Morreu na madrugada desta terça-feira (21), em São Paulo, aos 61 anos, o diretor de redação do jornal Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho. Segundo a Folha, o jornalista, advogado e escritor estava internado no Hospital Sírio Libanês, na capital paulista, e lutava desde 2017 contra um câncer originado no pâncreas.
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Otavio Frias Filho esteve à frente da publicação por 34 anos, tendo assumido a direção de redação em 1984, aos 26 anos. Foi o responsável por consolidar o “Projeto Folha”, conjunto de medidas editoriais que estabeleceu normas de escrita e conduta e que é considerado um dos marcos da imprensa brasileira. Esses princípios nortearam também o Manual de Redação, lançado em 1984, o primeiro livro do gênero colocado à disposição do público.
Filho do também editor Octávio Frias de Oliveira – empresário que adquiriu o jornal em 1962 , ao lado de Carlos Caldeira Filho –, Otavio fez parte da equipe que decidiu abrir as páginas do periódico, em 1974, para a publicação de opiniões de diversas vertentes durante o período do regime militar.
Natural de São Paulo, Otavio era bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e também cursou pós-graduação em Ciências Sociais. Autor dos livros Queda Livre (2003), Seleção Natural (2009) e Cinco Peças e Uma Farsa (2013), atuou ainda como dramaturgo, tendo diversas peças encenadas na capital paulista. Nos últimos anos, escrevia uma coluna no caderno Ilustríssima, sobre a área cultural.
O jornalista deixa a mulher, Fernanda Diamant, editora da revista literária Quatro Cinco Um, e duas filhas. O velório ocorrerá a partir das 11h30min, e a cerimônia de cremação, às 14h, em Itapecerica da Serra.
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Herdeiro
Nascido em 7 de junho de 1957, o jornalista herdou o jornal do pai, Octavio Frias de Oliveira, que comprou a Folha com Carlos Caldeira Filho, em 1962. “Fui crescendo, e a ideia de trabalhar (no jornal) não me passava pela cabeça. Tanto que fui estudar Direito”, disse ele, em 1988, em entrevista à revista Playboy.
Por persistência do pai, Frias Filho passou a contribuir com a produção dos editoriais do diário em 1975, aos 18 anos, sob supervisão do editor Cláudio Abramo, enquanto ainda cursava a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Em 1978, o então estudante chegou a ser detido pela Polícia Militar enquanto fazia campanha para os candidatos a deputado Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Suplicy. Dois anos depois, em 1980, passou a integrar o conselho editorial da Folha.
Do conselho, ele assumiu a direção de Redação do jornal em maio de 1984, substituindo Boris Casoy, e ficou responsável pelo conteúdo do jornal, enquanto o irmão Luiz Frias ficou com a gestão financeira da empresa. Coube a Frias Filho defender o “Projeto Folha”, que já estava em gestação e propunha mudanças no produto, divulgando os princípios editoriais do jornal enquanto abria espaço para colunistas de diversas correntes. Ao assumir a direção da Redação, disse que a Folha se caracterizava por ser “crítica”, “no sentido de fazer com que cada objeto de notícia seja, ao mesmo tempo, objeto de crítica, ainda que esta consista em analisar um fato”.
No início, a chegada de Frias Filho à chefia do jornal causou resistência por parte dos jornalistas antigos, especialmente os repórteres especiais, contrários à padronização de textos imposta pelo Manual da Redação e por avaliações periódicas que passaram a ser estabelecidas. Seguro de suas opções, o jornalista trocou peças-chave da Redação por jornalistas mais jovens, e a Folha passou a ser comandada por profissionais na casa dos 30 anos. Em entrevista à revista Imprensa, em 1987, afirmou que via a produção jornalística como uma indústria, ao defender a existência do manual, quando comemorava crescimento da tiragem do jornal que era associado às mudanças. Já em 2018, na quinta revisão do manual, voltou a defender o uso de critérios objetivos para qualificar o jornalismo, citando a seção Erramos, criada em 1991.
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Nos anos 1990, Frias Filho e três jornalistas foram processados pelo então presidente Collor, que não gostou de duas notas econômicas publicadas pela Folha. A resposta do diretor editorial foi a publicação de uma carta aberta ao presidente da República na capa do jornal. “A intenção de Frias Filho era chamar a atenção da opinião pública para a dimensão política da ação do presidente: a de intimidar um órgão de imprensa”, escreveu, na própria Folha, no especial de 80 anos do jornal, o jornalista Mario Sergio Conti, autor de Notícias do Planalto. “Seu governo será tragado pelo turbilhão do tempo até que dele só reste uma pálida reminiscência, mas este jornal – desde que cultive seu compromisso com o direito dos leitores à verdade – continuará em pé”, dizia Frias Filho, em trecho da carta.