A semana se encerra com uma marca angustiante para Santa Catarina. O Estado somou mais de meio milhão de casos acumulados por contaminação de coronavírus. Até a última quarta-feira, dia 6, eram 5,4 mil vidas perdidas para a Covid-19. 

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Para especialistas ouvidos pela reportagem, consequência da forma como autoridades e parte dos catarinenses se colocam frente à pandemia. Incluindo-se a perda de liderança no controle da pandemia, a flexibilização de medidas e o comportamento negacionista.

– O Estado perdeu com a crise e perda da liderança do governo, situação causada por conflitos políticos e de gestão diante de denúncias de uso irregular de recursos, culminando na abertura de um processo de impeachment do governador Carlos Moisés – observa o radiologista Ademar José de Oliveira Paes Júnior, presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM).

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Falta comunicação clara

Apesar de reconhecer a realidade difícil, o presidente da ACM acredita que ainda seja possível algum enfrentamento. Para ele, é preciso uma comunicação proativa e integrada por parte do governo de Santa Catarina. Além disso, assegurar o maior acesso a testes eficientes, ágeis e seguros

– É preciso garantir a vacinação de todos os catarinenses – diz Paes Júnior.

Para o Conselho Regional de Enfermagem, o afrouxamento das regras sanitárias sem ouvir o Centro de Operações de Emergências em Saúde (COES) foi um erro grave:

– Faltou fortalecer uma unidade de comando para garantir medidas em todos os municípios – diz o enfermeiro Gelson Albuquerque, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC).

Nestes quase 11 meses de pandemia – de março do ano passado a este janeiro de 2021 – o Estado vivenciou pelo menos três momentos distintos, observa o professor Lauro Mattei, coordenador do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat) da UFSC.

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– Centenas dessas mortes ocorridas em Santa Catarina poderiam ter sido evitadas. Porém, para isso ocorrer é preciso que as autoridades tenham compromisso com a vida das pessoas – diz Mattei.

O professor da UFSC também cobra por uma comunicação clara, objetiva e sem contradições para que a população possa aderir às medidas a serem implementadas. Para ele, o governo cometeu um erro grave: passar a responsabilidade do controle da pandemia às administrações municipais. Mas, observa, foi nos meses de outubro e dezembro que o segundo pico de contaminação chegou com toda a força.

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– Este é o período que coincide com mudanças políticas (governador afastado por 30 dias e a vice-governadora assume interinamente) e que claramente são observadas mudanças na forma de intervenção do governo estadual no controle da pandemia. Houve flexibilização de algumas regras em vigor. Ao mesmo tempo Santa Cataria começou a ver grandes aglomerações, especialmente nos feriados.

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Para o professor, o resultado foi a explosão dos casos já em novembro. Em dezembro, tivemos 1.491 mortes, uma média de aproximadamente 50 óbitos ao dia. De acordo com Mattei, é exatamente neste terceiro momento que as autoridades governamentais abdicaram de dar continuidade ao controle da pandemia:

– No início de dezembro, já eram necessárias medidas restritivas por um período de 15 dias para fazer a curva de contágio cair expressivamente. Caso isso tivesse sido feito, certamente o Estado poderia ter uma temporada de verão menos dramática.

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Para o professor, teremos que conviver com a pandemia por um longo período. A longevidade desta situação vai depender do processo de vacinação da população. Enquanto isso, destaca que é preciso manter os cuidados sanitários básicos.

Onde acertamos e erramos

Como as entidades ouvidas pela reportagem avaliam a condução da pandemia em SC:

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Ademar José de Oliveira Paes Junior, presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM)

ACERTOS

– Nas medidas de distanciamento social adotadas no primeiro momento da pandemia, de forma a dar tempo para preparar o sistema de saúde no recebimento dos pacientes, com leitos, insumos, equipamentos de proteção individual (EPIs) e equipes.

– Criação e na habilitação de mais de mil leitos, junto ao governo federal.

– Em estabelecer parceria com entidades organizadas da sociedade na busca de soluções aos inúmeros e dinâmicos desafios da pandemia, como a Associação Catarinense de Medicina (ACM) e a Federação das Indústrias (Fiesc), entre outras, que puderam colaborar fortemente, com suas expertises e profissionais.

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ERROS

– Na crise e na perda da liderança do governo, causadas pelos conflitos políticos e de gestão diante de denúncias de uso irregular de recursos, culminados num pro0cesso de impeachment.

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– Na falta de uma comunicação assertiva, empática, clara, objetiva e transparente sobre a pandemia, junto à população, que foi se distanciando cada vez mais dos cuidados na transmissão da doença e na proteção pessoal e coletiva.

– Na falta de treinamento médico coordenado com equipes multiprofissionais em todo o Estado, para suprir demandas em picos de casos, com condições de aumentar o número de leitos, quando necessário.

– Na demora de ações de integração, especialmente entre o governo estadual e as prefeituras municipais, e entre as diversas soluções de inteligência de dados criadas para monitorar casos e acompanhar pacientes na rede básica e hospitalar.

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Gelson Albuquerque, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC)

ACERTOS

– Definição de estratégias de isolamento social e regramento das medidas sanitárias pelos municípios em março de 2020.

– Criação de um Centro de Operações de Emergências em Saúde (COES) com participação de órgãos do governo e entidades representativas, incluindo o Coren/SC como representação da enfermagem, que são 50% das equipes de saúde.

ERROS

– Na ausência do governo do Estado em implantar uma política de integração com os municípios, fortalecendo uma unidade de comando para garantir medidas em todo o Estado.

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– No afrouxamento das regras sanitárias sem ouvir o COES.

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Lauro Mattei, coordenador do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat) da UFSC

ACERTOS

– O governo do Estado tomou medidas adequadas no começo da pandemia (março, abril e maio), mesmo com números de contágio extremamente baixos.

ERROS

– Repasse da responsabilidade do controle da pandemia para as administrações municipais.

– Flexibilização de regras que estavam em vigor, permitindo aglomerações sociais.

– Autoridades governamentais abriram mão de dar continuidade ao controle da pandemia e, em dezembro, nada foi feito para preparar o Estado para a chegada do verão.

O que diz o governo do Estado

O governo de Santa Catarina está empenhado em garantir a vacinação para os catarinenses. O Plano Estadual de Vacinação contra a Covid-19 aponta as diretrizes para o trabalho de imunização. No documento está descrita toda a logística para a distribuição dos insumos pelo Estado, com a utilização de uma central e de 17 unidades regionais da Secretaria de Estado da Saúde. Estas, por sua vez, repassarão as doses aos municípios. O treinamento dos vacinadores está ocorrendo por meio de aulas em vídeo. Já há estoque suficiente de seringas e agulhas para iniciar a campanha de vacinação. Cabe ressaltar também que o Estado está alinhado com o plano nacional de imunização, em que a responsabilidade pela compra da vacina fica a cargo do Governo Federal.

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Desde o início da pandemia, o governo tem apontado as diretrizes gerais para a condução do combate à Covid-19 em Santa Catarina. Exemplo disso é a Matriz de Risco Regionalizada. A partir do mês de junho de 2020, as decisões passaram a ser compartilhadas com os municípios, em um modelo de parceria com as prefeituras, levando em consideração as diferentes realidades regionais. Esse compartilhamento das decisões foi um pedido das próprias entidades. Há, em SC, um modelo harmônico que tem garantido alguns dos melhores resultados no enfrentamento da pandemia no Brasil.

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Há um esforço por parte do Estado em garantir uma comunicação clara junto à população sobre as medidas de combate à Covid-19. Recentemente, teve início mais uma campanha publicitária com este objetivo, de reforçar os hábitos necessários para evitar a disseminação do vírus.

Em relação ao trabalho dos médicos, cabe ressaltar que, desde março, a Secretaria de Estado da Saúde faz treinamentos para o aperfeiçoamento do seu pessoal. Trata-se de uma das primeiras ações no enfrentamento da pandemia, que tem continuidade até hoje, e que, infelizmente, não contou com a participação das entidades.