Um nicho de consumo de alto padrão abastecido principalmente pelo mercado externo começa a atrair mais produtores em Santa Catarina: a criação de ovelhas. Novas indústrias estão surgindo no Estado para a fabricação de linguiça, salame, queijo, iogurte e até sorvete de leite de ovelha.
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O grande atrativo deste tipo de criação é o valor agregado que os diferentes tipos de corte do cordeiro e os produtos manufaturados produzidos a partir do leite da ovelha trazem para o produtor.
Confira a galeria de fotos das ovelhas e as novas indústrias
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A comparação feita em um açougue de Chapecó (veja arte na próxima página) mostra a vantagem de quem vende a carne dos cordeiros. Cortes similares do animal, comparados com os da carne bovina, trazem um ganho que vai de 43% (costela) até 75% (carré de cordeiro e filé simples bovino).
A diferença no preço do quilo é ainda maior quando comparados os cortes com carnes suína e de frango. O queijo feito com leite de ovelha é comercializado quase três vezes mais caro do que o feito com leite de vaca.
O efeito deste mercado atrativo está sendo visto nos campos catarinenses. A atividade, que até a década de 1980 se concentrava no Planalto Serrano, para a produção de lã e pelego para a montaria, se expandiu para outras regiões, com destaque para o Sul e Oeste.
A carne de ovelha já virou atração em restaurantes de Chapecó, onde o pernil e o risoto de cordeiro estão entre os pratos mais apreciados.
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De acordo com o médico veterinário e pesquisador da Epagri de Lages, Volney Silveira de Ávila, a atividade que antes era informal vem recebendo investimentos em melhoramento genético que refletiu na qualidade do produto. Atualmente, SC já faz bonito em exposições nacionais da raça, como a Expointer-RS e Feinco-SP.
– Hoje temos um padrão genético elevado e animais de ponta – explica Volney Silveira de Ávila, que também é diretor técnico da Associação Catarinense de Criadores de Ovinos.
Um dos resultados é que, se antes os criadores levavam seis a sete meses para produzir um cordeiro com 35 quilos, agora conseguem o mesmo resultado em três meses. Além disso, foram construídos sete frigoríficos de ovinos no Estado. Ávila diz que isso permite oferecer um produto de qualidade e inspecionado.
Produção é herdada por novas gerações
Há três anos, o ovinocultor Dagoberto Toledo investiu R$ 1,5 milhão na construção do frigorífico Guatapará, em Guatambu. Antes, ele abatia uns 30 cordeiros por mês, de forma terceirizada. Com a unidade própria, começou abatendo 200 animais por mês e, atualmente, está com mil cabeças mês.
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Toledo tem inspeção estadual e busca a federal para poder vender para o centro do país, aumentando a lucratividade. Sua meta é, em dois anos, atingir a capacidade total de abate, que é de 5 mil cordeiros por mês. Ele destaca que um dos motivos para o investimento é que 2/3 da carne ovina consumida no Brasil é importada, principalmente do Uruguai e Nova Zelândia.
O empresário e ovinocultor acredita que a população está começando a diferenciar o que é uma carne de ovelha, que é de animais adultos, com mais de dois anos, de um cordeiro, que é um animal jovem, com menos de um ano.
Segundo ele, a carne do cordeiro é mais tenra e macia. A carne dos animais adultos abatidos no frigorífico Guatapará tem outro destino, que é a fabricação de kibe e linguiça. Neste segundo semestre será lançado o salame de carne de ovelha.
A criação de ovelhas já é uma tradição da família Giongo, que tem um rebanho de 60 animais, no interior de Águas de Chapecó. A criação começou com Pedro Giongo, já falecido, e seguiu com a mulher, Leoni Giongo.
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– Eu fiquei aqui cuidando pois gosto dos bichinhos – explica.
Para isso ela conta com a ajuda de filhos e netos. A criação, que praticamente dobrou nos últimos quatro anos, diverte a família e garante a sustentabilidade econômica da família.
Rebanho em plena expansão
O rebanho de ovinos em SC cresceu de 250 mil cabeças na década de 1980 para as atuais 300 mil, segundo o médico veterinário e pesquisador da Epagri de Lages, Volney Silveira de Ávila. Ele estima em 70 mil o número de produtores ligados à atividade. Desde a década de 1990, a Epagri vem realizando cursos profissionalizantes para produtores e agroindústrias, com foco no manejo e industrialização.
Ávila destaca que a atividade tem espaço para crescimento pois a maioria da carne e do queijo de ovelha são importados. Ele afirma, ainda, que a carne de cordeiro tem sabor diferenciado.
Com o crescimento da atividade leiteira no Estado, a Epagri montou um centro de pesquisa em Lages, com 50 animais, e outro de difusão tecnológica em São Miguel do Oeste, também com 50 animais.
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Ávila diz que o desafio agora é ganhar em escala de produção para industrializar o produto e ter melhor resultado. Atualmente, o produtor ganha cerca de R$ 5 por quilo vivo de ovelha e entre R$ 12 e R$ 15 pela carcaça. O pesquisador da Epagri lembra que a atividade pode ser desenvolvida em pequenas áreas com mão de obra familiar, o que reforça o potencial de produção no Estado.
Apesar de ter iniciado a criação de ovelhas leiteiras há apenas seis anos, Santa Catarina já tem o maior rebanho leiteiro do país, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos Leiteiros, o chapecoense Érico Tormen. São entre 2,5 mil e 2,8 mil animais mantidos no Estado, de um rebanho nacional de 6 mil cabeças. A produção de leite em SC está em mil litros mês e deve chegar a 1,5 mil até o final do ano.
Queijo, iogurte e até sorvete
O chapecoense Érico Tormen foi um dos pioneiros na importação de raças ovinas leiteiras para SC. Em 2006 ele comprou 30 fêmeas e um macho da raça Lacaune, de um cabanha de Viamão (RS).
Atualmente, sua propriedade, a Cabanha Chapecó, tem 1,2 mil animais, sendo 70% de raça leiteira. Mas metade dos 250 litros diários vão para alimentar os cordeiros. O restante é vendido para uma indústria de queijo de ovelha em Chapecó. O preço do litro que o produtor recebe é R$ 2, o triplo do leite de vaca (R$ 0,65).
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Mas, para agregar ainda mais valor à produção, há dois anos a cabanha iniciou um projeto de produção de iogurte de leite de ovelha. Depois de vários testes foram desenvolvidos três sabores: abacaxi, morango e mamão.
O produto já foi lançado em feiras da região, mas ainda não está sendo comercializado. A produção em SC é pioneira, mas no RS já existe uma fábrica. O que deve ser inédito é o sorvete de iogurte de ovelha, que já foi testado e deve ser lançado em setembro.
A produção de queijo de ovelha, também chamado de pecorino, é outra aposta da região. O empresário Jorge Zanotto, de Chapecó, montou há cinco anos um laticínio para a produção de queijo de vacas Jersey, com a marca Gran Paladare.
Um ano depois, começou também a criação de ovinos de leite e desenvolveu um queijo pecorino, que atualmente abastece as principais redes de supermercado de SC.
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Ele tem 200 animais e, atualmente, industrializa 300 litros por dia, sendo 30% de produção própria e o restante compra de outros dois produtores.
A produção do pecorino representa 30% da industrialização. Estes queijos saem da fábrica com preço entre R$ 40 e R$ 60 e, nos supermercados, chegam a custar R$ 96 o quilo. Por enquanto, ele comercializa apenas em SC.