As evidências demonstram um futuro preocupante e exigem ações “para ontem”. Essa é uma das mensagens deixadas pelo “guardião planetário” Carlos Nobre durante a passagem dele por Blumenau. O renomado cientista — criador do Cemaden, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais — falou sobre “extremos climáticos e os desafios para a humanidade” em um evento na cidade nesta semana. Ele dividiu alguns dos conhecimentos adquiridos em mais de 40 anos de pesquisas; veja resumidamente abaixo.

Continua depois da publicidade

Clique aqui para receber as notícias do NSC Total pelo Canal do WhatsApp

Nobre tornou-se neste ano integrante do grupo Planetary Guardians, que reúne pesquisadores e ativistas em prol de estudos sobre ação climática e proteção de comunidades vulneráveis. Apesar de agora ter virado o primeiro brasileiro “guardião”, ele é referência internacional em clima e aquecimento global há muito mais tempo.

Dedicado às questões do “pulmão do mundo”, a floresta amazônica, liderou descobertas inéditas e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007 por conta do trabalho desenvolvido em equipe pelo IPCC (painel da ONU sobre mudanças climáticas).

Dono de termos que hoje são investigados por outros pesquisadores, como os rios voadores e a savanização da Amazônia, o cientista de currículo extenso compartilhou perspectivas importantes sobre o que pode ocorrer com Blumenau, Santa Catarina e todo o planeta nos próximos anos.

Continua depois da publicidade

Por que SC lida com tantos extremos climáticos?

Emergência climática

Nobre começou a palestra com uma atualização na definição de mudança climática, que para ele deve ser chamada de emergência climática. O planeta mudou em uma velocidade que a ciência ainda tenta entender e as comunidades enfrentam impactos que cabem melhor dentro do segundo termo. Uma unanimidade em relação a isso é que os causadores de toda a “bagunça” são os seres humanos.

Aquecimento desenfreado

As atividades humanas aceleraram o processo natural da terra de resfriamento e aquecimento. Há alguns anos, o alerta científico era claro: o planeta pode esquentar 1,5ºC até 2030. Essa temperatura já foi alcançada e agora a ciência aguarda 2025 para ter certeza dessa mudança de patamar. O próximo passo seria a elevação para 2ºC, o que precisa ser evitado ou as consequências serão catastróficas, com eventos extremos ainda mais frequentes e destrutivos, e o nível médio do mar podendo elevar até seis metros.

Ondas de calor

Quem mora no Sul do Brasil tem certo privilégio em relação ao tema, já que é a região mais fria do país, mas o fato é que as ondas de calor são os eventos extremos que mais matam no mundo. Os brasileiros têm experimentado dias escaldantes e quem mais sofre são os idosos e os bebês. Se as emissões de gás de efeito estufa não diminuírem e as florestas continuarem a ser devastadas, esses picos ficarão mais recorrentes.

Falta investimento

No dever de casa de todo o Brasil o pesquisador elenca uma medida que precisa ser revista: o investimento em conhecimento científico, principalmente de adaptação aos eventos extremos. É preciso aperfeiçoar os sistemas de previsão e alerta para que as populações tenham mais clareza sobre o que fazer nos momentos de crise.

Continua depois da publicidade

SC e o agro

Conforme o pesquisador, a maior contribuição de Santa Catarina para o aquecimento global está nas atividades do agronegócio, principalmente a pecuária. Então, mais que parar com o desmatamento para a criação de animais e plantações, é preciso pensar em maneiras sustentáveis de manter essas criações e a agricultura.

— A chamada agricultura regenerativa é um desafio gigantesco.

E as soluções?

A humanidade não pode deixar o aquecimento do planeta chegar aos 2ºC. Se as emissões de gases do efeito estufa estiverem quase zeradas, é possível permanecer no 1,5ºC, ainda que não seja o melhor dos cenários. Nobre apresentou soluções adotadas em diversos países para atingir esse objetivo e elas, sem surpresa alguma, envolvem a própria natureza. Restauração florestal impulsionada com a ajuda da tecnologia, extensas áreas verdes em meio à urbanização e respeito às matas nativas (que não devem ser destruídas para dar lugar a construções) estão na lista exaustivamente repetida pelos especialistas.

— Votem em candidatos que olhem para soluções sustentáveis. Precisamos criar mais “cidades verdes”. Em termos de Brasil temos muito pouco disso — lamentou.

Além das soluções baseadas na natureza — as chamadas cidades-esponjas —, Nobre ressaltou a necessidade de retirar as pessoas que vivem em áreas de altíssimo risco no Estado, como em morros e perto dos rios. Um investimento que pode salvar vidas — inclusive das futuras gerações — principalmente se atrelado às ações de mitigação aos eventos extremos.

Continua depois da publicidade

Leia mais

Leia o especial sobre mudanças climáticas: “E nós com isso?”