O Brasil é um país que convive com a dificuldade de cumprir prazos de obras, mas a imagem do brasileiro está longe de corresponder à de alguém deitado na rede.

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A proximidade da Copa tem intensificado nos países cujas seleções participarão do certame a partir do dia 12 de junho a disseminação de uma série de recomendações para seus turistas que acompanharão os jogos nem sempre coerentes com a realidade. O Brasil é sim um país que convive com a dificuldade de cumprir prazos de obras, com a criminalidade, com problemas de infraestrutura, com desigualdade social, com doenças que já deveriam estar sob controle, com a insatisfação de parcela da população em relação aos gastos impostos pelo certame. Além disso, é visto preconceituosamente por outros países como paraíso sexual. Da mesma forma, a população tem suas peculiaridades, como a de saber aproveitar bem seus momentos de lazer, de curtir Carnaval e ter paixão pelo futebol.

A imagem do brasileiro, porém, está longe de corresponder à de alguém deitado na rede, como expôs recentemente uma publicação britânica. E, se a produtividade dos brasileiros no trabalho deixa mesmo a desejar, essa é uma questão que não se deve a razões culturais, como tem sido divulgado em outros países. Os brasileiros têm uma jornada oficial de trabalho superior à de muitas nações incluídas entre as potências europeias – e não poderia ser diferente numa economia que precisa gerar o suficiente para fazer o país avançar. Greves recentes no transporte coletivo reafirmaram que, mesmo sem condução, trabalhadores acostumados a perder até quatro horas dentro de um ônibus diariamente para se deslocar ao trabalho tentam de todas as formas não faltar ao serviço.

Se há problemas de produtividade, é porque ainda falta à mão de obra brasileira maior nível educacional, por conta de descasos históricos de governantes em relação a essa questão essencial. E é importante lembrar que a imensa maioria dos brasileiros não se omite de trabalhar mesmo arcando com uma carga de impostos que está entre as maiores do mundo, recebendo em troca serviços públicos caracterizados de maneira geral pela precariedade.

Além disso, o mais recente levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostra que, neste ano, os brasileiros precisarão trabalhar 151 dias -até 31 de maio, antevéspera da Copa – só para pagar impostos. A Copa não deve ser usada para enaltecer o país e sua população de forma ufanista e idealizada, ignorando suas mazelas. Ainda assim, constitui-se numa oportunidade para que os brasileiros, mesmo convivendo com dificuldades comuns a todos os povos, exibam suas qualidades, que são muitas. Uma delas, sem dúvida, é a de que, de maneira geral, é um povo trabalhador e cumpridor de seus deveres.

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