O sorriso no rosto reflete o fim de uma agonia que perdurou por anos. Ashley Costa passou por cirurgia de redesignação sexual na última terça-feira (15). O procedimento ocorreu no Hospital Beatriz Ramos, em Indaial, e foi pago pelo governo de Santa Catarina. A paciente conseguiu na Justiça que o Estado arcasse com os custos. Isso porque ela ficou dois anos na fila de espera do SUS sem perspectiva de atendimento e enfrentou uma série de problemas de saúde por causa da demora.

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A situação é inédita em SC.

— É um passo importante. Só quem vive isso sabe o que passa em um corpo que não se reconhece — desabafa Ashley, moradora de Florianópolis que já faz planos para a nova vida.

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No fim de junho, a 1ª Turma Recursal de Santa Catarina deu 30 dias para que o governo do Estado providenciasse a cirurgia da paciente. Sem hospital público que faça o procedimento em SC, a solução foi recorrer à rede privada. A paciente foi operada pelo médico José Carlos Martins, com clínica em Blumenau e referência em cirurgias trans no Brasil. Ele fez as cirurgias de redesignação sexual de gêmeas que tiveram as histórias retratadas na série da HBO “Gêmeas Trans: Uma Nova Vida”.

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Com a experiência de uma década no atendimento a pacientes trans, Martins cita a média de 15 anos de espera por para uma cirurgia transexualizadora pelo SUS e o impacto que essa demora tem nos aspectos emocional e social dos pacientes. O especialista defende a necessidade de uma política pública eficaz voltada às pessoas trans. Dados atualizados da Secretaria de Estado da Saúde mostram 114 pessoas aguardando por algum procedimento do gênero em SC.

A história de Ashley é retratada em uma reportagem especial da NSC, feita em abril deste ano, que mostra o drama de pacientes de Santa Catarina à espera de cirurgias do processo transexualizador. A falha na prestação do serviço, inclusive, levou o Ministério Público a cobrar do governo do Estado o que tem sido feito, efetivamente, para solucionar a falta da prestação do serviço. SC se defende alegando que escassez de hospitais habilitados no Brasil para esses procedimentos. A reportagem especial intitulada “Posso ser eu?” foi finalista do Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos.

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