A corrida pelo governo de SC nas Eleições 2022 tem pelo menos quatro candidaturas no campo da direita representado por Jair Bolsonaro (PL), mas concorrência muito menor à esquerda. Décio Lima (PT) lidera a coligação do segmento que tem Lula como protagonista na disputa presidencial. Sem rivais diretos na luta pelos votos do ex-presidente, é de Décio o desafio de tentar associar a ele os votos dos eleitores lulistas de SC.

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A vinculação direta entre os votos de Lula e Décio, no entanto, não pode ser dada como certa. A primeira pesquisa Ipec, contratada pela NSC Comunicação para a eleição ao governo de SC e divulgada em 23 de agosto, mostrou o ex-presidente Lula com 25% das intenções de voto em SC. Mas Décio com apenas 6%, em quinto lugar entre os 10 candidatos ao governo do Estado.

Por enquanto, o percentual de largada de Décio é menos da metade dos votos que o petista fez em 2018. No pior ano do antipetismo, com Lula preso e a onda Bolsonaro varrendo o país, Décio foi o 4º colocado na disputa a governador e fez 12,8% dos votos. A diferença reforça a atenção da chapa petista às ações para atrair o voto lulista à candidatura de Décio.

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O gesto de associar o voto nacional e estadual não é automático e depende de estratégias. Em estados como o Rio Grande do Sul e Paraná, por exemplo, os candidatos petistas também têm patamares menores nas pesquisas do que a intenção de voto em Lula. No Paraná, Roberto Requião (PT) tem 24% na pesquisa Ipec local, contra 35% do ex-presidente no Estado. No Rio Grande do Sul, Lula soma 42%, enquanto o candidato petista Edegar Pretto tem 9%.

Em Santa Catarina, o histórico nem sempre mostra votação equivalente entre presidenciáveis e candidatos petistas ao governo. Nas últimas três eleições, a menor diferença foi quatro anos atrás, quando a votação de Décio foi próxima à de Haddad, que fez 15% no 1º turno no Estado. Em 2010, no entanto, Ideli Salvatti fez 21% dos votos para o governo, enquanto Dilma teve 38% em SC.

Na visão de apoiadores, o desafio de conquistar a vinculação dos votos da disputa presidencial poderia garantir a Décio a ida ao 2º turno. Mas parte do comando nacional da campanha defendia que Lula dedicasse o tempo ao Sudeste em vez de visitar SC. 

Décio Lima não quis responder à reportagem sobre a diferença entre as intenções de voto nele e em Lula e citou outros levantamentos que dão a ele números maiores na corrida pelo governo. A assessoria do candidato informou que a equipe não se pronunciará.

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No time da campanha do PT em SC a percepção também é de que a situação já é mais favorável e que o eleitor já percebe em Décio o “candidato de Lula”. Ex-senadora e líder do governo Lula no Congresso, Ideli Salvatti afirma que a campanha presidencial é a que tem mobilizado mais os eleitores e reconhece uma dificuldade de “pegar carona” neste engajamento:

— As pessoas querem saber da presidência da República. É isso que está dividindo, polarizando, motivando as pessoas a terem atenção ao processo eleitoral. Então, acho que ainda não conseguimos efetivamente engatar a questão nacional com a estadual.

O candidato ao Senado Dário Berger (PSB) também aponta que a campanha no país está centralizada nos dois candidatos à presidência e acredita que, na data da primeira pesquisa, “a campanha ainda não havia saído do chão”. Hoje, segundo ele, a condição já é mais favorável ao partido.

Acesse o Guia das Eleições 2022 do NSC Total 

As estratégias para engatar as campanhas

Para conseguir conectar esses votos, a campanha petista expõe algumas estratégias. A principal delas é a vinda do ex-presidente Lula a Santa Catarina, marcada para o próximo dia 18. Na visão de lideranças do partido, isso pode ajudar a atrelar a imagem de Décio e impulsionar as intenções de voto no embalo do ex-presidente da República.

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Outra aposta é na força da propaganda eleitoral em rádio e TV. A campanha de Décio Lima tem o segundo maior tempo, com 2 minutos e 12 segundos. O espaço tem sido utilizado para exibir vídeos de Lula declarando apoio a Décio, relembrar obras do ex-presidente em SC e o “passado de bonança” dos anos petistas. O próprio jingle do candidato tenta reforçar a dobradinha “Décio & Lula”. Os programas também tentam colar a imagem dos outros candidatos a Jair Bolsonaro, estratégia que Décio tem repetido também nos debates.

— Começou a veicular na televisão e o que sinto na rua é que agora a gente sabe quem são os candidatos de Lula e de Bolsonaro. O contexto é esse, vincular a candidatura Décio e Dário à de Lula — afirma José Fritsch (PT), ex-prefeito de Chapecó e candidato ao governo em 2002.

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O ex-deputado federal Cláudio Vignatti foi candidato ao governo do Estado pelo PT em 2014 e agora preside o PSB, partido que indicou a vice e o candidato ao Senado na chapa de Décio. Ele defende que a vinculação dos votos deve crescer devagar, ao longo da campanha, e afirma que o partido já trabalha com números mais favoráveis ao petista.

— Temos os programas de TV que as pessoas estão assistindo agora, as redes sociais e a vinda do Lula a Santa Catarina. Aí, fica muito claro quem são os candidatos do Lula. A presença dele no Estado bota a campanha para cima — aposta.

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O deputado federal Pedro Uczai (PT) afirma que os percentuais da primeira pesquisa são apenas “ponto de partida” e crê que novos levantamentos devem mostrar uma vinculação maior.

Ele diz que a divulgação de obras e ações de Lula em SC e do plano de governo de Décio devem ser as etapas seguintes da campanha para buscar o crescimento de Décio e Lula. Em contrapartida ao otimismo de algumas lideranças petistas, há outros fatores que podem dificultar um possível arranque da candidatura de Décio. Um deles é o fato de não ser tão conhecido em algumas regiões. Apesar de ter sido deputado federal por três mandatos, o petista é mais conhecido na região de Blumenau, onde foi prefeito por oito anos.

A presidente do PT de Chapecó, Ana Elsa Munarini, admite que enquanto Lula é figura mais reconhecida e está na memória dos eleitores, Décio exige uma divulgação maior porque “não é uma pessoa muito conhecida” no Oeste, por exemplo.

— A gente tem que levar muito mais a história do Décio para que as pessoas conheçam, enfim, a história dele para vincular com o Lula. A gente está sentindo isso na região, mas tem uma boa aceitação — avalia.

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PT tenta governar SC pela primeira vez

Décio Lima e Lula
Décio aposta em proximidade com Lula para vincular votos do ex-presidente em SC (Foto: Arquivo NSC)

O PT vive um momento de reconstrução no Estado, após anos difíceis enfrentados pelo partido no país com o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula. O partido nunca governou Santa Catarina. O mais próximo que chegou foi em uma eleição lembrada com nostalgia até hoje pelos líderes petistas.

Em 2002, sob a força da onda Lula, que chegava à presidência pela primeira vez, o partido elegeu Ideli Salvatti como senadora e quase chegou ao 2º turno na disputa para governador. O então candidato petista José Fritsch ficou de fora por menos de 3%, e o apoio de Lula no 2º turno foi fundamental para a vitória de Luiz Henrique da Silveira, do então PMDB.

O desempenho de 20 anos atrás faz petistas refutarem a tese de que SC é um estado conservador e que não abre espaço para o petismo. Ideli defende que o Estado tem dois polos, à esquerda e direita, e um grande miolo, que varia conforme as propostas e o clima eleitoral. É este grupo que o partido pretende capturar na disputa deste ano.

— Em 2002, o maior percentual de votos do Lula no primeiro turno foi em SC. Por quê? Porque em 2002 tinha uma conjuntura, uma onda que levou esse “miolão” para a candidatura do Lula. Em 2018, levou para o Bolsonaro. Agora, a gente trabalha na lógica de, no mínimo, dividir — conta a ex-senadora.

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De 2002 para cá, a legenda viveu altos e baixos no Estado. Chegou a comandar 47 prefeituras após a eleição de 2012 e passou pela direção de cinco das sete maiores cidades de SC: Joinville, Blumenau, Chapecó, Itajaí e Criciúma. Na última eleição, no entanto, elegeu 11 prefeitos, apenas o 7º desempenho entre os partidos. No número de filiados, viu o total de apoiadores voltar a crescer 8% entre 2018 e 2022, na esteira da recuperação do partido com o retorno de Lula ao cenário eleitoral. Hoje são 62 mil filiados, o 5º maior partido em SC.

Para 2022, o partido tentou deixar para trás o passado de isolamento e buscou abrir o arco de alianças. Trouxe aliados inesperados, mais ligados à centro-direita, como o ex-deputado Gelson Merísio (Solidariedade), coordenador da campanha, e o ex-emedebista Dário Berger (PSB), senador e candidato à reeleição. A chapa só não foi tão ampla quanto o esperado por causa do racha de última hora, que terminou com a saída do PDT e a candidatura isolada ao Senado do PSOL, arranhando a propagada “unidade” da esquerda de SC.

Agora, 20 anos depois da chegada de Lula à presidência e de o partido bater na trave na ida para o segundo turno em SC, o PT deposita esperança no retrospecto. Em mais uma eleição com Lula como um dos protagonistas, o partido tenta repetir a dobradinha de votos para crescer em uma eleição que tem as candidaturas da direita divididas. Um enorme desafio que se mostra maior ainda para Décio Lima e o PT depois das manifestações de apoio a Jair Bolsonaro nas comemorações dos 200 anos da Independência.

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“A associação é um efeito de urna”, diz especialista

O gesto de associar o voto nacional e estadual não é automático. O professor de Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Tiago Daher Padovezi Borges, afirma que a vinculação se processa a partir de informações que os eleitores têm e exige estratégias da campanha.

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Essas ações precisam identificar em pesquisas pontos como se os eleitores de Lula estão fora da faixa da esquerda ou se estão direcionando votos a outras candidaturas.

— Outra coisa importante é criar uma associação para que as pessoas façam isso na urna. O momento da urna é muito forte. Isso ficou muito claro nas últimas eleições, que teve o boom do partido em que Bolsonaro estava. É um efeito muito de urna, de última hora. E essa associação dos números também é importante — pontua o especialista.

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