Por Corinne Giely*
Escutando a monge zazen francesa Joshin contar durante uma palestra que o maior desafio na vida dela — durante um retiro fechado de vários anos dentro de um monastério — foi liderar outras pessoas da comunidade para manter o templo e as práticas de meditação, fiquei pensando no quanto a escuta e a comunicação impactam a harmonia da nossa vida pessoal, familiar e profissional.
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O terceiro workshop do programa internacional Springboard, focado em liderança feminina, é dedicado à prática da escuta ativa e de uma comunicação assertiva. Durante todo o curso incentivamos as mulheres a optar por uma liderança autêntica, cooperativa, colaborativa e empática.
Na última turma, 18 participantes se reuniram para refletir o porquê de as mulheres enfrentarem dificuldades em ser assertivas. As respostas são sempre chocantes: educação na infância que não estimula a expressão (já estamos fazendo nossa parte para mudar isso com a ONG Inspiring Girls), isolamento, brinquedos dedicado às tarefas domésticas, peso do passado da condição da mulher (como os anos de perseguição às mulheres livres durante a inquisição), sociedade patriarcal, pouca interação com jogos e esportes coletivos em comparação aos meninos, não saber dizer “não”, crença de que sempre deve ser gentil e servir em vez de se impor, medo de ser visível, entre várias outras.
Infelizmente, essas crenças limitantes bloqueiam inconscientemente a ascensão das mulheres a cargos de alta gestão. Menosprezando suas qualidades humanas e reforçando a baixa auto-estima, elas focam essencialmente em capacitações técnicas e estudos acadêmicos para compensar as limitações que acreditam existirem. Elas esquecem que as soft skills são as competências mais procuradas em líderes hoje em dia, como autoconfiança, escuta ativa, motivação de pessoas em um projeto e gerenciamento de conflitos, por exemplo.
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Conseguir expressar suas emoções, criar espaço para debater, ficar atento ao bem-estar dos colaboradores e cuidar do employee experience são critérios de seleção de líderes em multinacionais. Além da criatividade e inovação, as mulheres precisam ter consciência de que muitas dessas qualidades e critérios são natos nelas e, assim, não ter medo de expor sua vulnerabilidade e sensibilidade.
O tempo dos e das "chefes" acabou, estamos entrando numa nova era, procurando uma liderança autêntica, respeitosa e acolhedora. Cerca de 700 empresas assinaram o Pacto Global da ONU no Brasil para justamente cuidar para que os objetivos de desenvolvimento sustentável sejam respeitados fora e dentro da empresa. Isso é o sinal que a mudança já está acontecendo.
Lembro do quão realizada me senti quando a última multinacional onde trabalhei como líder de equipes entregou o prêmio do melhor time do ano, parabenizando o ambiente de trabalho da nossa equipe, que tinha resultados incríveis e era a única liderada por uma mulher.
O tema da diversidade já era super presente e importante. Mulheres líderes têm esse interesse de conviver em ambiente diverso e de recrutar pessoas de diferentes origens, orientações sexuais e com ou sem deficiência — porque já sabemos que a diferença é rica, ela gera criatividade e alimenta visões diversas sobre os serviços e produtos.
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Precisamos ser protagonistas, e não mais passivas ou invisíveis. Além da nossa profissão, temos que cumprir nossa missão de vida na sociedade! Assim que eu experimentei pessoalmente a liderança feminina, passei a acreditar que ela será a referência de liderança do futuro.
*Corinne Giely é consultora do Springboard Brasil e foi convidada pela Tech Power para escrever sobre sua experiência enquanto mulher no setor de tecnologia. A Tech Power é uma iniciativa que busca ampliar a participação e liderança feminina no setor tecnológico da Grande Florianópolis por meio da comunicação. O projeto foi criado por mulheres que trabalham na Dialetto, empresa de assessoria de imprensa e marketing digital especializada em tecnologia.