Há um ano a faixa de areia na Praia Central de Balneário Camboriú, no Litoral Norte catarinense, passou de 25 para 70 metros. A conclusão da megaobra ocorreu em 3 de dezembro de 2021, nove meses após o início dos trabalhos. Desde então, alguns episódios chamam a atenção no local, como os aparecimentos de “degraus” e a lagoas. O geólogo e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Juarês José Aumond também falou sobre a possibilidade de a água, com a elevação do nível do mar, passar por baixo do alargamento.
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– Essa água vai migrar subterraneamente até a área litorânea, onde está a cidade. Vai migrar nas bocas de lobo, nos sanitários mais baixos – declara.
Outro problema que pode ocorrer, segundo ele, é a salinização da água.
– Teremos um tratamento de água mais complicado – resume Aumond.
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Especialistas ouvidos pela reportagem também se preocupam com a influência da obra na flora e fauna da praia.
– Estamos mudando ecossistema marinho, começaram a aparecer tubarões – diz Aumond, ao se referir aos cerca de 30 animais vistos entre agosto e outubro de 2021, durante as obras.
O professor de ecologia e oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Horta diz que falta conhecimento sobre a real situação da biodiversidade do lugar.
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– A gente precisa identificar os sistemas que foram perdidos com o engordamento, toda a flora comprometida nos costões. Essas formações podem ser restauradas, isso ajuda que a vida retorne com mais velocidade. Não sabe qual o tamanho do comprometimento porque os estudos não tiveram a necessária abrangência para as áreas adjacentes – complementa Horta.
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Aumond explica que um dos fatores para a elevação do nível do mar é o aquecimento global:
– O CO2 (gás carbônico) é o grande provocador do efeito estufa. Mudanças climáticas sempre ocorreram e foram processos naturais. Nesses 4,5 milhões de anos da Terra, pela primeira vez uma única espécie está conseguindo mudar isso, provocando uma aceleração do aquecimento global.
Uma ação para aliviar esses problemas foi sugerida por Paulo Horta:
– Plantando restinga, marisma, vegetação que vai segurar a areia e vai absorver gás carbônico.
Essa solução, do plantio de restinga, é uma exigência do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) para dar o licenciamento ambiental para a obra de alargamento. Um projeto-piloto de plantio de mudas de restinga foi feito na Barra Sul no meio do ano para que se possa verificar como a vegetação vai se comportar ao longo do tempo.
A secretária municipal do Meio Ambiente, Maria Heloisa Lenzi, afirma que há 700 metros quadrados de plantio em 13 bolsões “para avaliar o desenvolvimento da restinga”. Foram plantadas quatro espécies: Ipomea pes-caprae (pé-de-cabra), Blutaparon portulacoides, Hydrocotyle bonariensis (erva-capitão) e Panicun racemosum (capim-das-dunas).
– Todas são espécies de restinga herbácea que não crescem mais do que alguns centímetros. As mudas estão se desenvolvendo bem e estão sendo monitoradas pela empresa responsável e pela Semam (Secretaria Municipal do Meio Ambiente). Sempre que necessário, estão sendo replantadas – diz a secretária.
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O plantio no restante da orla, porém, será feito após a reurbanização (veja mais informações abaixo) da Praia Central, confirmou a secretária.
Sobre estudos relacionados à biodiversidade, Maria Heloisa diz houve programa com monitoramento semanal na fase das obras e agora há alguns com periodicidade mensal e outros trimestral. Em relação à elevação do nível do mar, o gestor do Fundo de Outorga Onerosa de Transferência do Potencial Construtivo (FETPC) de Balneário Camboriú, Rubens Spernau, diz que o alargamento levou isso em conta.
– O projeto pegou os níveis máximos em 100 anos para definir isso, acima da maré a altura que protegeria a infraestrutura urbana, os prédios – declara Spernau.
Já a macrodrenagem foi citada por ele como uma forma de evitar que a água transborde nas bocas de lobo. Segundo o gestor do FETPC, não há conexão entre o mar e esse sistema.
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– Somos uma cidade costeira, com a maré alta vamos ter problemas com drenagem – afirma.
O objetivo da obra na macrodrenagem é dar mais vazão à água:
– O esgotamento da água da chuva vai para o rio Camboriú e a foz do canal do Marambaia, no lado Norte – complementa Spernau.

Projetos futuros
Segundo o gestor do Fundo de Outorga Onerosa de Transferência do Potencial Construtivo (FETPC) de Balneário Camboriú, Rubens Spernau, a obra está “estável”.
– Nós recriamos um espaço, um ambiente mais desejado por todos. De fato, a praia tem sido usada por banhistas, lazer, caminhadas. Está com muita vida. Estamos com um projeto de urbanização nos encaminhamentos finais, só adicional de macrodrenagem. Só temos um pequeno processo erosivo na região Sul, que já era previsto – diz Spernau, que também é engenheiro.
Spernau se refere ao “degrau”, chamado de escarpa, e a lagoa, que têm aparecido na Barra Sul desde março. O geólogo e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Juarês José Aumond diz que “esses degraus aparecem, vão desaparecer, vão aparecer, assim como essa lagoa, também vai aparecer, desaparecer. O mar tem a sua dinâmica, vai voltar e resgatar aquilo que é dela”.
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Spernau explica como os fenômenos ocorrem:
– É uma refração da onda. Bate no molhe e cria processo de movimentação forte de areia.
A prefeitura quer fazer um processo de estabilização desse processo, através da instalação de geotubos. Segundo o engenheiro e diretor de planejamento e gestão orçamentária do município, Toni Fausto Frainer, esses tubos são bolsas de grande volume de areia usados para conter o avanço da erosão.
Sobre quando isso será feito, Spernau afirma que o município aguarda autorização ambiental.

Nova obra à vista
O projeto de urbanização, que inclui a ampliação do calçadão na Avenida Atlântica, em frente à Praia Central, teve as primeiras imagens divulgadas logo após o término da obra, durante o evento de inauguração da temporada de verão passada na cidade, em 4 de dezembro de 2021.
Naquela ocasião, a previsão era de que as obras começassem neste ano. Porém, o gestor do Fundo de Outorga Onerosa de Transferência do Potencial Construtivo (FETPC) de Balneário Camboriú, Rubens Spernau, diz que faltam algumas etapas. O projeto, feito por uma empresa de arquitetura do Rio de Janeiro, ficou pronto em 19 de julho deste ano, segundo ele.
– Falta o projeto executivo final, não só parte de paisagismo, mas da infraestrutura, da drenagem até muros de limitação entre praia, microdrenagem, macrodrenagem. A gente deve estar recebendo isso até final de dezembro – afirma Spernau.
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Ele também diz, porém, que as obras devem começar depois do verão, já que é difícil fazer a obra durante a temporada. Spernau prevê o início dos trabalhos para abril e diz que a ideia é fazer, inicialmente, 350 metros do projeto para que se possa fazer uma avaliação:
– Não se pode fazer obra em toda a praia. Um trecho que você interdita, limita o acesso à praia, traz transtornos aos estabelecimentos comerciais, para os imóveis. Faz-se uma parte, libera e faz outra, para não criar transtornos – pondera.
Além disso, algumas etapas previstas para depois da obra de alargamento ainda não estão prontas. Entre elas, a ampliação do calçadão e o plantio de restinga, uma exigência do licenciamento ambiental da obra.