– A palavra padre quer dizer pai, então, sou padre duas vezes, sou pai biológico e espiritual. Atuo em três comunidades, faço atendimento psicológico em várias igrejas, dou aulas de catequese, apenas não celebro missas -, conta Osmari Fritz, 53 anos. Ele está casado com Maria Izabel Rocha Fritz, de 43 anos, desde 1991, e tiveram três filhos: Osman, 15; Sara, 13; e Orian Carlos, nove.
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O casal se conheceu em 1987, quando Osmari estava à frente de uma paróquia em Joinville e ela era secretária paroquial. A paixão surgiu aos poucos, ao longo dos três anos que trabalharam juntos pela igreja. Foi um período de muitos conflitos para os dois, que tentavam ignorar e resistir ao que sentiam um pelo outro.
– Sentia culpa, insegurança. Foi um tempo de dores, de encontros e reencontros. Mas nós não queríamos viver uma situação de mentira ou ficarmos escondidos, por isso assumimos a relação -, acrescenta Osmari.
Izabel enfrentava os mesmos dilemas: – A gente começa a perceber que está gostando, mas ao mesmo tempo tem o respeito pela figura do padre. Foi muito difícil para nós mesmos aceitarmos porque ele gostava do que fazia e eu também não pensava na possibilidade de fazê-lo abandonar o sacerdócio. Por isso, ela pediu demissão para afastar-se de Osmari, mas os dois acabaram se reencontrando e o amor falou mais alto.
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Apesar da insegurança e do sentimento de culpa, eles estavam decididos a ficar juntos, só aguardariam mais um ano para que Osmari terminasse um projeto que desenvolvia na paróquia naquela época. Porém, um acontecimento inesperado fez com que antecipassem a união: Izabel descobriu que estava grávida.
– Falei que se fosse a vontade dele, ele poderia continuar com o sacerdócio e eu cuidaria da criança com o apoio da minha família. Mas Osmari estava decidido, a gravidez apenas antecipou sua saída. Infelizmente, o primeiro filho do casal nasceu prematuro e não resistiu.
Além da perda do primogênito, eles também precisaram lidar com a opinião de pessoas contrárias à união e, num primeiro momento, enfrentar a oposição da família de Osmari. Na opinião dele, a culpa caiu principalmente sobre Izabel.
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– A sociedade é machista, então, a culpa não é do padre, mas sim, da mulher -, argumenta.
– Depois que ele saiu, algumas pessoas falavam que eu o havia tirado da igreja, como se ele não tivesse vontade própria -, acrescenta Izabel.
Para os pais dele, a notícia foi um choque, mas Osmari conta que, com o tempo, eles passaram a aceitar a união e Izabel tornou-se a nora mais querida e a responsável por cuidar dos sogros, com os quais dividem a mesma casa atualmente. Já a família de Izabel, que soube do romance junto com a notícia da gravidez, aceitou mais facilmente e demonstrou apoio ao casal.
– Eu sabia que seria mais difícil com os pais dele por ele ser padre -, justifica.
Depois do casamento, Osmari foi cursar psicologia e passou a dedicar-se a trabalhos sociais na igreja e na comunidade, o que o levou para o mundo da política. Hoje, eles convivem harmoniosamente com os amigos e a família e têm, inclusive, a aprovação de membros de paróquias joinvilenses. O casal acredita que o fato de não terem se mudado para outra cidade, como ocorre com muitos padres que decidem largar o sacerdócio para constituir família, ajudou bastante para essa aceitação.
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– Eu estava em paz, se eu fosse embora de Joinville, estaria fugindo de mim mesmo. Acho que isso fez com que fosse integrado novamente.
Os filhos do casal também não acham nem um pouco estranho o fato de o pai ser padre.
– Para nós, é normal, nós crescemos sabendo -, confirma o mais velho.
– Só alguns amigos estranham, não entendem, acham que ele é pastor, aí temos que explicar -, emenda Sara, que também é afilhada de um padre casado.
Osmari sabe que há um longo caminho a percorrer até que a Igreja Católica integre os padres casados, mas acredita que isso pode, sim, acontecer e diz que voltaria a exercer o sacerdócio prontamente.
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– Vai demorar, mas eu acredito que já evoluímos bastante, tanto que consigo estar presente na comunidade e cuidar da minha família. Estranho, né?, falar em ‘filhos do padre’, ‘mulher do padre’, mas a comunidade nos aceita, quer nossa presença e isso faz a diferença para dormirmos serenos e sem culpa.