As fotos no computador mostram o momento da concretização de um sonho. Ivonei Dutra e Lisiane Giovanelli desejaram e planejaram a gravidez. Quando a gestação se confirmou, a felicidade foi em dose dupla. Vieram ao mundo Bryan e Julia. A gestação foi de risco e precisou de medicamento e muito repouso. Os bebês nasceram prematuros. Logo começaram a crescer e se desenvolver normalmente, contam os pais. Algumas dificuldades, como o atraso na fala, eram vistos pela família e pela pediatra como natural. Com o passar do tempo, outros comportamentos chamavam a atenção, como bater a cabeça com frequência na parede. Aos dois anos, quando os gêmeos entraram na creche, o alerta foi aceso. A diretora da unidade de ensino infantil chamou os pais para uma conversa que os levaria a buscar a confirmação de uma suspeita: o autismo.
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– Ela tem uma filha com esse diagnóstico e observou que eles tinham atitudes muito semelhantes, daí nos encaminhou ao Centro Municipal de Educação Alternativa e depois o médico confirmou o diagnóstico – conta a mãe.
Bryan e Julia fazem parte de um universo de quase dois milhões de pessoas no Brasil que têm autismo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças no mundo é afetada pelo autismo. Hoje é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. O objetivo é informar a comunidade sobre um transtorno que tem como principais características a dificuldade para interagir socialmente, deficiência na comunicação, hábitos e movimentos repetitivos e interesses restritos.
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Diagnóstico precoce e acesso aos tratamentos são desafios
Muitas dessas ações podem ser corrigidas ou ao menos atenuadas se o Transtorno do Espectro Autista for identificado de forma precoce, defende o neurologista infantil Kligiel da Rosa. Segundo ele, aos seis meses é possível observar alguns sinais e a recomendação é intervir com terapias, mesmo que ainda não haja confirmação. Para o especialista, que atua há 11 anos com crianças autistas, o tempo recomendável para o diagnóstico seria entre um ano e meio ou dois anos. A evolução ou regressão do estágio do paciente depende dos estímulos recebidos. Quanto mais cedo, maior a capacidade do cérebro de mudar, se adaptar e desenvolver novas conexões entre os neurônios.
O tratamento passa por um trabalho complexo, não há cura e os medicamentos são introduzidos para atenuar alguns comportamentos. Além disso, envolve uma série de profissionais, o que dificulta o atendimento aos autistas.
– É um tratamento caro para as condições econômicas do brasileiro, porque exige frequência nas terapias, que envolvem fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos. Além disso, há poucas opções de acesso pelo SUS – avalia o médico.
As palavras do neurologista infantil se enquadram no relato dos pais de Bryan e Julia. A esposa acaba de perder o emprego. O marido está encostado por problemas de saúde e é quem dá assistência aos pequenos na maior parte do tempo. Boa parte da renda da família é usada no tratamento das crianças.
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Método comportamental e esporte são alternativas no tratamento
Julia e Bryan receberam por um tempo atendimento na Associação Pedagógica Eurípedes Barsanulfo, no bairro Vorstadt, baseado em um dos métodos que têm eficiência científica comprovada no tratamento do autismo, a Análise Comportamental Aplicada, conhecida como ABA – que vem do inglês Applied Behavior Analysis. A terapia apresenta sucesso e tem atividades baseadas no treinamento de boas rotinas para o paciente e na recompensa para os comportamentos adequados.
A fonoaudióloga responsável pelo serviço oferecido aos gêmeos, Ana Paula Pamplona da Silva Müller, conta que neste sistema cada objetivo deve ser trabalhado no mínimo 20 vezes por dia, por isso a importância da participação da família, que deve repetir todas as atividades diariamente.
O trabalho precisou ser interrompido, segundo Ivonei, porque a profissional saiu de licença maternidade. A expectativa é que a partir dessa semana seja restabelecido. O diretor da entidade, André Lobe, conheceu a metodologia quando o filho foi diagnosticado com autismo e resolveu replicar o trabalho com famílias que não teriam condições de acessar o tratamento em razão do valor.
O filho de Lobe, Mateus, foi diagnosticado quando tinha um ano e oito meses. Com o trabalho intensivo feito, hoje o menino teve alta do tratamento. Além da ABA, o esporte também foi fundamental para a evolução do pequeno. O neurologista infantil, Kligiel da Rosa, considera a prática esportiva uma ferramenta positiva no processo dos autistas, principalmente como oportunidade de socialização. No paradesporto de Blumenau, por exemplo, são 90 alunos com autismo, divididos em cinco modalidades.
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Ávilla Ryan da Silva é um deles. O garoto foi diagnosticado aos sete anos, mas o tratamento começou quando ele ainda tinha três, conta a mãe Rosangela Gertrudes da Silva. O jovem com 16 anos atualmente é o caçula da família e desde cedo a mãe conta que percebeu algo diferente nele em relação aos demais filhos.
Foi aí que a família procurou um médico. O tratamento começou no Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil, com suporte gratuito de uma equipe multiprofissional. Mais tarde, quando foi à escola, o garoto contou com o suporte da Sala de Recurso Multifuncional, e há cinco anos ingressou também no Paradesporto Escolar. De lá para cá, já são mais de 50 medalhas conquistadas em provas de atletismo e judô na parede e muitos medicamentos a menos. A mais recente conquista foi a inclusão em um projeto de altas habilidades para atuar no setor de informática. A preocupação do diagnóstico deu lugar à confiança no coração da mãe.
– Não estamos sozinhos. Temos direitos nas áreas de assistência social, saúde, educação. Temos as leis para nos ajudar, mas é preciso buscar – pontua Rosangela.
PROGRAMAÇÃO
Entidades de Blumenau e Gaspar que apoiam o tratamento a autistas têm uma lista de ações a serem desenvolvidas nos próximos dias. Confira:
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Associação Amigos dos Autistas (AMA) Blumenau
Sexta-feira, às 19h – Palestra “A Vida após o autismo”, com a jornalista e escritora Andréa Werner, no Shopping Park Europeu. Entrada gratuita.
Sábado, entre 15h e 19h – Piquenique da Inclusão, na Rua Carlos Roesel, n° 111, na Itoupava Central, sem custo.
Dia 14 – Cinema Azul – valor e filme a definir.
Dia 26 – Jantar beneficente.
Associação Amigos dos Autistas (AMA) Gaspar
Hoje, às 18h30 – Acendimento da iluminação especial da figueira em azul na Praça Getúlio Vargas, marcando a abertura do mês de conscientização do autismo.
Quinta-feira, às 19h – Palestra Gatilhos para a Superação, com Marcos Petri, escritor e palestrante autista. Será na Câmara de Vereadores de Gaspar e a entrada é gratuita.
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Sábado, durante o dia – Distribuição de material informativo no Centro da cidade, venda de camisetas e artesanato, brincadeiras para as crianças e caminhada.