A pesquisadora de Santa Catarina, Ana Paula Zapelini de Melo, que desenvolveu um método inovador para avaliar a contaminação de pescado por petróleo, recebeu o prêmio de Pesquisadora Destaque 2024 na Brazil Conference, em Harvard. A premiação foi em abril. Agora, ela concorre ao Grande Prêmio CAPES de Tese, o “Oscar da pesquisa”.
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Aluna do pós-doutorado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a premiação dá ainda mais gás para Ana seguir na ciência, e poder inspirar outras mulheres e meninas na pesquisa.
A premiação aconteceu nas duas instituições mais renomadas do mundo, a Universidade de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), em Boston, nos Estados Unidos. O que a levou até lá foi o desenvolvimento de um método inédito para avaliar a contaminação por petróleo do pescado, usando uma cafeteira de cápsulas.
Ana Paula é aluna da UFSC desde a graduação, na área de Ciência de Alimentos.
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— Logo no início da minha graduação eu já tinha muito interesse, muita curiosidade em trabalhar em um laboratório de análise de alimentos — explica.
E foi justamente o que ela fez: no doutorado, buscou a Seção Laboratorial Avançada de São José (gerida pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Sul) e pôde começar a pesquisa.
UFSC desenvolve método inovador para avaliar a contaminação de pescado por petróleo
Na época, em 2019, uma grande quantidade de petróleo cru poluiu as praias do Nordeste brasileiro. No laboratório, ela ajudou a desenvolver uma maneira de avaliar se o pescado destas regiões era seguro para consumo. Com isso, transformou a necessidade do Ministério da Agricultura e Pesca em sua pesquisa de doutorado.
— Essas conquistas são um lembrete de que as mulheres são capazes de liderar pesquisas inovadoras e influenciar positivamente nosso mundo. Espero que minha jornada inspire outras mulheres a perseguirem seus sonhos e acreditarem em seu próprio potencial, independentemente dos obstáculos que possam enfrentar.
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Veja fotos da pesquisadora
Como a pesquisa foi desenvolvida
O método desenvolvido por Ana soa um tanto incomum: ela usou uma máquina de café expresso para simular uma técnica chamada de Extração por Líquido Pressurizado (PLE, do inglês “Pressurized Liquid Extraction”). A PLE é utilizada para extrair compostos de uma matriz sólida ou semissólida, como amostras ambientais, alimentos ou materiais biológicos — no caso, o pescado.
A pesquisadora adaptou cápsulas de café para extração dos contaminantes vindos do petróleo. Era como se preparasse “cafés expressos” de peixe, camarão, polvo, ostra, dentre outros animais, que foram colocados em uma máquina de café convencional para extrair os contaminantes e medir a contaminação dos pescados.
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O método emergencial desenvolvido no laboratório foi usado para acelerar esta avaliação, e conseguir responder rápido se o pescado poderia ou não ser consumido.
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— Naquele momento do desastre, não havia disponível no Brasil um método analítico oficial — relembra. — A ideia deu certo e nós conseguimos validar esse método de acordo com as diretrizes do Ministério da Agricultura e também da União Europeia. Conseguimos implementar esse método como o oficial do Brasil para avaliar a contaminação de pescado com contaminantes de origem petrogênica.
O estudo evoluiu: com recursos liberados, o laboratório pode adquirir o equipamento realmente destinado ao uso científico. A cafeteira foi “aposentada”, mas a pesquisa ajudou Ana Paula a conquistar a passagem para o Brazil Conference.
Pesquisadora destaque
O processo para chegar ao Brazil Conference envolveu inscrição online, envio de vídeos e entrevista. De mais de mil inscritos, Ana e outros quatro pesquisadores foram para Boston participar da premiação.
— Essas conquistas representam uma mistura de orgulho, gratidão e uma sensação de responsabilidade ainda maior. Ver meu trabalho sendo reconhecido a nível internacional é incrivelmente gratificante. Isso valida não apenas os esforços que dediquei à minha pesquisa, mas também o potencial da pesquisa realizada em Santa Catarina. Destaca a qualidade do trabalho em nossas instituições de ensino e a importância de apoiar e investir na pesquisa em nossa região — comemora.
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