O pacote de medidas lançado na semana passada pelo governo brasileiro para o setor de infraestrutura deve alavancar ainda este ano os investimentos externos diretos no país, mas também os recursos estrangeiros destinados à bolsa de valores.
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Apesar de mudança no primeiro semestre na avaliação de alguns analistas sobre a economia brasileira, que passou a ter sua solidez contestada, os investimentos externos devem bater recorde este ano, atingindo US$ 55 bilhões, e crescer ainda mais em 2013, quando são estimados em US$ 60 bilhões.
Investir no Brasil é uma boa opção garantiram especialistas reunidos na semana passada em seminário no Rio de Janeiro, entre os quais representantes da Bloomberg Brazil Economic Summit Ana, da Vale e das agências de classificação de risco Fitch Ratings e Standard & Poors. Essa perspectiva ganhou novo fôlego com o anúncio pelo governo de projetos para obras de infraestrutura.
Graças ao capital externo, que apresenta saldo positivo de R$ 1,9 bilhão em 2012 (até 10 de agosto), o índice da Bolsa de São Paulo (Ibovespa) avançou cerca de 12% desde o final de julho, quando o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, defendeu esforços para o fortalecimento da moeda comum e no refinanciamento dos países endividados do bloco.
Segundo dados da consultoria EPFR Global, o país recebeu a terceira maior alocação dos fundos de ações entre os emergentes no ano, perdendo apenas para China e Coreia do Sul.
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O desempenho da bolsa brasileira e a manutenção do fluxo de recursos externos ao país, porém, depende da consolidação em duas frentes.
No Exterior, há necessidade de uma solução efetiva para reduzir o déficit público na zona do euro e retomar o crescimento econômico na China e nos Estados Unidos. E no cenário interno, o fluxo de capitais tende a aumentar ou diminuir conforme o cronograma de ações essenciais ao desenvolvimento da atividade econômica.
Visões de quatro especialistas sobre o segundo semestre no mercado:
Reginaldo Nogueira – Economista e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC)
O otimismo exagerado visto até 2010, quando a economia cresceu 7,5% por conta da demanda interna, cedeu lugar ao pessimismo devido aos problemas na infraestrutura do país.
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– É como um gigante com pés de barro – afirma.
O Brasil sofreu mais o impacto da crise global do que os demais emergentes, como China e Índia, que acusaram desaceleração na economia, mas ainda mantêm taxas elevadas de crescimento. O Brasil deve continuar atraindo investimentos externos, não só neste semestre, como nos próximos anos e décadas, pois é um dos países com maior potencial devido ao porte do mercado e dimensão de riquezas. Esse fluxo, em parte, se deve à falta de alternativas no mundo num momento de crise nas finanças na Europa, desaceleração na China e baixo crescimento nos EUA.
Débora Morsch -Diretora da Zenith Asset Management
Por conta de projeções de crescimento bem abaixo do registrado dois anos atrás, a tendência será de manutenção da volatilidade na bolsa. Operações de compra e venda visando lucro no curto prazo devem predominar nos próximos meses, mas na virada do ano pode ocorrer uma mudança influenciada pela possibilidade de avanço das obras de infraestrutura necessárias para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Os investidores, portanto, precisam ser seletivos, prospectando ações de empresas com maior potencial de resultado econômico, entre as quais podem se destacar dos setores de transporte, de energia e de logística. Essa virada depende de a economia brasileira engrenar um aumento em 2013 entre 3% e 4%, praticamente o dobro do crescimento estimado para este ano.
Geraldo Soares – Vice-presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI)
O mercado trabalha com expectativas, e as seguidas diminuições nas projeções de crescimento provocam desconforto nos investidores, que acabam precificando essa perspectiva. Mas o receio em relação à crise financeira na Europa ainda é o principal motivo da volatilidade na bolsa, que atinge vários tipos de ativos, inclusive as commodities agrícolas e minerais em decorrência da desaceleração da atividade na China: “a contração de um ponto percentual no PIB chinês tem forte impacto no Brasil, que é um dos seus principais produtores de commodities”. O mercado vive em compasso de espera dos investimentos em infraestrutura, que demoram para mostrar resultados efetivos. Enquanto houver indefinição no cenário europeu, a tendência será de continuidade da flutuação dos preços das ações.
Pedro Silveira – Economista-chefe da TOV Corretora
A reação da bolsa brasileira a partir do final de julho, quando o Banco Central Europeu (BCE) prometeu esforços para ajudar os países endividados do bloco, sustenta-se pelo aumento da participação do capital estrangeiro. Há muito dinheiro em circulação no mundo por conta da política de juros baixos desencadeada por bancos centrais como estratégia para enfrentar a crise financeira. O problema é que praticamente todas as grandes economias estão em recessão ou apresentam crescimento muito baixo, como a Alemanha, o principal credor europeu e até pouco tempo considerada imune à crise. No Brasil, as empresas revelaram, no último trimestre, resultados piores do que nos primeiros três meses do ano, e não há perspectiva de mudança dessa rota no curto e médio prazos.
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