O poder de encanto do clássico O Mágico de Oz (1939) não se resume a seus aspectos técnicos, embora seu impacto deva muito a uma surpreendente aplicação de cores – ainda incipientes num tempo em que até o glamour de Hollywood se restringia aos tons de cinza. O que fica da superprodução Oz – Mágico e Poderoso, que volta à obra do escritor L. Frank Baum tantas décadas depois, é não muito mais mais do que isso: o apuro visual e a pirotecnia do 3D.
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Na verdade, a Disney já voltara à terra encantada por onde flanou a menina Dorothy com O Mundo Fantástico de Oz (1985). No longa, em cartaz em 28 salas de Porto Alegre, a protagonista dos títulos anteriores sai completamente de cena. Trata-se, agora, de uma “prequel”, termo da moda em Hollywood para designar acontecimentos anteriores àqueles vistos em determinado filme. Quem a protagoniza é o próprio mágico – interpretado por um James Franco insosso, aquém de suas três companheiras de cena, as bruxas vividas por Michelle Williams (Glinda), Mila Kunis (Theodora) e Rachel Weisz (Evanora).
A estrutura narrativa é parecida com a do título original: Oz, um ilusionista fanfarrão, vive num Kansas desprovido de cores, arrasando corações de garotas interioranas e fazendo seus truques mequetrefes, até ser capturado por um tornado, que o joga no universo multicolorido habitado por duendes, macacos alados e espantalhos falantes. Só pode ser ele o mago que, conforme a crença dos povos de Oz, chegará dos céus para libertá-los do domínio das forças do mal – mesmo que se trate de um sujeito egoísta, atrapalhado e com poderes limitados.
Ao esboçar o início da mitologia, tentando humanizar o mágico e contando sua chegada a Oz, a Disney repetiu o que fizera com Alice no País das Maravilhas (2010): achatou os personagens e aplicou códigos dos filmes de ação à trama, diminuindo seu encanto. O próprio James Franco atua num registro próximo ao de Johnny Depp (que foi especulado para ser Oz). Com menos carisma, contudo.
O processo de infantilização contempla truques de sedução que vão da inserção de personagens fofos (a menina de porcelana) às calças de couro de Mila Kunis. Mas o fundamental para “pegar” o espectador, como em Alice, é o impacto visual. Pode-se dizer que Oz – Mágico e Poderoso segue a tendência de um certo tipo de fábula contemporânea que concentra sua riqueza na casca, e não no recheio: é bonito e contém apelos aos sentidos mais básicos, mas seu superficialismo garante vida curta na memória do público.
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Obsessão: prequels
A onda das “prequels”, palavra da moda que significa prólogo e que tomou conta de Hollywood, explica-se pela lógica das refilmagens: como o público anda preguiçoso, preferindo filmes sobre os quais possui mais informações prévias, na comparação com aqueles que ainda precisa descobrir, é mais garantido investir em “mitologias” bem conhecidas.
Acontece que prequel (ou “prequela”, termo não dicionarizado em português) oferece um universo ainda mais restrito de possibilidades, visto que supõe uma construção dramática com final conhecido. No fim de semana em que a onda chega ao Brasil (Tainá – A Origem, que também estreia nesta sexta-feira, é uma prequel), cabe questionar até onde vai isso tudo.
O Mágico de Oz (1939) era uma adaptação de um livro que teve diversas sequências – por que investir num prólogo e não simplesmente adaptar uma delas? Com Planeta dos Macacos (1968) a proeza foi não apenas fazer uma prequel (Planeta dos Macacos – A Origem, de 2011) depois de diversas sequências, uma refilmagem e uma série de TV, mas anunciar uma sequência. Isso, uma sequência da prequel. Que não será Planeta dos Macacos, o filme original.
Não faltam evidências para se afirmar que falta criatividade em Hollywood atualmente.
Oz: Mágico e Poderoso
De Sam Raimi. Com James Franco, Michelle Williams, Rachel Weisz, Mila Kunis, Zach Braff, Joey King e Tony Cox.
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Fantasia, EUA, 2013. Duração: 128 minutos. Classificação: livre.
Estreia nesta sexta-feira nos cinemas, em cópias 3D e convencionais, dubladas e legendadas.
Cotação: 2 de 5 estrelas.