Em 55 anos, apenas duas edições dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) foram canceladas, e pelo mesmo motivo: enchente. Em 1983, os Jasc estavam programados para acontecer em Blumenau e em 2008 em Timbó, Pomerode e Rio dos Cedros. Nas duas vezes o Vale do Itajaí foi atingido por uma forte enchente que forçou a organização do evento a cancelar os Jogos. Em 2015, mais uma vez os Jasc estiveram perto de não acontecer e não é por causa de problemas climáticos. Irregularidades na transferência do dinheiro da Secretaria Estadual de Turismo, Cultura e Esporte (Sol) para a Associação dos Municípios do Meio-Oeste Catarinense (Ammoc), que faria o repasse às cidades, impediram que os investimentos chegassem a tempo para as cidades-sede deste ano – Joaçaba, Herval d?Oeste e Luzerna.
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Por ser uma entidade civil, a Ammoc não pode receber apoio financeiro do governo, como afirmou o Tribunal de Contas do Estado (TCE) em setembro. Assim, o repasse teve que acontecer através da Sol diretamente para as cidades, o que exige licitações para as obras. Por isso, a Comissão Central Organizadora (CCO) dos Jasc pediu que os Jogos fossem adiados para 9 a 18 de dezembro – antes estavam programados para 12 a 22 de novembro.
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– Sempre foi feito assim (através de associações dos municípios), mas isso não quer dizer que o processo esteja certo. O pessoal da CCO foi atrás de soluções, mas chegou um momento que eles disseram para nós que não teria prazo para as obras e solicitaram a transferência. Eu disse que isso seria um grande problema e que a única vantagem é que teríamos mais espaço nos colégios para alojamento. Mas pior que mudar a data é não fazer os Jogos. Eu acho que os Jasc ainda representam o carro-chefe dos eventos esportivos do Estado – explica o presidente da Fesporte, Osvaldo Juncklaus, que em 8 de novembro completa 60 dias no cargo (substituindo Marcelo Kowalski, que pediu exoneração do cargo por motivos de saúde).
Nova data obriga mudanças no planejamento de todos
A mudança da data dos Jogos Abertos implicou em um novo planejamento por parte dos atletas. Isso porque o auge da preparação, o pico de rendimento, estava previsto para novembro.
– O ideal não seria mudar, mas diante da complicação com o governo e o calendário tivemos que mudar a nossa preparação – garantiu Álvaro Provesi, coordenador técnico de Itajaí, atual campeã dos Jasc.
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Houve uma desaceleração do ritmo dos treinos neste mês, que será aumentado mais próximo dos Jogos. Porém, não é só isso que prejudica os municípios.
– O João Paulo, um atleta nosso de 18 anos, iria para os Jasc, mas terá seletiva para a seleção juvenil. Ainda bem que nossos atletas estão compromissados. Não creio que a mudança no treino vai influenciar o resultado – espera o técnico de judô de Itajaí, Fabiano Zambonetti.
Para alguns, as mudanças foram boas. Por exemplo, Blumenau poderá contar com a colecionadora de medalhas de Jasc e atual campeã Pan-Americana em grupos na ginástica rítmica Jessica Maier.
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– Foi ruim. Por outro lado, a Jessica vai poder vir. Em novembro ela estará com a seleção brasileira, já em dezembro estará livre – comemorou a técnica de Blumenau, Ana Paula Christen Mohr.
Obras na pista de BMX
Foto: Paulo Afonso Silva, Prefeitura de Joaçaba
OBRAS EM ANDAMENTO
Joaçaba, Luzerna e Herval d?Oeste correm para entregar no prazo as obras para a 55ª edição dos Jogos Abertos.
– As licitações estão andando, mas existe uma dificuldade com as pistas do atletismo, pelo curto prazo. A pista do BMX está praticamente pronta – explica Marcos Weiss, presidente CCO e vice-prefeito de Joaçaba.
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Apesar das adversidades, Weiss acredita que organizar os Jasc ainda traz muitas vantagens de infraestrutura para as cidades:
– Sem dúvida vale a pena, muito pelo legado do evento. Por exemplo, temos um campeão brasileiro de BMX de Joaçaba, o João Scalabrin. Ele sempre teve que treinar em outras cidades, agora poderá ficar aqui. Além disso, vamos implementar escolinhas da modalidade – completou Weiss. ?
Doulgas Brose, atleta do caratê
Foto: Geraldo de Paula, CBK
ATLETAS MOTIVADOS
Um coisa é indiscutível entre os atletas: a importância dos Jogos Abertos não diminuiu. Quem cresce em SC alimenta o sonho de ganhar os Jasc.
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– Os Jasc são um celeiro de atletas. É por ali que se descobre novos talentos. É um evento muito importante. É um primeiro passo para o atleta buscar participar dos jogos Sul-Americanos, Pan-Americanos e Olimpíada – analisa o multicampeão do caratê Douglas Brose.
O clima dos Jogos é algo que cativa os atletas do Estado.
– Por você ficar em alojamentos, fica mais próximo das outras modalidades. Você se envolve na competição e torce pela sua cidade – indica Jessica Maier, da ginástica rítmica de Blumenau.
Para os atletas, ainda tem a paixão por defender sua cidade.
– Defender sua cidade é muito legal. É algo que você vai alimentando desde a base – complementa Brose.
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Protesto pela permanência dos Jasc
Foto: Maykon Lammerhirt, BD, 19/08/2015
A BASE EM DESTAQUE
Os Jogos da Juventude Catarinense (Olesc) e os Jogos Escolares Paradesportivos de Santa Catarina (Parajesc) quase foram cancelados neste ano. O governo do Estado chegou a anunciar que eles não aconteceriam, mas depois da mobilização dos atletas, treinadores e dirigentes, a Fesporte voltou atrás e manteve a edição de 2015 das competições. Cada vez mais, Olesc e os Joguinhos Abertos de Santa Catarina ganham peso para a formação de atletas no Estado.
– No projeto que temos aqui em Itajaí várias crianças perguntam quando vão poder participar dos Joguinhos e Olesc. É uma grande expectativa – conta Mateus Almeida, atleta de judô de Itajaí que também é professor em um projeto para crianças carentes.
Apesar das dificuldades, o novo presidente da Fesporte quer organizar melhor o calendário para o próximo ano para garantir todas as competições.
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– Nós tivemos 225 municípios participando dos Joguinhos. Todos esses municípios proporcionam de alguma maneira esporte para as crianças. Mas precisamos avançar e focar nas escolas. As grandes potências olímpicas fazem isso – analisa o presidente da Fesporte, Osvaldo Juncklaus.
MUDANÇAS EM DISCUSSÃO
O ano de 2015 já foi conturbado para a organização dos Jasc e 2016 não promete ser simples, isso porque o investimento do governo deverá ser o mesmo ou menor, segundo a presidente do Conselho Estadual de Esporte, Michele de Souza Serejo. Na Fesporte e entre os atletas o tema não é discutido, mas sempre que os Jogos apresentam algum problema surgem sugestões de mudanças no formato dos Jasc, sendo disputados de dois em dois anos, por exemplo. Algo que é rechaçado por quem faz parte da organização dos Jogos Abertos.
– Os Jasc têm que continuar sendo anuais. Se for em dois em dois anos vai acabar com o esporte catarinense. Nenhuma cidade vai manter atleta por dois anos sem competição – acredita Fabiano Zambonetti, técnico de judô de Itajaí.
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Os contratos das cidades com os atletas é anual, esse seria um dos empecilhos para a mudança.
– Essa história de mudar o tempo de disputa se discute por causa da crise. Muitas cidades investem no esporte por causa dos Jasc e, se for de dois em dois anos, os municípios vão deixar de investir dinheiro no esporte nos anos que não tem competição – completou Michele.
O presidente da Fesporte, Osvaldo Juncklaus, defende mudanças no formato dos Jogos:
– A atenção para os Jasc mudou, mas os Jogos ainda têm glamour. O que acredito que pode mudar é diminuir o número de participantes em modalidades coletivas, por exemplo, para aumentar a qualidade do torneio, deixar o produto melhor.
Hugo Hoyama participou dos Jasc de 2009
Foto: Guto Kuerten, BD, 15/11/2009
JOGADORES “IMPORTADOS”
Uma grande discussão nos Jogos é a participação de atletas de fora do Estado contratados apenas para competir os Jasc, sem deixar um legado para a cidade.
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– SC é um Estado que se preocupa com isso, diferentemente do que a mídia fala. Está no regulamento. Nós temos prazos e quantidades para atletas de fora participar. Em algumas modalidades é permitido apenas um atleta em outras, dois. Não dá para abrir totalmente, como é em São Paulo onde qualquer um pode participar, – analisou Osvaldo Juncklaus, presidente da Fesporte.
Em 2009, Chapecó trouxe Hugo Hoyama, até hoje o caso mais famoso de atleta vindo de fora. Segundo Cleberson Silva, coordenador do tênis de mesa na cidade à época, a ideia não era pontuar com ele, e sim ser um atrativo de marketing,
– Deu muito certo, tivemos muito retorno de mídia. Algo inimaginável sem ele. Tivemos ginásio lotado em todos os jogos dele. Hugo também realizou palestras, oficinas e treinamentos com os alunos das escolinhas. Quadruplicamos o número de praticantes após a participação dele. De 60 para quase 250 – recorda Cleberson.
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