O mito do primeiro milhão, que inspira programas de televisão, filmes e vasta bibliografia de autoajuda, permeia o imaginário do brasileiro. É o prazer de se dizer milionário, desfrutar de um espaço VIP ocupado por pouco mais de 0,1% da população do país, conforme dados do banco Credit Suisse.

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Uma meta cabalística, que dá ideia de segurança, sucesso profissional – ou luxo, como a que movia o personagem de Selton Mello no filme Meu Nome Não é Johnny: “A minha (meta) é torrar US$ 1 milhão”, respondia a um austero negociador.

– Mesmo que o R$ 1 milhão de hoje não seja o mesmo de 20 anos atrás, em razão da inflação, ainda representa conforto e uma vida sem restrições – aponta o consultor financeiro Mauro Calil.

Com 25 anos, Flávio de Oliveira pensa grande: quer ser milionário. Não apenas quer, como moldou sua vida para alcançar a meta. Dispensa convite de amigos para happy hour, só vai ao cinema durante a semana e guarda religiosamente 20% do salário. Até adia a saída da casa da mãe para não gastar com aluguel ou financiamento.

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Hábil com números, passou a ganhar dinheiro prestando assessoria de investimento. O primeiro milhão, curiosamente, não significa mais do que um marco: Flávio quer guardar R$ 6 milhões até a aposentadoria, o que, calcula, vai garantir uma vida tranquilíssima no futuro. Perguntado se vai se dar ao luxo de trocar de carro ou fazer uma viagem quando chegar ao primeiro objetivo, Flávio é direto:

– Longe disso. No máximo, um jantarzinho com a família.

Curioso é que todo mundo ganha na Mega Sena pelo menos uma vez na vida, mas jamais vê a cor do dinheiro. Colocado na ponta do lápis, surpreende o quanto uma pessoa pode acumular com seu trabalho, embora sejam poucos que sentem, de fato, o gostinho de ser milionário.

– Um casal que ganha R$ 5 mil por mês, acumula R$ 17 milhões em 35 anos, contabilizando os rendimentos. Mas, não raro, vive sem dinheiro. Ora, alguém está tomando de você esses R$ 17 milhões, e você precisa saber quem – diz o consultor de finanças pessoais Augusto Saboia.

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Segundo o especialista, desperdiçamos as chances de nos tornarmos ricos ao longo da vida. A chave não é fazer entrar mais dinheiro, mas impedir que ele seja jogado fora.

Se estiver disposto a acelerar a busca pelo milhão, o poupador pode assumir uma dose maior de risco. O caminho é dedicar fatia generosa de seu dinheiro ao mercado de capitais, analisando empresas com maior potencial de crescimento, e manter sangue frio diante da montanha-russa da bolsa de valores.

– Os investimentos mais agressivos são indicados aos jovens, que têm tempo para recuperar eventuais perdas e ainda não possuem tantos custos – aponta Eduardo Glitz, diretor de produtos da XP Investimentos.

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Para quem se aventurar na bolsa de valores, é importante reinvestir os rendimentos e buscar uma carteira de ações variada (composta por papéis de grandes e pequenas empresas, com alto potencial de ganho). É recomendável manter parte das aplicações na renda fixa (pelo menos de 40% do patrimônio financeiro), para dar alguma segurança para situações de emergência.

O maior sacrifício é deixar de lado os pequenos prazeres do dia a dia – como aquele chope com os amigos no final do expediente e restaurantes caros com a namorada – para acumular patrimônio. Jovens que fazem essa escolha estão convencidos que R$ 1 milhão na conta traz conforto e perspectivas invejáveis.

Correndo por fora

Dedicar parte da renda para mestrado, doutorado e MBAs pode acelerar o caminho para o R$ 1 milhão, apressando o crescimento profissional. Pesquisas mostram que cada ano de estudo se reverte em um aumento salarial de 15%. Ou seja, é vantajoso dedicar parte do rendimento à qualificação profissional.

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O poupador que sempre guarda uma parte do salário pode chegar longe, principalmente se engordar as economias com bonificações e rendas extras. O objetivo do poupador de meia idade pode ser a compra de uma casa nova ou a abertura de um novo negócio, por exemplo, que o permita demitir o patrão.

– O importante é saber exatamente em quanto tempo se quer chegar ao primeiro milhão e qual quantia se consegue guardar a cada mês. O passo seguinte é encontrar as aplicações que conduzam a esse objetivo – afirma o educador financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro.

Quanto mais se economiza no dia a dia, mais se consegue guardar, lembra Calil. Por isso, recomenda-se colocar todos os gastos no papel e reduzir cada um de 10% a 15%. Se o gasto com roupas e calçados for de R$ 300 por mês, por exemplo, e for cortado em 10%, a economia em um ano será de R$ 360. Se a regra for replicada para outras despesas, o resultado será uma poupança cada vez mais gorda.

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Especialistas recomendam diversificar as aplicações: colocar 20% em renda variável e 80% em renda fixa, como CDBs (que ficam atraentes quando pagam mais de 95% da taxa DI, o equivalente a 10,2% ao ano), títulos do Tesouro Direto e fundos de investimento com baixas taxas de administração (abaixo de 1%).

Correndo por fora

Uma forma de acelerar é buscar investimentos imobiliários, analisando com atenção a construção em bairros mais prósperos, comprando na planta e revendendo em seguida. Um apartamento em construção pode custar 40% abaixo de seu valor quando estiver pronto. Isso equivale ao rendimento de quatro anos em renda fixa.

Acumular R$ 1 milhão e deixá-lo na poupança pode trazer rendimento mensal superior a R$ 5 mil, aposentadoria relativamente confortável. A poupança deve ser feita em doses homeopáticas desde muito cedo, ou com aplicações mais altas depois dos 40 anos. Para ambos os casos, a disciplina é a regra número 1: como o prazo é longo, serão muitas as tentações de mexer na poupança.

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– A recomendação é ter outro canal para guardar dinheiro para casa própria ou faculdade dos filhos, dispensando o risco de colocar a mão na poupança do milhão – sugere o consultor financeiro Augusto Saboia.

Outra sugestão é turbinar a busca por receitas adicionais ao longo da vida: estar atento às oportunidades no mercado imobiliário, criar empresas ou franquias em setores em expansão e fugir do endividamento.

No mercado financeiro, as aplicações mais indicadas são os títulos de Tesouro Direto, que ficam atraentes em prazos mais longos. As Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B), por exemplo, pagam IPCA mais um juro fixo ao ano, que fica maior quanto mais longo for o tempo. Muitas vezes, o Tesouro Direto leva vantagem sobre a previdência privada, pois dispensa taxas de carregamento e de administração.

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Correndo por fora

Planejar e tocar uma empresa pode ser um trampolim para o rendimento. O gerente de Comércio e Serviços do Sebrae-RS, Augusto do Rego Martinenco, afirma que é preciso traçar um bom plano de negócios e buscar setores pouco explorados para criar uma empresa rentável. Boas oportunidades estão em startups, que, se bem-sucedidas, têm imenso potencial de crescimento. Quando houver oportunidade, o empreendedor deve buscar sócios ou empréstimos.

Economia mensal x tempo para acumular R$ 1 milhão

R$ 200 = 41 anos

R$ 500 = 31 anos

R$ 1.000 = 24 anos

R$ 5.000 = 10 anos

R$ 10.000 = 6 anos

Caminho das pedras

-Em fundos de renda fixa, negocie taxas de administração inferiores a 1,5% ao ano. Lembre-se que, quanto menor a taxa, mais rápido o dinheiro cresce.

-Os CDBs costumam ser vantajosos quando pagam mais de 95% de DI, suficiente para cobrir Imposto de Renda e superar a inflação.

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-As opções mais indicadas para longo prazo são os títulos do Tesouro Direto. Mas certifique-se de que não precisará sacar o dinheiro antes do fim do prazo.

– Com uma inflação acima de 6%, a poupança só consegue superar a alta de preços se a TR for superior a 0,1%.

– Investir em planos de previdência privada nem sempre vale a pena. É preciso avaliar as taxas de carregamento e administração. Quando passam de 4%, corroem fatias gordas da aplicação.

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– Bolsa é para quem tem coração forte. Embora seja focado no longo prazo, o Ibovespa não tem conseguido bater a renda fixa, por exemplo.