Normalmente, a indicação de um nome brasileiro ao Oscar, a maior premiação do cinema internacional, é motivo de comemoração e torcida de Norte a Sul do país: foi assim, por exemplo, nos anos 1990, com os nomeados na categoria de Melhor Filme Estrangeiro O Quatrilho (em 1996), O Que é Isso, Companheiro? (em 1998) e Central do Brasil (em 1999) – por este último, Fernanda Montenegro é até hoje celebrada, e com razão, por sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
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Mesmo nomeações de produções estrangeiras, mas que contam com brasileiros no time (como a animação A Era do Gelo, assinada por Carlos Saldanha, em 2003; ou o longa Diários de Motocicleta, em 2005, dirigido por Walter Salles), costumam fazer o público cruzar os dedos por aqui – vale tudo na vontade de gritar um "é do Brasil!" na hora em que os vencedores forem anunciados.
Não foi o que aconteceu, porém, com Democracia em Vertigem, da cineasta mineira Petra Costa, que neste ano está no páreo pelo troféu de Melhor Documentário: o filme, que busca narrar os fatos políticos acontecidos no Brasil desde as grandes manifestações de 2013 até a eleição do presidente Jair Bolsonaro, dividiu as plateias do país ao adotar um tom de crítica em relação ao atual governo e à queda do Partido dos Trabalhadores. Enquanto muitos comemoraram o reconhecimento da Academia, classificando a presença do documentário no Oscar como uma vitória da democracia e da verdade, outros procuraram apontar erros factuais no filme, comparando trechos a manchetes de jornais da época.
Independente da torcida – contra ou favor – de cada um, a disputa na categoria Melhor Documentário não será fácil: a produção da Netflix concorre com quatro filmes já premiados em festivais ao redor do mundo. É o caso, por exemplo, de American Factory, também da Netflix, que mostra o contraste da cultura norte-americana com a disciplina de trabalho da China, fortemente militarizada. O documentário ganhou dois Critics Choice e foi citado na lista de melhores filmes do ano do jornal The New York Times. Já Honeyland, produção da Macedônia do Norte, chega com um currículo ainda mais estrelado: o filme estreou em Sundance e ganhou três prêmios na competição, inclusive o de Melhor Documentário Internacional. A trama gira em torno da última caçadora de abelhas da Europa.
Os outros dois títulos, The Cave e For Sama, tratam da guerra na Síria: o primeiro, vencedor do prêmio do júri popular no Festival de Toronto, acompanha o trabalho de uma médica na cidade de Ghouta, que sofreu por anos com bombardeios. Já o segundo conta a história de Waad al-Kateab, que filmou durante cinco anos sua vida na cidade de Aleppo após a tomada pelos rebeldes; e conquistou quatro indicações no Bafta, considerado "o Oscar britânico".
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Em outras categorias, a competição já tem alguns favoritos. Cada vez mais, o drama de guerra 1917, do diretor Sam Mendes, desponta como forte candidato a grande vencedor da noite: o longa faturou os prêmios de Melhor Filme de Drama e Melhor Direção no Globo de Ouro, e foi eleito também o Melhor Filme na premiação do Sindicato dos Produtores de Hollywood, considerada um termômetro ainda melhor para o Oscar – dos últimos 30 ganhadores do Oscar de Melhor Filme, 21 levaram a estatueta do Sindicato dos Produtores na categoria; incluindo Beleza Americana, também de Sam Mendes, em 1999.
Com isso, Mendes também tem grandes chances de levar o prêmio de Melhor Direção; mesmo concorrendo contra gigantes, como Martin Scorsese (por O Irlandês) e Quentin Tarantino (por Era Uma Vez em… Hollywood). Chama atenção entre as indicações de Melhor Filme e Melhor Direção a presença do cineasta sul-coreano Bong Joon Ho e seu longa Parasita: considerado há meses vitória certa na categoria Melhor Filme Estrangeiro, Parasita superou as expectativas ao conseguir vagas nas principais categorias da noite. Ao levar o troféu de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Globo de Ouro, Bong Joon Ho já deu seu recado: "Quando superarmos a barreira de legendas, vocês vão conhecer muitos outros filmes incríveis", disse ele em seu discurso. Parasita levou também o prêmio de Melhor Elenco em Filme no SAG Awards, a cerimônia do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos.

A categoria de Melhor Ator tinha tudo para ser uma das mais disputadas deste ano: todos os concorrentes – Antonio Banderas (de Dor e Glória), Leonardo DiCaprio (Era Uma Vez em… Hollywood), Adam Driver (História de Um Casamento), Jonathan Pryce (Dois Papas) e Joaquin Phoenix (Coringa) – entregaram performances memoráveis; e a indicação de nenhum deles parece descabida. Outras atuações louváveis de 2020 (como a de Robert Pattinson no menos conhecido O Farol) podem, inclusive, ter ficado de fora por pura "falta de espaço".
Mas o fato é que Phoenix vem abocanhando todos os troféus nas premiações até aqui: foi eleito Melhor Ator em Filme de Drama no Globo de Ouro e Melhor Ator em Filme no SAG Awards. Se o favoritismo se confirmar, Phoenix será o segundo ator a levar um Oscar para casa ao interpretar o vilão das histórias de Batman: o primeiro foi Heath Ledger, em 2009, por Batman: O Cavaleiro das Trevas.
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Renée Zellweger, por sua vez, parece já estar com o troféu de Melhor Atriz em mãos depois de vencer nas categorias Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro e Melhor Atriz em Filme no SAG Awards: ela interpreta a atriz e cantora Judy Garland no filme Judy – Muito Além do Arco-Íris, confirmando o gosto das críticos por biografias e papéis que exigem transformações físicas.

Se depender das premiações anteriores, Scarlett Johansson, indicada a Melhor Atriz por História de um Casamento e Melhor Atriz Coadjuvante por Jojo Rabbit, deve sair da cerimônia de mãos vazias: na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, a favorita disparada é Laura Dern, também por História de Um Casamento – a artista já foi premiada no Globo de Ouro e no SAG Awards. Já entre os homens, o Melhor Ator Coadjuvante deve ser Brad Pitt, por Era Uma Vez em… Hollywood. Pitt garantiu os troféus nas cerimônias anteriores, em que o próprio filme de Tarantino também se saiu bem: foi nomeado Melhor Filme Musical ou Comédia e Melhor Roteiro no Globo de Ouro.
Entre os nomeados na categoria Melhor Filme de Animação, chama atenção uma ausência: Frozen 2, continuação do longa da Disney que não só foi indicado, mas levou a estatueta em 2014. Apesar do sucesso estrondoso nas bilheterias (a sequência bateu o recorde do original para se tornar a animação mais assistida de todos os tempos), Frozen 2 foi esnobado pelo Oscar, e apareceu apenas na categoria Melhor Canção Original, com Into The Unknown; ao lado de Toy Story 4 (I Can't Let You Throw Yourself Away), Rocketman (I'm Gonna Love Me Again), Breakthrough (I'm Standing With You) e Harriet (Stand Up). Concorrem ao prêmio de Melhor Animação Toy Story 4 (vencedor do SAG Awards na categoria), Como Treinar o Seu Dragão 3, I Lost My Body, Klaus e Link Perdido (vencedor do Globo de Ouro).
A cerimônia do Oscar 2020 acontece na noite do dia de fevereiro, domingo, com transmissão pela Globo e TNT.
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Nossas apostas
Abaixo, listamos as apostas do time de Cultura e Entretenimento da NSC para as principais categorias do Oscar 2020. Quer votar em quais você acha que serão os vencedores? Acesse a nossa enquete e dê sua opinião! Os filmes e artistas mais votados serão divulgados no site NSC Total no dia 7 de fevereiro, sexta-feira.
Melhor Filme – 1917
Melhor Direção – Sam Mendes (1917)
Melhor Ator – Joaquin Phoenix (Coringa)
Melhor Atriz – Renée Zellweger (Judy)
Melhor Ator Coadjuvante – Brad Pitt (Era Uma Vez em… Hollywood)
Melhor Atriz Coadjuvante – Laura Dern (História de Um Casamento)
Melhor Filme de Animação – Link Perdido
Melhor Documentário de Longa-Metragem – Honeyland
Melhor Filme Internacional – Parasita
Melhor Música Original – I'm Gonna Love Me Again (Rocketman)