Não foram poucos os motivos que afastaram o blumenauense do transporte coletivo nos últimos anos. Greves, atrasos, ônibus danificados no começo do contrato emergencial. Há três meses, após um ano e meio de solução temporária, a vencedora da licitação Blumob começou a operar de forma definitiva na cidade. Mesmo assim, no primeiro trimestre de atuação da empresa, houve uma perda de 293.372 passageiros – média de 97,7 mil por mês – em comparação com o mesmo período de 2016.

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Mas o que continua afastando os usuários mesmo após o fim do período mais crítico do transporte coletivo e a chegada da concessionária definitiva com 100 novos ônibus? O diretor da Blumob em Blumenau, Maurício Garroti, frisa que a queda não é exclusividade de Blumenau, mas algo comum em todo o país, com índices que variam de 5% a 8%. Uma das razões seria o cenário econômico do Brasil, o número maior de pessoas desempregadas e a diminuição na circulação. A concorrência com novas opções, como a compra mais acessível de motos e aplicativos como o Uber, é outro fator.

No entanto, algumas peculiaridades do transporte coletivo local são citadas por quem acompanhou de perto os últimos episódios que agravaram o distanciamento de parte dos passageiros. O arquiteto e urbanista da Furb João Francisco Noll argumenta que os novos ônibus da frota são praticamente iguais aos que já operavam anteriormente na cidade. As estações de pré-embarque do Centro, espaços em que os passageiros esperavam o ônibus com um pouco mais de conforto e que hoje viraram pontos de ônibus comuns, seriam outras razões que trariam uma sensação de perda para o usuário do sistema segundo Noll, que defende até mesmo um subsídio do poder público para o transporte coletivo, como ocorre em países europeus.

O advogado Thiago Souza de Albuquerque, membro da Comissão de Mobilidade da OAB Blumenau, acompanhou de perto a elaboração do novo edital do transporte, e cita outras necessidades de melhorias para fazer com que os ônibus sejam opções mais atrativas para os blumenauenses. Alguns dos caminhos indicados são a volta dos ônibus seletivos (os vermelhinhos, mais tarde verdinhos) e também a necessidade de integração.

– A gente ainda não está falando de mobilidade. Não tem nenhum atrativo para a pessoa levar a bicicleta até um terminal e lá pegar um ônibus. Ou uma forma de alguém que precise ir do Terminal Proeb até a Fonte para depois seguir para o Aterro possa descer no Centro e pegar outro ônibus para o Aterro para encurtar o caminho sem precisar pagar outra passagem. O sistema precisa integrar – defende.

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Embora sejam formas de atrair mais usuários ao sistema, a preocupação é de que melhorias como essas impactem na tarifa, que tem reajuste previsto para dezembro e é considerado um dos principais motivos que fazem o usuário optar ou não pelo ônibus como forma de transporte.

Aposta é no aumento da velocidade média

Aumentar a velocidade média dos ônibus. Esse é o principal ponto para atrair mais usuários para o transporte coletivo segundo o diretor da Blumob Maurício Garroti. Ele lembra que reverter a queda de passageiros é um desafio que passa por uma política de mobilidade, algo que não acontece em curto prazo. No entanto, permitir que o passageiro chegue cada vez mais rápido ao destino é visto como a principal forma de aumentar o número de usuários de ônibus. E, para isso, os principais aliados são os corredores de exclusivos, uma grande unanimidade quando o assunto é transporte coletivo.

– Existem algumas políticas que a gente tem visto – criação de novos corredores em obras que estão sendo executadas –, que vão ajudar ainda mais nesse processo – pontua Garroti, que acrescenta novidades como frota monitorada e aplicativos para atrair os usuários.

A troca da frota que vai continuar nos próximos anos – com “agressividade”, segundo o diretor – é outra aposta da empresa para fidelizar quem segue usando ônibus e atrair quem não adere ao transporte coletivo. Segundo o presidente do Seterb, Carlos Lange, 19 novos ônibus chegam à cidade neste mês para continuar o processo de renovação da frota exigido no edital num prazo total de três anos. Dez já estavam na programação e nove tinham previsão de chegada no início do ano que vem, mas serão antecipados pela empresa.

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Lange cita ainda os novos terminais, em construção na Água Verde e na Itoupava Central, como formas de angariar usuários e aproximar a demanda do número mágico das planilhas do sistema – 2 milhões de passageiros ao mês que paguem a tarifa integral. A Blumob já antecipa que os próximos meses são considerados de baixa demanda em razão de férias coletivas de empresas e recesso escolar. Isso deve levar a empresa a uma escala especial de horários entre dezembro e janeiro. Mesmo assim, o presidente do Seterb acredita que o ano deve terminar com total de pessoas transportadas maior do que em 2016.

– Na medida em que vamos incorporando mais corredores exclusivos, em que há ganho de celeridade no deslocamento, reduzindo o tempo de viagem e também despesas, todo o sistema ganha – avalia Lange.