Carta de Don Graham, filho de Katharine Graham, ex-proprietária do jornal The Washington Post
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Todos,
Eu tenho um anúncio muito surpreendente. Nossa companhia está tornando público agora mesmo que nós vendemos The Washington Post para Jeff Bezos, o fundador da Amazon. Para deixar claro, o comprador não é a Amazon, mas uma companhia controlada pessoalmente por Jeff. O preço é de US$ 250 milhões, e o que nós estamos vendendo inclui os semanários chamados, por abreviação, The Gazettes e Robinson Terminal.
Isso me deixa com duas perguntas: por que estamos vendendo, e por que para Jeff? A primeira pergunta é a mais complicada.
Todos os Grahams nesta sala se sentiram orgulhosos ao saber desde que éramos muito pequenos que nós éramos parte da família proprietária do The Washington Post. Nós amávamos o jornal, aquilo que o título representava e os que o produziam.
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Mas o sentido do nosso controle sempre foi o que seria bom para o The Post. Como o negócio de jornais continua a trazer questões para as quais nós não temos respostas, Katharine e eu começamos a nos perguntar se nossa pequena empresa de capital aberto seguia sendo o melhor lar para o jornal. Nossas receitas tem declinado sucessivamente nos últimos sete anos. Nós inovamos e, para meu olhar crítico, nossas inovações tiveram bastante sucesso em audiência e em qualidade, mas não foram suficientes para reverter a redução de receita. Nossa resposta foi cortar custos, e nós sabemos que isso tem um limite. Nós estávamos certos de que o jornal iria sobreviver sob nosso controle, mas nós queremos mais do que isso. Nós queremos que prospere.
Don
Carta de Jeff Bezos, dono da Amazon e novo proprietário do jornal
Aos empregados do The Washington Post
Vocês todos ouviram as notícias, e muitos de vocês vão saudar com certo grau de apreensão. Quando uma só família é proprietária de uma companhia por muitas décadas, e quando aquela família age por todas essa décadas de boa-fé, baseada em princípios, em bons e maus tempos, como guardiã de importantes valores – quando essa família fez esse tão bom trabalho – é natural se preocupar com a mudança.
Então, deixem-me começar com algo crítico. Os valores do The Post não precisam mudar. O dever do jornal continua sendo com seus leitores, não com os interesses privados de seus proprietários. Nós vamos continuar a seguir a verdade, para onde quer que nos leve, e nós vamos trabalhar duro para não cometer erros. Quando nós cometermos, vamos confessá-los rápida e totalmente.
Eu não estarei comandando a operação diária do The Washigton Post. Eu vivo feliz na “outra Washington”, onde eu tenho um trabalho diário que eu amo. Além disso, The Post já tem um excelente time de líderes que sabe muito mais sobre os negócios do que eu, e eu estou extremamente grato a eles por concordarem em permanecer.
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É claro que haverá mudanças no The Post nos próximos anos. Isso é essencial e teria ocorrido com ou sem novos proprietários. A internet está transformando quase todos os elementos dos novos negócios: encurtando o ciclo de notícias, erodindo fontes de receita muito confiáveis e permitindo novas formas de concorrência, algumas das quais têm pouco ou nenhum custo de apuração de notícias. Não existe mapa, e desenhar o caminho a seguir não será fácil. Precisaremos inventar, o que significa que precisaremos experimentar. Nossa pedra de toque serão os leitores, entender sobre o que eles se interessam – governo, líderes locais, abertura de restaurantes, escoteiros, negócios, caridade, governadores, esportes – e retrabalhando a partir disso. Estou entusiasmado e otimista sobre a oportunidade para invenção.
Jornalismo tem um papel crítico em uma sociedade livre, e The Washington Post – como jornal da capital dos Estados Unidos -, é especialmente importante. Gostaria de destacar dois tipos de coragem que os Grahams mostraram como proprietários que eu espero canalizar. A primeira é a coragem para dizer ‘espere, esteja seguro, desacelere, busque outra fonte’. Pessoas de verdade e suas reputações, subsistência e famílias estão em jogo. A segunda é a coragem de dizer ‘siga na história, não importa o preço’. Embora eu espere que ninguém ameace colocar partes de meu corpo em um espremedor, se fizerem isso, graças ao exemplo de Mrs. Graham, estarei preparado. Quero dizer uma última coisa que não é sobre o jornal ou a mudança de propriedade. Eu tive o grande prazer de conhecer Don muito bem a mais de 10 anos. E não conheço homem melhor.