Maysa Cristina Fischer

Sócia-administradora de Fischer Advocacia e vice-presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Acij

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Parafraseando Vinícius de Moraes, os importadores e viajantes que me perdoem, mas exportar é fundamental. Este é o momento em que a indústria nacional, tão combalida pelos efeitos da desindustrialização e os malfeitos do governo, tem a oportunidade de tomar um fôlego no mercado internacional.

A balança comercial brasileira vem batendo recordes de déficit comercial, quando deveria ser o contrário. É de se aproveitar à exaustão os benefícios decorrentes da desvalorização do real, visando a neutralizar os danosos efeitos dos conhecidos entraves inibidores das vendas aos clientes transfronteiriços.

Segundo mapeamento da Confederação Nacional da Indústria em 2014, o principal gargalo apontado por 46,3% dos empresários entrevistados naquela época (quando US$ 1 equivalia a R$ 2,10) era a taxa cambial. Depois dela vinham a burocracia alfandegária, a carga tributária, greve nos portos, frete internacional, transporte interno e assim por diante.

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Esse é o momento de arregaçar as mangas e retomar os projetos de internacionalização, acreditando que o consumo externo pode fazer diferença na sustentabilidade do negócio, com ou sem crise brasileira. Ficar mirando o mercado doméstico, amargando os efeitos de uma economia em recessão, pode não ser uma decisão sábia. Afinal, permanecer na armadilha de acreditar que o consumo interno é suficiente para garantir competitividade e o crescimento do seu negócio já é coisa do passado.

Liberte-se disso e deixe a sua empresa alçar voo nesse momento propício, em que a cotação do dólar já deixou de ser um entrave, e aposte no mercado externo que aguarda pela aterrissagem dos seus produtos.

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Graciella Martignago

Consultora da Fiesc e professora da Unisul

Em 2015, temos significativa mudança no cenário econômico. Políticas restritivas, fiscais e monetárias geram contração da demanda interna. A perspectiva de crescimento vem do setor externo mediante a desvalorização do real. As empresas internacionalizadas passam a ter vantagem.

A crise dos países desenvolvidos pós-2008 gerou oportunidades de aquisições que foram aproveitadas por companhias de diversos segmentos. Estas empresas terão, agora, receitas em dólares e acesso a mercados com perspectiva de maior crescimento, caso dos EUA. As exportações de commodities enfrentam a queda de preços no mercado internacional e deixam de ser protagonistas da balança.

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Sob o aspecto macroeconômico, a desvalorização é uma pressão inflacionária. As empresas brasileiras ficaram por um longo período em um ambiente de câmbio valorizado e ampliaram as importações. Agora, esse impacto será repassado para preços e terá resposta do Banco Central, que consiste na elevação das taxas de juros. Do lado do setor produtivo, o ajuste já está aparecendo na tentativa das empresas de buscar fornecedores locais para os insumos adquiridos no mercado externo. O lado bom é que isto gera emprego e renda no mercado brasileiro, mas nos isola ainda mais das cadeias globais de valor.

O consumidor sente o aumento dos preços dos produtos importados (eletrônicos, químicos, confecções, automóveis) e a menor variedade na oferta de produtos nas redes varejistas. As viagens internacionais ficam mais caras e podem não ser substituídas pelas nacionais devido às restrições ao crescimento da renda e do emprego.

Quanto ao endividamento, os setores produtivos que captaram no mercado externo sentem o peso da desvalorização. Para quem usa cartão de crédito internacional, recomenda-se prudência, porque há mudança da política monetária dos EUA pela frente.