam em prantos sobre as mortes e questionavam por que Deus estava fazendo isso com eles, uma resposta que não se tinha para dar. Só restava chorar e sofrer com eles – descreve o sacerdote.
O padre e o homem João Bachmann
O sacerdote que leva multidões nas missas e novenas na catedral do Centro de Blumenau não distingue o homem e o padre. Ele conta que possui uma vida muito simples, e que nesta simplicidade gosta de acolher a comunidade e as pessoas.
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– Vivo intensamente o meu ministério sacerdotal, algo que faço com prazer. Amo ser padre e levantar todos os dias e saber que tenho um longo dia de jornada de trabalho, tanto na igreja, hospitais e na comunidade. Me sinto feliz a cada dia sendo padre – conta convicto de sua escolha.
João confessa que tem o futebol como uma paixão, que sempre alimentou esse sentimento durante os tempos de seminário. Vascaíno, ele disse que aposentou a chuteira há 18 anos, devido à correria das atribuições como padre.
Um até logo, Blumenau
No dia 30 de novembro o padre deve ir para Indaial, onde trabalhará na Igreja Santa Inês. O anúncio foi feito do fim da missa da última quinta-feira. Uma notícia que deixou todos os religiosos muito tristes em Blumenau. Mas o padre deixa o futuro em aberto e a possibilidade de retornar para Blumenau não é descartada. Por ora, ele diz que sai da cidade com ótimas lembranças no coração e que Indaial é logo ali.
– Sou humano e tenho limitações e dificuldades, mas posso dizer que todo o esforço nestes anos eu fiz para melhor servir a comunidade blumenauense. Deixo essa alegria do meu coração e peço perdão se em algum momento deixei de atender alguém – conta.
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O sucessor
Quem assume a função exercida pelo padre João Bachmann é o padre Marcelo Martendal, que herda as responsabilidades exercidas pelo antecessor.
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