No comércio de artigos de roupas e de calçados, as coleções de inverno venderam pouco desde que começaram a aparecer nas lojas a partir do fim do abril. Isso é um problema e deve piorar com uma estação inteira de clima mais ameno.

Continua depois da publicidade

O que esperar de um inverno bipolar

Veja notícias sobre a previsão do tempo em SC

Como explica o assessor econômico da Fecomércio-SC, Luciano Córdova, a mensuração equivocada dos estoques, mesmo que por fenômenos que não são do controle dos empresários, gera custos adicionais, especialmente para aqueles empresários que se encontram enquadrados no sistema de substituição tributária, no qual o imposto já é cobrado antes mesmo da venda da mercadoria. Assim, a perda de receitas, e também do capital de giro do setor é agravada.

Continua depois da publicidade

A pesca artesanal é altamente impactada por um inverno ameno. Em tempo de safra da tainha, o calor atrapalha a vinda da espécie para o litoral catarinense. Há registro, por exemplo, de cardumes que ficaram a mais de 10 dias parados na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Sem frio e sem vento Sul, o deslocamento foi vagaroso e já apresentou problemas concretos à captura.

– Esperávamos, em todo o mês de maio e início de junho, capturar 200 toneladas de tainha. Computando o que foi pego em Balneário Rincão, Arroio do Silva nas últimas semanas chegamos a 110 toneladas – informa o presidente da Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesc), Ivo Silva.

Sem arriscar números, até porque a esperança é de que em julho e agosto o cenário melhore, o setor do vestuário projeta reduções significativas nas vendas – também com a “forcinha” da crise econômica. Esperamos melhorar a produção têxtil com o tempo mais frio a partir de agora, mas assim como a economia em geral, a recuperação das vendas será lenta, não existe milagre – pontua o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau, Ulrich Kuhn. Como alternativa, pelo menos até (e se) o frio permitir reaquecimento das vendas, muitas lojas anteciparam as tradicionais liquidações de queima de estoque.

Continua depois da publicidade

Vindo de um ano ruim, em que a falta do frio intenso e a proximidade com a Copa do Mundo fizeram com que os hotéis esvaziassem e os pontos turísticos sofressem uma acentuada queda de visitantes, a perspectiva para 2015 é bem melhor na Serra catarinense, apesar da previsão meteorológica dizer que o inverno não será tão rigoroso como em outros anos. Fatores como o número de feriados prolongados, a alta do dólar e os últimos dias de outono com temperaturas abaixo de zero animam o setor.

Na hotelaria, por exemplo, a taxa de ocupação até o final de julho beira os 100%.

– O turismo na Serra tem a previsão de crescer 15% em relação a 2014. Claro que isso está ligado a fatores como não ter uma Copa do Mundo e do câmbio, mas também a investimentos concretos em infraestrutura, hotelaria e divulgação. E hoje existem várias opções de turismo na Serra que não envolvem apenas o frio, geada ou neve. As vinícolas catarinenses estão crescendo e independem da temperatura, assim como passeios de 4×4 em Urubici e São Joaquim, passeio pelas culinárias e costumes dos que colonizaram aquela região – destaca o presidente da Santur Valdir Walendowski.

Na agricultura e pecuária, o inverno mais ameno, desde que não seja quente demais, é bem vindo para manter as plantações saudáveis. O problema maior é mesmo com os veranicos, em que há um “empate” na avaliação dos impactos. Por um lado, nenhuma cultura até agora necessitava de chuva no período e, portanto, não houve danos a essas colheitas com o tempo seco que SC teve em alguns dias nas últimas semanas. Da mesma forma, na pecuária o calor ajudou a recompor as pastagens que estavam muito úmidas com as precipitações dos meses anteriores. Os problemas se concentraram em produções como as de maçã e pêssego, em que a falta de frio acabou queimando etapas na colheita.

Continua depois da publicidade

– Chuva sempre é bem-vinda, mas os 10, 15 dias que ficou sem não impactou. Já no caso das maçãs, por exemplo, o calor do veranico fez com que a brotação começasse antes, quando o normal seria isso acontecer depois dela “dormir” no inverno. Como não havia frio, a natureza entendeu que o inverno já tinha passado – explica o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de SC, Enori Barbieri.

O turismo de sol e mar, que como o nome indica é típico do verão, é um dos grandes beneficiados com o inverno mais ameno – especialmente quando há predomínio de sol aliado às temperaturas um pouco acima da média. Em Balneário Camboriú, a expectativa é de atingir 50% na ocupação hoteleira, número considerado elevado para o período. Em 2014 a cidade recebeu mais de 200 mil visitantes e a estimativa é de um número ainda maior neste ano. O Corpus Christi foi um aperitivo, com o calor e o feriado enchendo as praias e os hotéis – que chegaram a expressivos 75% de lotação. Com gastronomia e comércio considerados atrativos na cidade em todas as épocas do ano e com eventos como o Festival Gastronômico Balneário Saboroso, organizado pelo Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau, o sol e o calorzinho de inverno, aos poucos, consolidam o destino turístico como independente de qualquer estação.

A indústria calçadista é uma das que mais sofre com os calores fora de época e com a perspectiva de um inverno ameno. Geralmente com coleções extremamente focadas na estação, em que as botas reinam absolutas, a dificuldade de se adaptar a mudanças repentinas é maior. A análise que se faz é que, mesmo com algumas ondas de ar frio previstas, o cenário pouco se altera.

Continua depois da publicidade

– É preciso um frio contínuo para despertar interesse por calçados como botas – explica o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Calçados de São João Batista, Rosenildo de Amorim.

Feita com antecedência para chegar às lojas a tempo, a produção ocorreu normalmente. A preocupação agora é dos lojistas, com o acúmulo nos estoques. A crise econômica também é apontada como agravante para esse panorama.

– Conversando com empresários, sentimos que o consumidor, que já estava fugindo das lojas por conta do cenário econômico, foge ainda mais em razão do calor – avalia Amorim.

Continua depois da publicidade