Durante as quatro semanas da competição, constatou-se que o Brasil pode ter cidades mais seguras, trânsito mais civilizado, espetáculos melhor planejados.

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Além da tragédia dentro de campo, que impõe uma revisão profunda na organização do futebol brasileiro, a segunda Copa do Mundo em nosso país deixa desafios importantes para os governantes e para os cidadãos. Durante as quatro semanas da competição, constatou-se que o Brasil pode, sim, ter cidades mais seguras, trânsito mais civilizado, espetáculos melhor planejados e todos os benefícios proporcionados por uma visão multicultural da convivência humana. Fomos um país melhor durante o Mundial. Nossos aeroportos funcionaram, nossos hotéis e nossos restaurantes prestaram bons serviços aos visitantes, nosso povo recebeu os estrangeiros com hospitalidade e cortesia. Nesse contexto, uma pergunta se impõe: por que não podemos fazer isso sempre?

As instituições e a sociedade têm o dever de oferecer respostas razoáveis, para que sejam satisfeitas demandas que a Copa amplificou. Lembremos que, desde os primeiros movimentos para a organização da Copa, o Brasil se viu desafiado por setores desconfiados com a nossa capacidade de viabilizar o mais espetacular evento do esporte. Expostas nossas deficiências crônicas, previu-se repetidamente tudo o que não daria certo. O conjunto de informações pessimistas formava um cenário de desolação. Os mais exaltados chegaram a sugerir que o Brasil desistisse de sediar o Mundial, para que fôssemos poupados do vexame de um fracasso.

Ao contrário, já temos legados importantes, não necessariamente na forma de obras, mas de referências e valores. É essencial que se reconheça o êxito, nas 12 cidades-sede, dos esforços na área de segurança, do bem-sucedido planejamento dos transportes, do trabalho dos voluntários e do comovente envolvimento da população no acolhimento aos visitantes. O país não pode, no entanto, ficar na dependência de mutirões ocasionais, para que serviços essenciais funcionem. Uma Copa pode ser muito mais do que a oportunidade de reafirmação de competências convocadas para desafios específicos. Deve ficar como lição de que é possível oferecer respostas duradouras a desafios históricos, quase sempre dependentes da boa vontade do setor público.

O Brasil tem à sua disposição a partir de agora a tecnologia da Copa, resultante da organização de um espetáculo grandioso que já beneficiou outras nações-sede. Para usufruir disso tudo, o país precisa menos de recursos e mais de determinação. A melhor lição, para governos e instituições privadas, foi dada pela sociedade. Os brasileiros se submeteram a testes rigorosos e foram aprovados, com ressalvas previsíveis. Teremos agora os Jogos Olímpicos de 2016, quando poderemos aplicar o que aprendemos com a Copa. O ideal é que a mentalidade de receber bem – ou do que poderíamos chamar de espírito da Copa – se torne um bem permanente.

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