Comer churrasco. Reencontrar a família. Visitar um parque. Ver pessoalmente um homem sem roupa. São desejos tão simples e até inusitados, que chegam a exalar genuinidade. E pedidos carregados de significados movem diariamente a vida da empresária blumenauense Adriana Constante. Ela se dedica a fazer acontecer a magia do Natal o ano inteiro. Não importa se é dezembro ou julho, quando o sonho vem do coração, uma rede de solidariedade é ativada para torná-lo real.

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– O projeto quer realizar o sonho do indivíduo, não importa a questão da classe social, porque sonhos são sonhos, independentemente da condição financeira. Um sonho não é necessariamente algo material, é do coração, da alma – argumenta ela.

A iniciativa criada por Adriana nasceu com o propósito de realizar o sonho que motiva a pessoa a viver, mas que por algum motivo seria difícil de acontecer. Por isso o nome “Sonho em Viver”. Ela escolheu asilos e abrigos para colocar a mão na massa. No meio do caminho, acabou incorporando ainda ações de Natal e Páscoa. Você já viu nas redes sociais idosos e crianças segurando plaquinhas com pedidos de presentes? Essa é uma parte do projeto.

A essência, porém, é descobrir o desejo mais íntimo da pessoa. Nessa jornada, surgem histórias carregadas de emoção e, por que não, de diversão. Em seis anos de trabalho já são mais de 5 mil sonhos realizados por uma legião de “padrinhos” de todo o Brasil, que topam materializar os pedidos. O primeiro deles, claro, tem lugar especial nas recordações de Adriana. E não é à toa: ela conseguiu reunir irmãs que não se viam há quase uma década.

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Dona Laíde, ao centro, com as irmãs Ivonete e Adelina (Foto: Arquivo pessoal da família)

Aos 80 anos, dona Laíde Vieira Coelho queria reencontrar as irmãs. Deu trabalho, mas em julho de 2016, lá estavam elas todas juntas novamente, no pátio da Casa São Simeão, onde a idosa vivia. Um vídeo mostra que ela chegou a nem reconhecer de imediato as visitantes especiais acompanhadas dos filhos. Era um encontro de família, como quando eram jovens.

– Ela riu tanto, foi a coisa mais linda. Não tenho nem palavras (para descrever). Depois ela agradeceu muito e disse: “Era um sonho que tinha dentro de mim, mas nunca falava” – recorda Maria Goreth Coelho Reis, filha de dona Laíde.

O sonho de dona Asta Sahm, também moradora da Casa São Simeão, era mais simples de tornar realidade. A lousa com escrita em giz pedia apenas por um churrasco. O que a senhora de cabelos branquinhos não esperava é que de quebra ganharia uma família do coração. A família de Márcia e Vilmar Mota adotou o “pedido” e levou Asta para o almoço especial. Criaram uma relação de carinho e hoje, sempre que a idosa quer, tem onde ir comer aquela carne assada. Ela aparece alegre nas fotos dos encontros, quando aproveita para tomar umas caipirinhas.

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Asta, na ponta da mesa, com a família que ganhou depois de pedir um churrasco de presente (Foto: Arquivo pessoal da família)

“Quero ver um homem pelado”

Imagine em uma conversa com uma senhorinha no auge dos 87 anos ouvir que o desejo dela é conhecer pessoalmente um índio. Aí você organiza tudo, leva a mulher até uma terra indígena e percebe que na verdade não era bem aquilo mesmo que ela queria. Isso aconteceu de verdade, e a continuação da história rendeu muitas gargalhadas à Adriana e às “madrinhas” do sonho.

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Dona Carmela precisou de muita coragem – e tempo – para contar que na verdade era virgem e queria mesmo era ver um homem sem roupas.– Perguntei para ela: de verdade que a senhora quer conhecer um homem pelado? E ela disse sim. Daí a gente conseguiu uma casa noturna em Balneário Camboriú. A equipe estava toda empolgada para levá-la, mas três dias depois dessa conversa, dona Carmela faleceu – recorda Adriana.

Um pedido especial

Se alguns sonhos marcam pela simplicidade, outros permanecem para sempre na memória pela grandeza, pelo pensar no próximo mesmo quando se está em um momento difícil. Jonatan lutava contra um câncer aos 17 anos quando o projeto “Sonho em Viver” cruzou o caminho dele. O desejo era visitar o parque Beto Carrero World, em Penha, com os irmãos. Tudo foi planejado, mas o garoto sentia que não teria como estar junto.

– Perguntei: “Você vai comigo na Big Tower?”. Ele disse: “Não sei se vou estar aqui para ir, quero que tu leves os meus irmãos, independentemente de eu estar aqui ou não”.  

Passada uma semana, o adolescente não resistiu à doença. O sonho ganhou outro significado a partir daquele momento e não deixou de acontecer porque Jonatan tinha partido. Passados os primeiros dias do luto, os irmãos embarcaram com Adriana rumo ao parque temático. Entre um brinquedo e outro, o que ela ouvia era “O nosso irmão está aqui com a gente”, relembra em meio às lágrimas.– No meio de cada edição tem várias questões que são tristes, alegres, mas esse é nosso propósito: realizar sonhos. E o que tiver de fazer para isso, a gente vai fazer – destaca a empresária.

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Sonho em Viver começou há seis anos e já realizou vários desejos de crianças e adultos (Foto: Patrick Rodrigues)

Natal o ano inteiro

Adriana criou uma rede do bem que atualmente está presente em seis cidades de Santa Catarina e em uma no Rio Grande do Sul. Ela não esconde a vontade de ampliar o projeto ou, quem sabe, inspirar outras pessoas a fazer o mesmo na cidade onde vivem. A missão é transformar vidas:

– As instituições não funcionam só no Natal. As pessoas não vivem só no Natal. Elas estão lá de janeiro a janeiro esperando alguém dar um abraço, um beijo, esperando alguém fazer o dinheiro do brigadeiro, o dia da pizza, esperando um carinho, um presente. Natal é o ano inteiro.