Quando os ponteiros do relógio marcam pontualmente meia-noite, é hora de pegar a estrada com os instrumentos musicais em mãos. Chegou o domingo de Páscoa e é preciso anunciá-lo. De casa em casa, os tradicionais Stüppen (“stibas”) acordam famílias para celebrar a Páscoa e a ressurreição de Cristo. É assim desde os tempos da colonização.
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E mesmo quase escassos, os raros “stibas” ainda mantêm as raízes germânicas, mais especificamente pomeranas, em cidades da região, como Blumenau e Pomerode. É o caso do padeiro Carlos Boldoan, 25 anos, e do irmão Eduardo, 12. Foi com o pai Dorival, 49, que eles se motivaram a continuar a levar alegria aos moradores da Vila Itoupava, em Blumenau, nas madrugadas do domingo de Páscoa.
Há 15 anos, Carlos começou a ser um “stiba” acompanhando o pai, que manteve a tradição durante 20 anos. Depois disso, não conseguiu mais deixar a preservação germânica. Observando os sons produzidos pelas mãos e voz do pai, aprendeu a tocar o acordeão que carrega no sereno da madrugada de Páscoa ao lado do irmão, que ajuda a embalar as serenatas de música alemã com o toque do pandeiro.
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Cuca e pão com linguiça
Para dar conta de atender as cerca de 30 a 40 casas num trajeto de cerca de 30 quilômetros percorrido de carro em cinco ruas da Vila Itoupava, em Blumenau, os irmãos Carlos e Eduardo optaram por começar as serenatas antes da meia-noite, às 22h30min, e seguem até o dia clarear, por volta das 7h. São tocadas três músicas em cada casa: uma para acordar os moradores, outra para apresentação dos “stibas” e a última de despedida. Se a família não acorda com os sons da segunda música, os “stibas” vão embora, o que raramente acontece.
Para agradecer a vinda dos stibas, os moradores oferecem comida típica como cuca e pão com linguiça, aperitivos e contribuições espontâneas em dinheiro para ajudar nos gastos do grupo. Carlos enfatiza que não é cobrado nada e que as pessoas ajudam por vontade própria. Em uma noite, ele e o grupo já chegaram a arrecadar R$ 800.
Saudade da visita dos “stibas”
Foram os comentários que evidenciavam a saudade dos pomerodenses em receber as serenatas dos “stibas” nas madrugadas dos domingos de Páscoa que motivaram o assistente de negócios de Tecnologia da Informação (TI) Peter Riemer, 20 anos, e o pai, o analista de negócios Adalbert, 42, a resgatar a tradição. Em 2009, junto com o tio e um amigo, eles começaram a tocar as músicas alemãs nas casas de familiares, vizinhos e amigos.
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A receptividade foi tão boa que não tiveram mais como parar de seguir a tradição. Hoje, junto com dois amigos, pai e filho visitam mais de 20 casas durante 15 minutos cada nos bairros Testo Alto, Testo Rega e Wunderwald, em Pomerode, num trajeto feito de carro e a pé nas residências próximas umas as outras.
Peter toca gaita (acordeão) e Adalbert fica com a percussão, acompanhado pelo amigo Sandro Lemke (Nino), 37 anos, metalúrgico. Também amigo da família, o assistente de planejamento Johann Ehlert, 20, completa o grupo com os sons do violão.
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