Era início da década de 1990. Quatro executivos jogavam golfe no recém-instalado Joinville Country Club (JCC).

Continua depois da publicidade

Um deles atuava no ramo da construção civil, outro era aposentado do setor bancário, o terceiro trabalhava em uma grande indústria do ramo plástico e o último, no ramo de hotelaria.

Entre uma tacada e outra, nascia ali a Atrio Hotéis S/A, empresa especializada no desenvolvimento, implantação e gerenciamento de hotéis de negócios e lazer para a região Sul.

Quem relembra o episódio é um dos idealizadores, Paulo Roberto Linzmeyer, atual presidente da rede Hotel 10.

– A Atrio nasceu de quatro amigos golfistas – sentencia o executivo.

Continua depois da publicidade

O golfe tem uma estreita relação com o mundo dos negócios. Grandes transações podem se desenvolver bem longe da sala de reuniões e isto explica por que a presença de um clube do esporte na cidade significa muito mais do que uma opção de lazer para a elite.

O presidente do JCC, Manuel Carlos Oliveira, explica que o campo costuma fazer parte da lista dos requisitos desejáveis para instalação de empresas internacionais na região e algumas compram o título patrimonial do JCC em nome da organização, com a indicação de um executivo para utilizá-lo.

O diretor de operações da Perville Construções, Emerson Edel, 41 anos, entende bem essa dinâmica. Seus clientes costumavam pedir informações sobre o campo, até que, dois anos e meio atrás, ele se associou ao clube para mostrar as instalações a seus parceiros de negócios.

– Empresas que vêm de outros países são muito ligadas ao golfe – observa o executivo, que acabou se identificando com o esporte, a ponto de colocá-lo entre as atividades importantes de seu projeto de vida.

Continua depois da publicidade

Rivais no campo, parceiros nos negócios

Os executivos Albano Schmidt (esq) e Paulo Linzmeyer treinam regularmente

No golfe, a pontuação não explica tudo o que acontece em uma partida. Dentro do campo, os adversários formam parcerias, tornam-se amigos e deixam transparecer comportamentos que não aparecem tão facilmente nos contatos empresariais.

Os praticantes, geralmente um grupo de até quatro pessoas, competem no vasto gramado de 300 mil m² do Joinville Country Club (JCC), interrompido por lagos, pedras, elevações e muitas árvores, que servem de obstáculos aos objetivos do atleta.

A cada tacada, a bola cai muitos metros à frente do ponto anterior, e é justamente na caminhada para ir ao encontro da bola que os adversários desenvolvem um qualificado networking.

– A conversa de negócio não tem pressa. Às vezes, nem se completa a frase, porque é preciso se concentrar para próxima tacada – diz o diretor de operações da Perville, Emerson Edel.

Continua depois da publicidade

Ao final da partida, os praticantes terão percorrido, em média, 8 km durante cerca de quatro horas. Muitos treinam todas as semanas e encontram o mesmo adversário repetidas vezes.

O teste do golfe

Um aspecto marcante desta modalidade é a capacidade de expor o praticante a situações que provocam reações nem sempre reveladas em eventos formais.

Por isso, organizações norte-americanas levam candidatos a vagas de executivo para o campo de golfe acompanhados de um psicólogo. O objetivo: observar se sabem administrar problemas.

Certa vez, o presidente da Termotécnica, Albano Schmidt, foi ao Joinville Country Club com um grande fornecedor, dias antes de uma negociação importante.

Continua depois da publicidade

– Durante a partida, percebi que ele ficava muito nervoso quando algo dava errado, batia com o taco no chão. Não conseguia se controlar. Isso me preparou melhor para sentar à mesa de negociação. Sabia que quando a conversa chegasse a um ponto estressante, ele poderia apelar, e me preparei para isso – conta.

Albano diz que o jogo requer muita técnica e concentração, o que o torna uma excelente oportunidade de conhecer como as pessoas lidam com a pressão, as adversidades, erros e acertos.

O empresário, acostumado a praticar atividades mais radicais, como esqui aquático e windsurf, hoje se diz viciado pelo esporte menos acelerado.

– O golfe ajudou a me conhecer melhor, lidar com as frustrações e as mudanças inesperadas de cenário, que fazem parte do jogo dos negócios e da vida – completa o executivo número um da Termotécnica.

Continua depois da publicidade

Para todas as idades

Para quem quer aprender o esporte, o professor Reginaldo Coelho de Souza, do Joinville Country Club (JCC), explica que o tempo médio para que um novato domine os movimentos e vá para o campo é de dez meses.

A empolgação do início pode levá-lo às compras antes da primeira aula, o que o professor considera um erro.

O taco pode variar de acordo com a força da tacada. Alguns batem mais forte na bola, outros menos, e o equipamento, explica Reginaldo, deve se ajustar a cada aluno.

Em suas aulas, de terça a domingo, ele fornece tudo o que o aluno precisa.

– Não é preciso força, somente técnica. O golfe é um esporte 80% mental – diz o professor.

Continua depois da publicidade

A coordenação motora, segundo ele, pode ser desenvolvida. Alguns alunos do JCC começaram a praticar golfe aos 50 anos.

A idade mínima para dar os primeiros passos é sete anos. Não há um biotipo definido. Reginaldo aposta naquelas crianças que demostram grande interesse e persistência, como Alexandre Barbosa da Silva, 13 anos.

Aluno do nono ano do ensino fundamental, Alexandre viaja de ônibus de Jaraguá do Sul para Joinville todas as semanas. Dorme na casa dos avós e treina das 8 às 18 horas, sábado e domingo.

O colega Luis Felipe Pujol,19 anos, conseguiu uma bolsa para estudar e treinar no Estado do Kansas, nos Estados Unidos, onde mora desde agosto.

Continua depois da publicidade

– O golfe não aparenta ser difícil até você tentar. Para chegar a um nível bom, é preciso muito tempo – ensina Luis Felipe.

O JCC prepara uma campanha para estimular o esporte entre crianças de sete e oito anos de idade. A ideia é formar grupos a partir de visitas a escolas de Joinville. E, claro, ao atrair as crianças, o clube acredita que acabará conquistando os pais também.