*Por Jane E. Brody
Em 20 de março, quando o governador de Nova York, Andrew Cuomo, ordenou o fechamento de negócios não essenciais, uma placa colorida apareceu na janela do consultório do meu dentista. Dizia: “Ainda estamos aqui para você! Ligue para nosso consultório se estiver com dor de dente ou com uma emergência.”
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Como tantos outros, o dr. Edward Lee, dentista geral, e seu irmão e sócio, o dr. Richard Lee, ortodontista, estão impossibilitados de atender seus pacientes com casos não urgentes durante os fechamentos impostos pela Covid, que visam achatar a crescente curva da pandemia em Nova York. Além de suas jovens famílias, eles contam com uma equipe de treze funcionários.
“Com exceção de dois funcionários, tivemos de afastar todos os outros da equipe, deixando-os na dependência do seguro-desemprego; caso contrário, não haveria uma empresa para a qual eles pudessem voltar quando fosse possível reabri-la”, disse Edward Lee.
Sua principal frustração: “Toda etapa do tratamento odontológico tem um nível de urgência. Problemas que foram adiados podem surgir. Se os pacientes estão com dor, já é tarde demais. Mas, enquanto os consultórios de podologia foram autorizados a ficar abertos, estão dizendo que não há problema em não ir ao dentista no momento.”
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Ainda que os dentistas possam discutir certas questões e receitar remédios por telefone, o atendimento odontológico geralmente é menos passível de ser realizado por telechamada do que o atendimento médico regular.
Pacientes como eu, que precisam de cuidados de rotina ou não urgentes, como uma limpeza semestral ou uma coroa para concluir um procedimento de implante, tiveram de esperar até que as restrições fossem removidas para ser atendidos por seu dentista de maneira pessoal e próxima.
Enquanto isso, como muitos outros dentistas, os irmãos Lee melhoraram seus equipamentos odontológicos, que já eram de alta qualidade, e mapearam as melhores práticas de segurança que esperam manter indefinidamente.
“A Covid-19 não vai desaparecer tão cedo, e essas medidas podem ajudar a proteger a nós e a nossos pacientes de qualquer outra coisa que possa surgir no futuro. Temos de nos comportar como se esse vírus sempre tivesse existido. Este é o novo normal”, comentou Lee.
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Na verdade, mesmo sem as medidas de proteção adicionais que esses dentistas implementaram depois que a pandemia atingiu Nova York com força, o risco para mim em suas imaculadas instalações teria sido mínimo. Em um consultório odontológico mantido adequadamente, os profissionais correm mais risco de se infectar do que os pacientes.
“Sempre fizemos muito em relação aos equipamentos de proteção individual e à limpeza do consultório, e agora estamos aprimorando o que já fazíamos para tornar o ambiente ainda mais seguro”, disse Lee. Depois de cada paciente, todas as superfícies do consultório são limpas com um produto químico que mata os vírus em um minuto. Os instrumentos são limpos em uma autoclave de primeira linha que aspira todo o ar e o líquido dos instrumentos e os esteriliza com alta temperatura e pressão antes de secá-los por completo, minimizando, assim, o risco de recontaminação.
Em 20 de maio, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças emitiu diretrizes atualizadas para os dentistas que se preparam para retomar o atendimento odontológico não emergencial, que incluem recomendações para o tratamento de pacientes com Covid-19 e pacientes sem o vírus. Tais estratégias são importantes, porque nenhum teste é cem por cento exato. Houve muitos falsos negativos para a Covid-19; portanto, mesmo que o resultado do meu teste fosse negativo no dia anterior à ida ao consultório, isso não garantiria que não tenho o vírus.
Os procedimentos odontológicos são especialmente desafiadores porque muitos envolvem o uso de sprays de água e de ar de alta pressão que podem espalhar pelo consultório aerossóis que contêm o vírus de um paciente. Lee sabe que as pessoas se preocupam com os aerossóis, e foi por isso que o consultório instalou um eficiente sistema de filtragem de partículas para manter o ar limpo e em movimento. Agora, os dentistas também estão usando um dispositivo especial para controlar os inevitáveis aerossóis durante os procedimentos odontológicos. Para a proteção dos profissionais contra os aerossóis, os higienistas dentais passaram a usar protetores faciais ao fazer limpeza de dentes, assim como os dentistas em determinadas circunstâncias.
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Os irmãos Lee também estão adotando medidas adicionais para proteger seus funcionários e suas famílias da Covid-19. Todos eles usam máscara, luvas e avental e, no fim do expediente, estes são deixados no escritório para higienização.
Ainda assim, esses dentistas estão entre muitos outros preocupados com os riscos para os pacientes que postergaram o atendimento odontológico durante os lockdowns impostos pela Covid. Um paciente que, em janeiro, tinha uma cárie que poderia ter sido tratada de forma simples pode ter agora uma área comprometida muito maior que requer um tratamento de canal mais caro e mais amplo ou até mesmo a remoção do dente e um implante.
Os pacientes que tiveram um dente extraído e estavam prontos para receber um implante quando a pandemia se iniciou e os consultórios dentários foram fechados podem ter perdido, durante o atraso, uma quantidade de osso suficiente para prejudicar o sucesso da cirurgia de implante. Ou se, como no meu caso, o implante já tivesse sido feito, os meses normais de cicatrização já tivessem passado e o paciente estivesse aguardando a colocação de uma coroa, os dentes ao redor poderiam ter migrado para o espaço vazio, deixando um espaço insuficiente para os dentes falsos.
Agora entendo por que o cirurgião-dentista de um amigo o aconselhou a fazer um implante no momento em que as infecções por Covid-19 atingiram o pico na cidade de Nova York. O procedimento, segundo meu amigo, foi realizado com extraordinária atenção à segurança e tudo correu bem.
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Um atraso no tratamento durante o lockdown das clínicas odontológicas é potencialmente mais grave para aqueles com doença periodontal moderada ou grave, que afeta um em cada vinte adultos que tem entre 20 e 64 anos.
As infecções na gengiva causam inflamação em todo o corpo, o que aumenta o risco de desenvolver doenças cardíacas e diabetes, as quais, por sua vez, aumentam o risco de adquirir uma infecção letal por coronavírus. Na verdade, a inflamação, por si só, já é um fator de risco para o desenvolvimento da Covid-19.
“Para os pacientes ortodônticos jovens, o tempo é vital. Um tratamento mais agressivo pode ser necessário, caso o tratamento seja adiado. Pacientes pediátricos podem ficar velhos demais para o tratamento e precisar de cirurgia na idade adulta”, explicou Lee, acrescentando: “Pessoalmente, eu estava confortável em reabrir o consultório no início de maio, mas esperei até o governador dar seu aval. Lidamos com o controle de infecções rotineiramente. Isso não é uma novidade para nós.”
Tanto no consultório odontológico quanto em outros lugares, há outra importante questão de segurança que preocupa a todos, especialmente as pessoas que já tiveram a Covid-19 e se recuperaram e as que foram testadas e apresentaram anticorpos para esse coronavírus. Nem uma infecção anterior nem a presença de anticorpos garantem proteção contra uma nova infecção de Covid. Ainda não se sabe quantos anticorpos são necessários para preveni-la, quão potentes os anticorpos devem ser ou quanto tempo tal proteção dura. Essas são as mesmas preocupações, ainda sem resposta, em relação à eficácia de qualquer futura vacina.
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