Pacientes diagnosticados com dengue sofrem com a espera por internação em Joinville. Este é o caso de Bianca, de 11 anos, que saiu da escola por volta do meio-dia de segunda-feira (27) ardendo em febre e foi levada pelo padrasto para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leste, do bairro Aventureiro. Desde então, a menina aguardava por um leito no hospital Infantil. Ela foi atendida nesta quarta-feira (29) e foi liberada. A recomendação médica é que trate a doença em casa.
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Como funciona a central de atendimento para a dengue em Joinville
Jaison Roberto Palhares conta que a unidade de saúde estava lotada quando levou a enteada e também reclama que não é servido alimentação no local, o que fez com que a criança ficasse cerca de 24 horas sem comer. Além da criança, a mãe, Mairis Sousa dos Santos Colucci, 26, e a avó também positivaram pra doença e se revesam pra acompanhá-la.
Mairis diz que esta não foi a primeira vez que levou a filha na UPA. No fim da semana passada, com sintomas mais leves, desconfiou que a menina estivesse com dengue e solicitou ao médico que fizesse o exame. No entanto, conta que o profissional se negou e prescreveu um medicamento para gripe. Com isso, o estado de saúde piorou.
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— Eu levei ela na quinta-feira (23 de março). Falei para o médico que ela estava com dengue, insisti para fazer o exame, mas ele se negou e passou Azitromicina pra ela. Ontem, a médica disse que as plaquetas [sanguíneas] estão baixas. O estado é grave, precisa de internação — relata a mãe.
Com a espera de leito no hospital Infantil há dois dias, a mulher chegou a achar que a criança precisasse ser levada para outra cidade para conseguir vaga para internação. Ela disse estar de mãos atadas com esta incerteza e o desespero e indignação só aumentam a cada hora que passa.
— Se ela tivesse passado por exames de dengue na semana passada, a gente já estava tratando a dengue antes. Ela não tinha chegado a esse quadro.
O que diz a prefeitura
Por nota, a Secretaria da Saúde informou que a paciente Bianca deu entrada na UPA Leste às 12h15min de segunda-feira e foi atendida às 15h. O diagnóstico para dengue foi confirmado e, em seguida, por volta das 17h30min, houve a solicitação para a Central de Regulação por um leito de internação.
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O governo municipal explica que a Central é de responsabilidade estadual, portanto, enquanto não há a liberação da vaga por parte do Estado, a criança permanece em acompanhamento médico e de enfermagem na UPA Leste.
A paciente Mairis, por sua vez, mãe de Bianca, não necessitou de internação, segundo a prefeitura.
Ainda conforme a secretaria de Saúde, entre a meia-noite e o fim da tarde desta terça-feira, foram atendidos cerca de 530 pacientes. O tempo de espera para classificação e atendimento médico foi de aproximadamente 40 minutos neste período. Na ocasião, seis médicos clínicos gerais e dois pediatras estavam prestando atendimento no local.
UPA não fornece refeição
Questionada sobre o assunto, a secretaria de comunicação (Secom) da prefeitura informou que, por não se tratar de uma unidade de internação com caráter temporário até o paciente ser transferido a um hospital, as UPAs não têm fornecimento de refeição, por isso, a família tem a liberação para levar comida ao paciente.
Com relação ao médico ter se negado a fazer o exame para dengue, a Secom explica que a tomada de decisão faz parte da condução clínica do profissional da saúde sobre o manejo do paciente. Caso ele avalie que exista uma associação de sintomas que indiquem dengue, solicita-se este teste. Da mesma forma, dependendo dos sintomas do paciente, o responsável pode, sem a necessidade da análise, diagnosticar a doença.
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Por se tratar de um acessório utilizado pelo médico para dar um diagnóstico, portanto, familiares e pacientes não têm o direito de solicitar exames, já que a tomada de decisão é do profissional. Na época do pico de casos de Covid-19, qualquer pessoa que chegava com sintomas passava por teste, no entanto, com a dengue a situação é diferente, reforça a comunicação. Necessita-se de uma associação de sintomas e um histórico compatível com a doença para que seja solicitado exames.
Joinville tem mais de 1,4 mil confirmados de dengue
Desde 1° de janeiro de 2023, Joinville já confirmou mais de 1,4 mil infecções por dengue e uma morte em decorrência da doença. Os bairros com mais casos são o Comasa, com 248 confirmados, Bom Retiro (139) e Nova Brasília (133). O pico de confirmações foi na semana de 18 de março, quando 406 pessoas foram diagnosticadas.
Com a epidemia da doença na cidade, somada a alta demanda de pacientes com sintomas gripais, as unidades de saúde de Joinville têm registrado filas e horas de espera para os atendimentos. Em vista de desafogar o sistema público de saúde, o município anunciou a criação de uma central especializada para dengue para pacientes a partir dos 15 anos que apresentem sintomas leves e moderados da doença. Para casos graves, a referência continua sendo as UPAs.
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A unidade, que fica na Unisociesc Campus Park, no bairro Boa Vista, abriu na terça-feira (28) e, neste primeiro dia, 210 pessoas foram atendidas.
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Em 2022, Joinville registrou 21,3 mil casos de dengue e 19 mortes. No ano passado, de acordo com o levantamento nacional, Joinville chegou a ter 21.420 casos prováveis da doença, como denomina o Ministério da Saúde, se tornando a quarta cidade com mais casos no país. Os números indicam uma incidência de 3.542 casos a cada 100 mil habitantes.
Estado decreta situação de emergência
A dengue também é uma preocupação em outras cidades do Estado e, após o aumento de casos, o governo do Estado decretou situação de emergência para tentar melhorar os espaços, que segundo a secretária de Estado da Saúde, Carmen Zanotto, não são adequados na maior parte das unidades.
A medida foi formalizada na terça-feira em edição extraordinária do Diário Oficial do Estado (DOE) e prevê a reforma de seis hospitais estaduais da Grande Florianópolis.
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