O padre espanhol Ángel Lucio Balda, julgado juntamente com outras quatro pessoas por um tribunal do Vaticano pelo vazamento de documentos confidenciais, acusou sua colaboradora Francesca Chaouqui, nesta terça-feira, de ser a verdadeira responsável pelo escândalo VatiLeaks 2, uma espiã infiltrada na Santa Sé.
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“Vangloriava-se de ter muita informação sobre minha vida privada, minhas propriedades e meus problemas com as autoridades fiscais”, admitiu o religioso.
Ontem, no tribunal, ele reconheceu ter entregue a dois jornalistas as senhas de documentos confidenciais sobre as obscuras finanças do Vaticano.
Ligado ao Opus Dei, o religioso espanhol descreveu aos juízes as pressões que sofreu de Francesca, sua jovem colega laica da extinta Comissão Pontifícia para a Organização das Estruturas Econômicas e Administrativas da Santa Sé (COSEA), com quem trabalhou por quase um ano.
“Sentia-me ameaçado. Podia me fazer muito mal”, disse Balda durante a audiência de quase duas horas, dedicada à sua relação com Chaouqui, suas conversas, as refeições juntos, as trocas de correspondência e os contatos com personalidades influentes da Itália.
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Grávida de seis meses, Francesca Chaouqui pode, inclusive, ter vínculos com a máfia, garantiu Balda.
Na terça, o espanhol apresentou à corte e à imprensa que cobre o caso sua monografia de graduação da Universidade de Roma, dedicada aos juízes Giovanni Falconi e Pablo Borsellino, célebres juízes antimáfia assassinados pela Cosa Nostra nos anos 1990.
“Acusar-me de ser da máfia, a mim, que nasci na Calábria, é o pior ataque que podem fazer contra mim”, protestou.
“Mundo perigoso”
Especialista em Comunicações, Chaouqui ouvia com atenção cada declaração, agitava-se, movimentava a cabeça em algumas ocasiões e chegou a se irritar quando Balda falou das ameaças das quais teria sido vítima, bem como das curiosas reuniões organizadas por ela com influentes políticos e empresários italianos.
“Vou te destruir perante a imprensa e sabe que posso fazer isso”, escreveu a consultora em uma mensagem, uma ameaça que, para o sacerdote, confirmava o pertencimento a “um mundo perigoso”, como os serviços secretos italianos.
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Chaouqui, que não troca nem uma palavra com Balda, apesar de se sentar ao seu lado no tribunal, foi acusado pelo sacerdote de ser a verdadeira instigadora do escândalo, uma manipuladora.
“Senti que sabia de muitas coisas sobre mim (…), me senti, inclusive, seguido”, contou o padre espanhol.
A consultora, que repentinamente saiu correndo da sala com a mão na boca, precisou ser atendida pelos médicos do Vaticano.
Em seguida, seu advogado explicou que sua cliente poderia vir a precisar de internação devido à gravidez, razão pela qual não se exclui que o julgamento seja adiado até que tenha alta.
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O julgamento afeta indiretamente o papa Francisco, comprometido com uma difícil reforma da cúria romana, após estar envolvida em casos de corrupção de má gestão de seus recursos.
O processo foi retomado na segunda-feira, após três meses de recesso com o comparecimento de quase todos os envolvidos. Cinco pessoas estão sendo julgadas, entre elas dois jornalistas italianos, pelo vazamento de documentos confidenciais sobre as finanças da Santa Sé.
A próxima audiência foi marcada para a sexta-feira, embora possa ser adiada, devido ao estado de saúde de Francesca Chaouqui.
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