Aos 86 anos de idade, o engenheiro aeronáutico Ozires Silva mantém uma visão de futuro difícil de encontrar em pessoas muito mais jovens. A fala discreta, pausada, envolvida por uma rouquidão característica da idade, além do corpo pequeno e do caminhar vagaroso, podem ser típicos de alguém que curte a aposentadoria e relembra memórias do que já viveu. Ele não: vai na contramão do clichê, olha para o futuro e segue ativo, semeando otimismo e receitas para mudar a mentalidade das pessoas e permiti-las transformar o Brasil.
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Essas mensagens positivas e o compromisso com a inovação que ele tanto defende, Santa Catarina tem de sobra: “O Estado de vocês é o modelo de desenvolvimento ideal para o Brasil. O que vejo quando venho aqui é o que vi na Califórnia, que um dos 50 entes federados mais próspero dos Estados Unidos”, diz.
O entusiasmo para fazer o Brasil dar certo é tão grande quanto a indignação pelo fato de o país não ter um Prêmio Nobel sequer, e concentrar a pauta de exportações em commodities. Ele, que ajudou a criar um dos aviões mais importantes em atividade até o hoje – o Embraer Bandeirante – e viu muita gente não acreditar que o maior país da América Latina teria capacidade de desenvolver um equipamento tão sofisticado como as aeronaves, lamenta que os fatos negativos chamem mais a atenção do que os positivos.
“O brasileiro não acredita em si mesmo. Quando algum de nós se destaca na ciência, no empreendedorismo, na inovação, parece que uma torcida contrária se forma com o objetivo de apontar falhas e desvalorizar o sucesso. Infelizmente, isso não é só impressão. Numa reunião em Estocolmo, na Suécia, com a comissão do Nobel, ouvi deles o relato de que sempre que um brasileiro era indicado a receber a honraria, chegavam cartas do próprio Brasil denegrindo o candidato. Isso é muito triste”, lamenta.
Ozires Silva conversou com a nossa equipe após participar de um evento promovido por uma empresa de tecnologia de Florianópolis, especialista no desenvolvimento de soluções baseadas na computação em nuvem. Tudo a ver com o brasileiro que entendeu o real significado do verbo voar, deu asas ao próprio sonho e não vê limites para o crescimento.
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Ouça a entrevista: